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Copom mantém juros em 13,75% e sinaliza fim do ciclo de alta

Comitê de política monetária do Banco Central vai manter a taxa básica de juros em patamar alto por mais tempo para enquadrar a inflação na meta

Copom juros

O arrefecimento dos preços, com dois meses seguidos de deflação, permitiu ao Copom decidir pela manutenção da Selic | Foto: Getty Images

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central do Brasil (BC) decidi pela manutenção da taxa básica de juros (Selic), em 13,75% na reunião desta quarta-feira, 21. Além disso, o órgão sinalizou o fim do ciclo de alta dos juros iniciado em 2021. O arrefecimento dos preços neste ano, com dois meses seguidos de deflação, foram fundamentais para a decisão. Confira a íntegra do comunicado aqui. Em agosto, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de -0,36%, segundo mês seguido de deflação.

A queda foi menos intensa do que a registrada em julho (-0,68%), quando a taxa foi a menor desde o início da série histórica da pesquisa, em janeiro de 1980. No ano, a inflação acumulada é de 4,39% e, nos últimos 12 meses, de 8,73%. A inflação acumulada em 12 meses, no entanto, ainda está acima da meta estabelecida pelo Banco Central para este ano. Para 2022, a meta para o IPCA foi fixada em 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. Dessa forma, a inflação poderia ficar entre 2% e 5% neste ano.

Segundo comunicado do BC, o Comitê ressalta que, há ainda uma maior persistência das pressões inflacionárias globais e uma incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos. “O Comitê avalia que a conjuntura, ainda particularmente incerta e volátil, requer serenidade na avaliação dos riscos”. diz o documento.

Para Rodrigo Cohen, analista de investimentos da Escola de Investimentos, o mercado mundial ainda está instável e o BC pode mudar a rota, caso algo abale a economia global.

“Existe um consenso de que a Selic neste patamar deve se estender para até meados de 2023 e, ai sim, começar o ciclo de baixa”, disse Cohen.

O Copom reafirmou, no comunicado, que se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. “O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, informa.

Para Camila Abdelmack, economista chefe da Veedha Investimentos, o ciclo de baixa da Selic não deve acontecer tão cedo. Segundo ela, a manutenção da taxa já era esperada pelo mercado, pois, na já havia uma orientação neste sentido e há duas semanas, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reafirmou esta tendência e disse que o órgão estava aberto a um ajuste residual.

“Acredito que a Selic pode entrar em um ciclo de baixa a partir do segundo trimestre do próximo ano”, disse Abdelmack. “Pela pesquisa Focus, a expectativa para 2023 é de juros de 11,25% ao ano.”

Já Piter Carvalho, da Valor Investimentos, também disse que o BC deve deixar uma “carta na manga”, caso se necessite mais uma elevação dos juros ao longo do ano.

Segundo ele, mesmo com a indicação de que a inflação para 2024 já tenha se aproximado da meta de 3% – de acordo com a Focus, os preços devem subir 3,50%- há ainda um risco fiscal grande, o que pode fazer com que o BC eleve mais uma vez a taxa de juros.

“Pelo menos nos números o resultado em 2024 já foi garantido, mas ainda tem o risco fiscal muito grande, o governo já acabou o teto de gastos”, disse Carvalho. “O BC fez o seu trabalho, mas o governo tem que cuidar da outra parte.”

Carvalho ressaltou que a injeção de dinheiro na economia com a redução temporária de impostos sobre combustíveis e energia, que causou o rompimento do teto, pode aumentar a inflação mais adiante. “Essa política que o governo adotou vai na contramão do aperto monetário que o BC faz.”

Segundo o economista, a deflação vista nos dois últimos meses e que balizou a manutenção da Selic, é “fictícia”. “O pobre não vê essa queda da inflação, os alimentos continuam subindo. Além disso, o núcleo do IPCA é muito dissipado e boa parte é importado. Com o dólar subindo, os preços devem disparar”, ressaltou Carvalho.

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