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Entenda a diferença entre deflação e desinflação

Desinflação é o processo de queda nas projeções de inflação, enquanto deflação é a queda generalizada de preços que pesam na inflação

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Juros em 13,75% tendem a manter cenário de desinflação nos próximos meses, segundo o Banco Safra | Foto: Getty Images

Com a alta dos juros, os indicadores divulgados recentemente confirmam um cenário de baixo crescimento da economia brasileira em 2023. Isso está causando um processo de desinflação, ou seja, de queda nas expectativas e projeções da inflação futura. Atualmente a taxa básica de juros (taxa Selic) está em 13,75% ao ano.

A queda da atividade econômica pode causar também o fenômeno da deflação, ou queda generalizada de preços de bens e serviços. Confira abaixo as definições técnicas e as diferenças entre desinflação e deflação, segundo o Dicionário de Economia do economista e professor Paulo Sandroni.

Desinflação

Remoção de pressões inflacionárias da economia, visando a manter o valor da unidade monetária. A desinflação é obtida por meio da restrição direta da expansão do consumo, pelo controle das vendas a prazo, pelo superávit orçamentário, pela elevação da taxa de juros, pela restrição do crédito e por outras medidas que exerçam controle sobre os gastos custeados por empréstimos.

Essas medidas não pretendem reverter o processo inflacionário provocando súbitas baixas de preços, fazendo perder quem se beneficiava com a inflação e ganhar quem perdia com ela. Visam simplesmente corrigir e limitar os aspectos prejudiciais da inflação em termos macroeconômicos.

Existem pelo menos duas dificuldades operacionais para a implantação de políticas desinflacionarias: durante determinado tempo, essas medidas tendem a reduzir a quantidade de empregos a um nível muito abaixo do politicamente aceitável; além disso, quando as medidas desinflacionarias adotadas pelo governo são muito violentas, podem provocar a deflação.

A necessidade de medidas desinflacionarias pode ser atenuada, sob o ângulo da oferta, na proporção em que a produtividade da economia aumenta. Por outro lado, a redução da procura monetária total é consequência do aumento nas poupanças privadas, do aumento relativo da tributação em comparação com os gastos governamentais, de medidas específicas visando a reduzir os gastos em consumo e em investimento, e da redução das despesas governamentais para que se situem em nível abaixo ao da arrecadação.

Deflação

Queda persistente do nível geral de preços, o oposto da inflação. Caracteriza-se pela baixa oferta de moeda em relação à oferta de bens e serviços ou pela queda na demanda agregada (associada, por exemplo, a um maior índice de poupança).

Esse excesso de oferta de bens — ou carência de demanda — aumenta o índice de capacidade ociosa na economia e causa um acirramento da concorrência entre os produtos, que disputam os poucos consumidores disponíveis, o que leva a uma rápida queda nos preços. Cai o investimento e, consequentemente, há queda no produto real e aumento no desemprego.

A deflação, assim, pode acabar provocando depressão (como a que ocorreu em 1929-1933 nos Estados Unidos). Normalmente, combate-se a deflação por meio de um aumento nos gastos públicos e um maior grau de endividamento público, como forma de aumentar a demanda agregada.

Inflação

Aumento persistente dos preços em geral, de que resulta uma contínua perda do poder aquisitivo da moeda. É um fenômeno monetário, e isso coloca uma questão básica: se é a expansão da oferta de moeda que tem efeito inflacionário ou se ela ocorre como resposta à maior demanda de moeda provocada pela inflação.

A inflação, normalmente, pode resultar de fatores estruturais (inflação de custos), monetários (inflação de demanda) ou de uma combinação de fatores. Entretanto, independentemente da causa inicial do processo de elevação dos preços, a inflação adquire autonomia suficiente para se autoalimentar por meio de reações em cadeia (a elevação de um preço “puxando” a elevação de vários outros).

Desse modo, configura-se a chamada espiral inflacionária. A escola monetarista atribui papel decisivo às expectativas inflacionárias como impulsionadoras das elevações da taxa de juros, das maiores demandas salariais, dos reajustes sistemáticos da taxa cambial e, por extensão, como fator explicativo da autonomia relativa do processo inflacionário.

Tudo surgiria espontaneamente em função do comportamento racional dos agentes dentro de mercados competitivos.

Os estruturalistas, por sua vez, explicam a inflação pelo fato de as demandas salariais deixarem de ser uma questão exclusivamente econômica; elas adquirem caráter sociopolítico, envolvendo sindicatos, empresas e o governo, o que contribui para generalizar a prática da fixação dos preços em função dos aumentos de custos, em detrimento do rigor impessoal dos mercados competitivos.

Dessas duas posições originam-se modelos diferenciados para o processo inflacionário. Segundo os monetaristas, o índice de preços depende do nível de produção física, da velocidade-renda da moeda e do estoque nominal de moeda.

Como os dois primeiros mudam de forma estável no mercado livre, os movimentos do índice geral de preços refletiriam unicamente os movimentos do estoque nominal de moeda, determinados pela política econômica. Os planos de gastos do governo, excessivos em relação à capacidade de tributação e endividamento do Tesouro Nacional, devidos a crédito subsidiado ou a uma política econômica incompetente (por exemplo, taxas de juros abaixo do nível de equilíbrio), fariam com que se expandissem os meios de pagamentos para cobrir esses gastos.

Como não haveria aumentos equivalentes no produto real ou na velocidade com que a moeda circula, os preços subiriam. O combate à inflação deveria respeitar a espontaneidade” do mercado (aumentando o desemprego, se necessário) para procurar reverter as expectativas inflacionárias.

Seria necessário emitir títulos, aumentar os impostos e, sobretudo, neutralizar a ação dos mecanismos de reajustes, espontâneos ou não, de preços, salários, câmbio e taxa de juros. Em contrapartida, os não-monetaristas lembram o impacto inflacionário do aumento de salários, do custo de certos insumos (por exemplo, o petróleo, no caso brasileiro), da indexação dos preços de certos produtos ao custo de produção, da estagnação da produtividade de bens de consumo etc.

Para combater a inflação, o governo deveria intervir diretamente nos reajustes de preços, salários, câmbio e juros, para eliminar o poder de barganha dos agentes econômico-sociais “inflacionantes” (por exemplo, as grandes empresas e os sindicatos).

Na ausência de um mecanismo de correção monetária, a inflação tende a favorecer os devedores e especuladores, prejudicando os credores, as classes de renda fixa, os pensionistas e os investidores conservadores.

Ela redistribui a renda entre setores (por exemplo, agricultura/indústria) e/ou grupos de renda (por exemplo, lucros/salários). Além disso, a inflação tende a mudar os hábitos de consumo e a incentivar a aplicação em bens de valorização garantida, mesmo com o surto inflacionário (jóias, imóveis etc.). E pode ainda estimular a queda da poupança, se a remuneração desta não se adaptar aos novos níveis de aumento de preços.

Em princípio, o índice ideal para medir a inflação resultaria do deflator implícito do produto nacional gerado em determinado período de tempo, que daria uma medida, a uma certa periodicidade, do crescimento dos preços dos bens de consumo, dos bens de produção e de todos os serviços gerados no intervalo de tempo relevante com o concurso da força de trabalho.

Por motivos de ordem prática, outros índices são usados. Para medir a variação dos preços dos produtos finais consumidos pela população, usam-se os Índices de Custo de Vida (ICV) ou de Preços ao Consumidor (IPC), tendo como base os hábitos de consumo de uma família padrão (para toda a sociedade ou para certa classe).

Para medir a variação nos preços dos insumos e fatores de produção (e demais produtos intermediários), usam-se índices de Preços ao Produtor ou, em termos agregados, o Índice de Preços ao Atacado (IPA).

No Brasil, o IBGE produz dois dos mais importantes índices de preços: o IPCA, considerado o oficial pelo governo federal, e o INPC.

Consulte outros termos no Dicionário de Economia do professor Paulo Sandroni AQUI.

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