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Por que a renda dos trabalhadores informais disparou após a pandemia

Crescimento da renda tem sido mais acentuado entre trabalhadores privados sem carteira de trabalho assinada, os chamados informais

Pedestres

A renda média real brasileira cresceu 3,1% nos últimos quatro trimestres e 11,6% nos últimos oito trimestres | Foto: Getty Images

A renda média real (acima da inflação) dos brasileiros cresceu 11,6% em dois anos, com a recuperação do poder de compra decorrente da queda da inflação. Mas, o aumento de rendimento do trabalho, que foi maior para os trabalhadores mais qualificados, não deve pesar na inflação, se for acompanhado por aumento da produtividade e do PIB, com investimentos em equipamentos e tecnologias, segundo análise de macroeconomia dos especialistas do Banco Safra. Confira a análise:

De acordo com os dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD), a renda média real brasileira cresceu 3,1% nos últimos quatro trimestres e 11,6% nos últimos oito trimestres. Este expressivo crescimento é em parte decorrente da recuperação do poder de compra após o arrefecimento inflacionário. Ainda que a renda média do trabalho – considerando o mercado com carteira assinada e no setor público, assim como sem carteira e empreendedores – não tenha se recuperado totalmente em relação ao final de 2019, é interessante entender quais desses segmentos do mercado de trabalho tem mais contribuído para essa recuperação. Essa decomposição, assim como a decomposição por grau educacional, é analisada aqui em algum detalhe.

Saiba mais

Os dados indicam que o crescimento da renda tem sido mais acentuado entre trabalhadores privados sem carteira de trabalho assinada, chamados genericamente de “informais”. Os trabalhadores por conta própria também têm alcançado um aumento de renda média significativo. Essa melhora dos trabalhadores por conta própria provavelmente reflete o aumento de oportunidades de trabalho com a reabertura da economia após a pandemia e, por exemplo, a retomada de projetos e outras atividades, dado que os trabalhadores por conta própria em geral são provedores de serviços às famílias, direta ou indiretamente.

Destaca-se a persistente defasagem, por outro lado, do rendimento habitual do empregado do setor público, cujo congelamento de salário durante a pandemia e subsequente período de inflação alta não foi revertido. Essa defasagem estava em 8% no final de 2023 O salário médio de trabalhadores informais cresceu substancialmente mais do que a média nacional: 7,2% nos últimos quatro trimestres (nacional: 3,1%); 20% nos últimos oito trimestres (nacional: 11,6%), que incluem o período imediatamente posterior ao pico da Covid-19.

Cabe sublinhar as diferenças entre estatísticas agregadas e o processo de renda intrínseco: o aumento da renda média não necessariamente traduz ganho salarial de trabalhadores informais na concepção tradicional. Por exemplo, o salário médio poderia ter aumentado porque o setor informal passou a empregar indivíduos mais qualificados, que não estão empregados sob a CLT (carteira), mas regem-se por contratos de prestação de serviços por pessoa física, com a formalização e pagamento de tributos correspondente.

Aumento da renda dos informais reflete aumento do índice de qualificados sem carteira assinada

A presença de trabalhadores mais qualificados que outrora não compunham o conjunto de informais levaria a um aumento da renda média agregada deste grupo sem que os trabalhadores informais pré-existentes tenham experimentado ganhos reais de renda.

De fato, houve uma evolução importante na composição do grupo de trabalhadores chamados de informais nos últimos anos, com substancial aumento dos trabalhadores com ensino superior completo (+44% desde 2019).

Enquanto houve uma redução de mais de um milhão de trabalhadores informais com educação fundamental incompleta, houve um aumento de 640 mil trabalhadores com ensino superior completo, e mais de 1 milhão e meio de trabalhadores informais com ensino médio completo, além de um pequeno aumento (200 mil) no número de trabalhadores com fundamental completo. Também houve aumento da qualificação dos trabalhadores formais, mas o crescimento dos trabalhadores com ensino superior completo não teve a mesma intensidade (+23%). A elevação do nível educacional ajuda a explicar boa parte do aumento da renda dos trabalhadores informais, assim como do aumento do diferencial da variação da renda do trabalho vis-à-vis o setor formal.

Em suma, as transformações do mercado de trabalho às margens das mudanças no setor com carteira assinada após a “reforma trabalhista” de 2017 têm sido intensas. Considerando o peso dos trabalhadores com ensino superior completo entre os trabalhadores informais até a pandemia, o aumento do número desses trabalhadores nos últimos anos (44%) ajuda a explicar o aumento do salário médio dos trabalhadores informais. Assinale-se que um aumento de rendimento do trabalho devido à maior qualificação dos ocupados não deve ser inflacionário, a não ser que não seja acompanhado pelo concomitante aumento da produtividade do trabalho e do PIB do Brasil, talvez por insuficiência do investimento em capital fixo (equipamentos, software, etc.).

Confira a íntegra da análise macroeconômica semanal do Banco Safra.

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