Opções seguras para investir no cenário de turbulência na economia global
Relatório do Banco Safra analisa motivos da turbulência no mercado financeiro e aponta setores e empresas adequados para um cenário de cautela nos investimentos
17/04/2024A rota para os investimentos tem sido mais turbulenta do que o esperado. Diante da perspectiva de ‘mar agitado à frente’ o Banco Safra divulgou relatório para clientes indicando “opções para navegar a turbulência no cenário macroeconômico”.
Segundo o documento, o mercado de ações brasileiro acumula performance negativa em 2024 (-7,3% em reais, ou -14,7% em dólar), em movimento descolado das bolsas de países desenvolvidos, e apresentou desempenho inferior ao dos mercados emergentes.
Essa performance mais fraca é explicada por:
- (1) ajustes nas expectativas de consenso de mercado para o início do ciclo de corte de juros pelo banco central norte americano (Fed) após a divulgação de dados mais fortes de inflação e atividade nos EUA, o que reduziu a liquidez para os países emergentes;
- (2) resultados trimestrais com tendências positivas para 2024, mas cuja melhora no 2S24 depende da confirmação de juros menores;
- (3) ruído político que afetou algumas grandes empresas do índice, especialmente Vale e Petrobras;
- (4) performance mais branda da economia chinesa levantando dúvidas sobre as perspectivas para a demanda por matéria-prima brasileira, especialmente por minério de ferro, cujo preço já caiu cerca de 20% no ano;
- (5) revisão da meta fiscal de 2025 de um superávit de 0,5% do PIB para um déficit zero; e
- (6) ajuste de exposição de investidores estrangeiros, que retiraram parte dos recursos aportados no Brasil no fim de 2023.
Commodities, Bens de Capital, Serviços financeiros e Utilidades básicas entre as maiores altas desde o início do ciclo de corte de juros no Brasil. Apesar dos sinais animadores para o desempenho das empresas cíclicas domésticas no quarto trimestre de 2023, com aceleração sequencial no lucro ano contra ano, o atual contexto macroeconômico e o ambiente de inflação persistente têm guiado investidores para setores mais protegidos em busca de defesa, fato que fica evidente quando comparamos a média da performance setorial histórica nos últimos ciclos de queda de juros no Brasil com o desempenho dos setores no ciclo atual (desde meados de 2023).
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Apesar de a curva de juros já incorporar prêmio elevado, as atuais incertezas exigem cautela, segundo o Banco Safra. Os dados de atividade acima do esperado nos EUA e as incertezas sobre inflação no mercado doméstico levaram o Banco Central do Brasil a adotar um tom mais cauteloso. Consequentemente, a curva de juros brasileira passou a precificar uma Selic terminal superior a 10% (acima do cenário macro do
Banco Safra).
O Banco Safra entende que o cenário mais incerto parece estar parcialmente incorporado às curvas e à performance fraca recente de diversos setores na Bolsa. No entanto, um juro mais alto que o esperado no Brasil de fato implicaria num desempenho mais tímido da atividade econômica doméstica, representando um risco para o nosso cenário de recuperação dos lucros das empresas em 2024 (o banco espera alta de 17,8% no lucro por ação (LPA) do Ibovespa, para 16.258).
Onde investir em um cenário de turbulência?
Diante do cenário de incertezas, o Safra recomenda que a busca por proteção deve persistir através da alocação em empresas com rentabilidade elevada, baixa alavancagem financeira e/ou boa capacidade de pagamento de dividendos.
Com esses critérios em mente, os especialistas do banco apresentam uma seleção de nomes em setores que parecem adequados para um cenário de cautela:
- (i) Serviços Financeiros (BB Seguridade);
- (ii) Bancos (Itaú Unibanco);
- (iii) Telecomunicações (Tim);
- (iv) Siderurgia e Mineração (Vale); e
- (v) Utilidades Básicas (Copel).
Opções específicas em outros setores como Iguatemi (Shoppings), Fleury (Saúde) e RD Saúde (Farmácias) também podem ser interessantes. Alternativamente, empresas com capacidade de pagamento de dividendos elevados poderiam também apresentar bom carrego e estabilidade de fluxo para investidores (Transmissão Paulista, Telefônica Brasil e Caixa Seguridade).
O cenário macroeconômico e a performance do Ibovespa
Incertezas exigem cautela, embora a curva de juros pareça já incorporar prêmio elevado. Nos EUA, os dados mais fortes do mercado de trabalho e a inflação ainda elevada levaram a uma abertura na curva de juros norte-americana de praticamente um ponto percentual desde o início do ano.
Atualmente, a curva precifica probabilidade de 80% de dois cortes de 25 pontos nos juros. No cenário doméstico, além da pressão externa, a inflação de serviços mais alta e as novas preocupações com a situação fiscal em 2025 no Brasil aumentaram as incertezas sobre o cenário de equilíbrio dos juros e levaram o banco central brasileiro a adotar um tom mais cauteloso na comunicação com o mercado já em sua última reunião.
Com isso, a curva de juros brasileira está precificando apenas mais 0,50 ponto percentual de corte na Selic e uma taxa de 10,4% no fim do ano, acima das estimativas do time econômico do Safra (a Pesquisa Focus aponta para 9,13%, mas com revisões recentes para cima).
Menor diferencial de juros afeta o câmbio
A redução de juros implementada pelo Banco Central do Brasil, apesar de possivelmente vir em menor magnitude se comparada com as estimativas iniciais, e a manutenção dos juros estáveis por mais tempo nos EUA implicam um menor diferencial de juros, provocando fuga de capital estrangeiro do país, o que consequentemente pressiona o câmbio.
Esse seria um dos maiores riscos para a política monetária local – que veio se confirmando nos últimos dias. O diferencial de juros é um dos fatores determinantes dos investimentos estrangeiros no mercado financeiro brasileiro, o que significa que um patamar mais baixo poderia reduzir o apetite desse tipo de investidor pelo nosso mercado no curto prazo.
Hoje, a diferença entre o juro brasileiro e o norte-americano é de 5,25 pontos percentuais, patamar já abaixo da média dos últimos cinco
anos, de 5,95 pontos percentuais.
Fluxo estrangeiro em rota de fuga
No ano, investidores estrangeiros retiraram R$26 bilhões da B3. O Safra acredita que o ajuste na expectativa para o início do ciclo de cortes de juros nos EUA (que passou de março de 2024 para o começo do segundo semestre do ano) e para a sua intensidade (de quatro para dois cortes) tenha contribuído para intensificar esse movimento.
O Safra destaca que o cenário externo traz incertezas sobre a continuidade do ciclo de queda nos juros também no Brasil, e a manutenção dos juros elevados nos EUA drena liquidez dos mercados emergentes.
Além disso, as incertezas sobre o cenário fiscal brasileiro, possíveis ruídos sobre interferência governamental em grandes empresas como a Vale e Petro, além de pressões inflacionárias no cenário doméstico contribuíram para um ajuste de expectativas.
Diante desse cenário mais desafiador interno e externo, o retorno desses investidores estrangeiros pode demorar mais do que o esperado.