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Elifas Andreato, gênio brasileiro das artes gráficas, morre aos 76 anos

Artista reconhecido como um dos maiores disigners gráficos do Brasil, Elifas Andreato defendia a educação infantil como única saída para o País

Elifas Andreato

Ao longo de mais de 50 anos de carreira, fez mais de 300 capas de discos | Foto: Divulgação

Elifas Andreato, ilustrador e um dos maiores designers gráficos do Brasil, responsável por inúmeras capas de discos e livros marcantes, morreu hoje aos 76 anos. A informação foi divulgada por seu irmão, o ator Elias Andreato, em seu perfil no Instagram. Elifas Andreato estava internado desde a última semana, após ter sofrido um enfarte.

Para comunicar a morte, Elias usou um desenho do artista que retrata a bandeira do Brasil dentro de uma lágrima. “Adeus meu irmão amado”, escreveu Elias, com uma carta: “Meu irmão mais velho, desde pequenino, rabiscava seus sonhos e ia mudando o nosso destino. Tudo o que ele tocava com as suas mãos virava coisa colorida, até a dor que ele sentia era motivo de tinta que sorria. Sua travessura era zombar da pobreza e de toda a tristeza que ele via. Se o quarto era apertado, ele criava castelos longínquos. Se a fome era tamanha, ele pintava frutos madurinhos. (…)”.

Elifas Andreato nasceu em Rolândia, em 22 de janeiro de 1946. Viveu com a família em cortiço e fazia pequenas esculturas com material que encontrava no lixo. Na adolescência, foi operário em uma fábrica de fósforo em São Paulo. Começou a fazer caricaturas e a pintar murais. Foi estagiário em agência de publicidade até chegar à Editora Abril, onde ganhou destaque por ter feito, em 1970, a coleção de fascículos História da Música Popular Brasileira. Foi aí que a cara das capas de discos começou a mudar.

Ao longo de mais de 50 anos de carreira, fez mais de 300 capas de discos de artistas como Chico Buarque, Elis Regina, Adoniran Barbosa, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Toquinho e Vinicius de Moraes. Entre seus trabalhos mais conhecidos estão Ópera do Malandro, de Chico Buarque, A Rosa do Povo, de Martinho da Vila, Arca de Noé, clássico que embalou gerações de crianças brasileiras, e Nervos de Aço, de Paulinho da Viola.

Para o teatro, fez cartazes memoráveis, como os de Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra, de A Morte do Caixeiro Viajante, dirigido por Flávio Rangel em 1984, elogiado até pelo autor da peça, o americano Arthur Miller, e de Mortos Sem Sepultura, adaptação de texto de Jean Paul Sartre em 1977. Seu trabalho mais recente, aliás, foi para o teatro. É dele o cenário do musical Morte e Vida Severina, com direção de seu irmão, que estreia no Tuca em 16 de abril.

Em 2018, o artista lançou um livro com produção mais significativa. Traços e Cores reúne cerca de mil entre as suas mais de 5 mil criações, entre essas capas emblemáticas de discos, cartazes de teatro, capas de livros e cenários de peças e shows.

Educação infantil é única saída para o Brasil, disse Elifas Andreato em entrevista ao Estadão

Uma das obras incluídas é o grande painel que ele fez a convite da Comissão da Verdade. Instalado originalmente no corredor de acesso à Câmara dos Deputados, ele ganhou o título A Verdade Ainda que Tardia e retratava as torturas da ditadura. Em 2015, o painel foi arquivado no acervo da Câmara, sob a alegação de que não havia espaço na exposição permanente.

Em entrevista ao Estadão por ocasião do lançamento do livro, Andreatto disse que aquele “inventário” era definitivo e fechava um ciclo. E contou que dali em diante trabalharia apenas com livros e a composição de músicas para discos voltados para crianças. “Com 72 anos, a perspectiva de tempo futuro é curta, então você tem que definir um foco para os anos que faltam”, ele disse. E completou: “Acho que a educação infantil é o único caminho para sair desse imbróglio em que estamos”. (AE)

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