Investimentos em saneamento terão destaque nos próximos anos

Em 2020, foi sancionado pelo governo federal o Novo Marco do Saneamento, que estipula novas regras para o setor e promove a ampliação da atuação de empresas privadas no saneamento. O objetivo principal do marco regulatório é a universalização do acesso aos serviços de água e esgoto para a população brasileira, cujo índice de acesso é inferior quando comparado a alguns países em desenvolvimento. Para se ter uma ideia, em 2018, apenas 53% dos lares no país tinham acesso ao esgoto.

De acordo com o texto do marco regulatório, a distribuição de água tratada deverá atender 99% da população e a coleta de esgoto deve atingir 90%, tudo isso até 2033. Além disso, as companhias públicas e privadas, que administram as concessões de saneamento nos estados, deverão mostrar que tem capacidade financeira para arcar com os investimentos necessários e atingir tais índices de cobertura.

Exatamente nesse ponto que reside o principal desafio de muitas concessionárias, que tinham o prazo de até 31 dezembro do ano passado para apresentar sua capacidade econômico-financeira junto ao órgão regulador. De acordo com matéria publicada pelo Estado de São Paulo, 7 concessionárias estatais não demostraram essa capacidade de levar adiante as metas do marco regulatório. Vale lembrar que em um cenário de perda de contrato por não cumprimento das exigências, cabe aos municípios, buscar alternativas e providências adequadas.

Apesar da notícia, a maioria das concessionárias no Brasil, estatais e privadas, mostram robustez para seguir adiante com plano de investimentos e atingir a marca estipulada. Além disso, alguns estados em dificuldades financeiras optaram por privatizar o serviço de água e esgoto, por exemplo, a Cedae no RJ e a concessão no Amapá, em 2021. Para 2022, estão previstas privatizações no Rio Grande do Sul, Ceará e outras concessões municipais.

A expectativa é de que grandes grupos que estão capitalizados atuem mais fortemente nessa onda de privatizações que deve ocorrer nos próximos anos. E, uma vez que um grupo privado leva uma concessão, ele contrata também um investimento obrigatório a ser feito.

É interessante notar que empresas de outros segmentos da economia, por exemplo, grupos do setor elétrico, estão interessados nas concessões de saneamento. O que também é uma maneira de diversificar os ativos dessas companhias. Mas o que explica o interesse é justamente a nova regulação, que garante mais segurança ao investidor, o potencial de expansão e retornos mais rápidos, se comparado a outros setores de infraestrutura.

Dessa forma, olhando do ponto de vista de investimento em infraestrutura no Brasil, o setor de saneamento deverá marcar forte presença. É importante dizer que, quando falamos em investimentos em infraestrutura, falamos de investimento de longo prazo, isto é, são menos sensíveis a ruídos na economia e na política no curto prazo.

Para citar alguns nomes, temos a Sabesp, Copasa, Sanepar e Corsan, que são grandes companhias do setor e com forte presença no mercado de capitais, e que já anunciaram seu plano de investimento para o período de 2022 a 2026, superando a cifra de 45 bilhões de reais, um valor quase 70% acima do volume registrado entre 2017-2021, de acordo com notícia do Valor Econômico.

Essa soma de investimentos deve movimentar bastante o mercado de dívidas corporativas, então poderemos ver mais empresas do segmento vindo a mercado através de emissão de debêntures. Na semana passada, por exemplo, a Sanepar já anunciou a emissão de R$600 milhões em debêntures, que serão destinados para o plano de investimento da companhia.

Em resumo, o setor de saneamento apresenta boas oportunidades e deve ser um dos destaques na expansão em infraestrutura no país, então vale ficar de olho nas companhias vindo a mercado para captar recursos.