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Aumento da renda familiar estimula jovens a trocar trabalho por estudo

Jovens preferem estudar e postergar o trabalho, e os mais idosos trabalham mais, mostra Pesquisa PNAD do IBGE; confira análise das tendências do mercado de trabalho

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proporção de jovens que chegam aos 20 anos com ensino médio completo | Foto: Getty Images

A taxa de participação na força de trabalho de jovens entre 16 e 20 anos, em particular aqueles com idade de ensino médio, vem caindo. Entre os mais jovens, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE sugerem uma conexão entre a taxa de participação e atributos como renda familiar, nível de escolaridade e localização geográfica. Jovens de famílias de renda mais baixa e sem ensino médio tem entrado menos frequentemente na força de trabalho, ao mesmo tempo em que o nível de matrículas no ensino médio cresce. Além disso, a queda na taxa de entrada dos jovens na força de trabalho – estimada através da dimensão longitudinal da PNAD – sugere postergação da procura por trabalhos em favor da continuidade nos estudos.

Confira abaixo a análise completa do Banco Safra sobre as tendências do mercado de trabalho.

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Aumento da renda familiar estimula jovens a trocar trabalho pelo estudo

Os dados microeconômicos da PNAD indicam tendência de queda na taxa de participação dos brasileiros com idade entre 16 e 20 anos na força de trabalho no período pós Covid. Boa parte dessa queda é contemporânea à retomada do número de jovens até 19 anos de idade matriculados na escola. Já a participação de jovens com 19 e 20 anos não tem apresentado queda acentuada em relação a 2019, assim como a do resto da população, ainda que aqueles na faixa de 20 a 40 anos estejam com taxa de participação na força de trabalho ainda um pouco abaixo do nível pré-pandemia. A taxa atual é, no entanto, maior do que a do período de “pleno emprego” de 2013. A participação das pessoas na faixa de 50 a 60 aumentou desde 2019, talvez pelo efeito da reforma da previdência social. Ainda não é evidente se essas mudanças são estruturais ou o quanto aquelas da participação dos jovens estão correlacionadas à recente expansão dos programas de transferência de renda.

Os jovens entre 16 e 20 anos representam menos de 10% do total da população em idade de trabalho, e sua participação na força de trabalho é bastante influenciada pela permanência na escola. Esse grupo apresentou forte queda na taxa de participação desde 2022, particularmente o subgrupo entre 16 e 18 anos, sugerindo a volta da tendência da permanência na escola até o fim do segundo grau.

Podemos corroborar a correlação entre taxa de participação e permanência na escola observando a proporção de jovens fora da força de trabalho que justificam sua ausência por motivo de estudo. Esta proporção cresceu desde o pré-pandemia e se encontra no maior nível da séria histórica. A população acima de 20 anos tem apresentado alguma queda de participação relativa ao período pré-pandemia entre aqueles com até 40 anos e um aumento da taxa entre aqueles acima desta idade.

Em particular, a taxa de participação da população entre 50 e 60 anos continuou aumentando no período pós-pandemia, talvez por efeito da reforma da previdência social que desestimula e limita a aposentadoria com menos de 60 anos de idade.

A taxa de participação na faixa etária 16-18 anos – quando a maioria dos jovens ainda cursa ensino médio tem estado entre 30-35%, com tendência de queda no longo prazo. A taxa na faixa de 19-20 fica acima de 60% e não apresenta queda substancial nos anos recentes em relação ao período pré-pandemia.

A evidência indica que a maioria dos jovens entra no mercado do trabalho quando completa o ensino médio, o que também coincide com a idade de 19-20 anos. Ou seja, quando se olha o conjunto dos jovens de 16-20 anos, verifica-se a mesma segmentação observada quando se divide a participação entre jovens de 16-18 e de 19-20, com os jovens sem ensino médio completo tendo baixa taxa de participação (tipicamente aqueles com menos de 18 anos) e aqueles com ensino médio completo (os acima de 18 anos) com uma taxa de participação perto de 60-62%. Além disso, a proporção de jovens entre 19 e 20 fora da força de trabalho que justificam sua ausência pelo estudo é mais baixa do que a mesma proporção entre jovens de 16 a 18, e tal proporção se encontra em patamares historicamente baixos.

A proporção de jovens acima de 18 anos no ensino superior ainda está abaixo da meta estabelecida pelo governo na década de 2010, tendo o Censo da Educação Superior de 2022 indicado que menos de 25% dos jovens de 18 a 24 anos acessam o ensino superior. Parte dos que não entram no mercado de trabalho ou não cursam o ensino superior mante-se desocupada, correspondendo ao grupo comumente chamado de nem-nem (nem estuda nem trabalho).

O declínio da taxa de participação dos jovens é contemporâneo ao aumento da proporção de jovens de 15-19 anos matriculados nas escolas de ensino médio e técnico, que saltou de 47% para 56% de 2017 a 2023. Também tem sido observado o aumento da proporção de jovens que chegam aos 20 anos com ensino médio completo, que passou de pouco mais de 50% em 2013 para perto de 70% no último ano.

Relação entre trabalho e educação

A dinâmica de fluxo de entrada e saída da força de trabalho se alinha com uma explicação relacionada à educação. Usando a dimensão longitudinal da PNAD, consideramos o grupo de indivíduos presentes na amostra por dois trimestres consecutivos, de modo que conseguimos avaliar sua participação na força de trabalho em sequência.

Computamos:

  • 1) a proporção de jovens que saíram da força de trabalho quando estavam nela no trimestre anterior (taxa de atrito); e
  • 2) a proporção de jovens que não estavam na força de trabalho e entraram nela (taxa de entrada). Os gráficos mostram que a queda na taxa de participação é explicada pela queda na taxa de entrada, e não por um aumento na taxa de atrito (saída). A chance de um indivíduo que já participava da força de trabalho continuar participando aumentou. Entretanto, a chance de um indivíduo que não estava na força de trabalho entrar nela diminuiu. A evidente diferença de comportamento sugere a existência de um custo de entrada na força de trabalho. Abandonar um curso pode ser um custo de oportunidade alto para jovens que estão no meio de um programa acadêmico, já que as horas de esforço já despendidas não se convertem no diploma. Sendo assim, a entrada na força de trabalho é custosa. Por outro lado, tal custo não existe para jovens que trabalham e, portanto, não estão cursando programas acadêmicos de alto nível.

Ainda que a relação entre grau de escolaridade e participação na força de trabalho exista, os dados longitudinais não dizem nada a respeito da hipótese do efeito renda sobre escolhas de entrada na força de trabalho. Para avaliá-la empiricamente, calculamos a renda familiar per capita de cada família (renda efetiva de todos os trabalhos), e dividimos tal renda pelo IPCA do respectivo trimestre, de modo a converter renda nominal em renda real (valores do quarto trimestre de 2023).

Os resultados são claros: a taxa de participação é mais baixa para as populações nos extremos da distribuição de renda e quanto menor a faixa de renda familiar, maior a queda recente na taxa de participação de jovens. Os dados por renda familiar não rejeitam a hipótese do efeito renda. É possível conjecturar, assim, que a expansão dos valores pagos pelos programas públicos de complementação de renda a partir de 2022 estejam por trás de um aumento do nível de renda que resulte na queda de participação – uma vez que famílias mais abastadas recebem menos auxílios, e tendem a responder economicamente menos a eles.

A PNAD não reporta valores recebidos por programas públicos, mas podemos comparar variações na taxa de participação por regiões, que variam na renda média e na proporção da população recebendo benefícios sociais. A taxa de participação difere sensivelmente entre regiões, sendo mais alta no Sul (55%), um pouco mais baixa no Sudeste e Centro Oeste (52%), e mais baixa no Norte e Nordeste (32-35%). Ela caiu em todas regiões no último ano (com ressalva de uma súbita recuperação na região Sul verificada na última onda da PNAD), mas não necessariamente em relação a 2019. A queda generalizada descarta a possibilidade de causas locais, como choques de renda individuais proporcionados por determinadas indústrias ou fatores climáticos regionais. Entretanto, ela é certamente compatível com uma explicação centrada em benefícios públicos (pelo menos em nível federal), ou outros ganhos de renda que afetem a renda das famílias brasileiras menos abastadas uniformemente entre regiões.

Confira a análise completa com os gráficos.

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