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A saída energética para os fenômenos climáticos no Brasil pode ser térmica

Segundo Research do Banco Safra, La Niña e El Niño deixam reservatórios ameaçados com capacidade em queda e aumentam necessidades e custos do setor energético

Usinas em Angra Dos Reis, no estado do Rio de Janeiro | Foto: Getty Images

Usinas em Angra Dos Reis, no estado do Rio de Janeiro | Foto: Getty Images

Enquanto o La Niña, tradicionalmente associado a chuvas mais intensas no Norte e Nordeste e temperaturas mais amenas no Centro-Oeste e Sudeste, tarda a se estabelecer, o El Niño, que marcou o final de 2023 e início de 2024, prolonga seus efeitos no Brasil. A dança entre esses dois fenômenos climáticos reescreve as projeções para o setor energético do Brasil, podendo ocasionar um aumento de demanda por energia térmica.

Se a hidrologia atual for mantida nos aproximadamente 70% da média de longo prazo, os níveis dos reservatórios devem chegar próximos de 30% no fim de 2024 e de 25% em 2025 se não houver incremento adicional das térmicas.

Os números são apertados, segundo o time de Research do Banco Safra, e sugerem que o despacho adicional seria necessário. Diante dessa realidade, o setor energético se depara com a necessidade de revisar seus modelos para os reservatórios e recorrer à energia térmica.

La Niña no Brasil: efeitos conhecidos, impactos imprevisíveis

As projeções apontavam para o início do La Niña no segundo semestre de 2024. Agora, espera-se um atraso com expectativa reduzida para este fenômeno. A estimativa para seu início em 2024, inicialmente em julho e agosto, foi postergada para agosto, e a probabilidade agora é estimada em 69%.

Este cenário, combinado com uma demanda energética mais elevada do que o usual e uma hidrologia mais fraca, coloca os reservatórios em uma situação delicada, consumindo-os mais rapidamente do que o previsto. A diferença é de quase 3% ante modelo anterior da equipe de Research da instituição.

Saiba mais

O La Niña é caracterizado por temperaturas mais baixas que o normal na parte sul do Oceano Pacífico Equatorial, reconfigurando o padrão de chuvas e temperaturas em diversas regiões do Brasil. Seu impacto no Brasil, contudo, não é uma ciência exata.

Episódios intensos do fenômeno, como em 2010 e 2011, mantiveram a hidrologia próxima a 100% da média de longo prazo. Contudo, eventos moderados mais recentes, como os de 2020, 2021 e 2022, resultaram em hidrologia abaixo do esperado e em um aumento na geração térmica.

Energia térmica: quanto gerar e qual o preço?

Atualmente, os reservatórios se mantêm em um nível robusto de 75% de sua capacidade máxima. Contudo, a projeção de aumento anual de 4,2% na demanda de energia em 2024 leva à conclusão de que o operador provavelmente adotará uma postura conservadora para mitigar os riscos relacionados à baixa hidrologia.

Como base de comparação, em 2021, quando a hidrologia na estação chuvosa estava em aproximadamente 60% da média de longo prazo, as térmicas geraram cerca de 17 GW.

Um cenário-base do Research do Banco Safra estima que seria necessária uma geração térmica média de 10 a 11 gigawatts (GW) para garantir uma margem adequada para os reservatórios nas estações chuvosas de 2024, 2025 e 2026. Considerando essa necessidade média, os preços da energia também estão sujeitos a impactos. O custo marginal estimado seria de R$ 205 a R$ 208 megawatt (MWh) – incluindo Angra I e II.

No panorama mais pessimista, cerca de 14 GW seriam necessários para manter os reservatórios em um nível razoável até o fim do próximo ano, com um custo marginal que poderia atingir R$ 287 a R$ 348 por MWh – considerando uma geração térmica potencial de 13 a 14 GW.

A volatilidade dos preços à vista é esperada, com tendência de alta à medida que nos aproximamos do segundo semestre de 2024. A perspectiva para a hidrologia em 2025 permanece incerta, e os preços dos contratos de energia já refletem essa realidade, com níveis médios acima de R$ 150 por MWh.

Esse despacho térmico e seu forte impacto nos preços talvez sejam mais visíveis no fim do inverno, com o esgotamento mais rápido dos reservatórios, e quando a demanda acelera novamente em torno de outubro e novembro com a elevação das temperaturas e o potencial total da estação chuvosa sem chegar ao sistema – este potencial, normalmente, eleva os reservatórios a partir de dezembro. 

Cenário agravado pelo ano mais seco há 22 anos

O ano de 2024 tem se mostrado particularmente seco, com o verão de 2023/2024 registrando o quarto pior índice de hidrologia desde 2001. O influxo de água nos reservatórios alcançou apenas 69,8% da média de longo prazo, com um período crítico entre janeiro e março, que normalmente concentra a maior parte do influxo da estação chuvosa. Apesar de os reservatórios terem iniciado a estação seca de 2024 com níveis confortáveis, em 75% da capacidade máxima, o cenário não é considerado ideal.

A preocupação aumenta ao verificar que, após o término da estação chuvosa, os níveis dos reservatórios tendem a cair drasticamente – em torno de 30% entre abril a novembro. A energia hidrelétrica vem perdendo participação na capacidade total do sistema elétrico brasileiro, mas ainda lidera na geração com 54% da capacidade firme. A geração térmica, em comparação, responde por apenas 19%.

Com a possibilidade de expiração da autorização de diversas unidades térmicas e a depreciação de outras até 2028, o operador do sistema pode adotar uma postura conservadora, economizando água dos reservatórios durante o inverno, para preparar-se para uma hidrologia ainda mais tímida na próxima estação chuvosa.

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