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Ilton Caldeira

A encruzilhada do Fed

O Federal Reserve terá de agir rápido para voltar a ancorar expectativas e evitar que a espiral inflacionária contamine preços e salários

Estados Unidos

No início de fevereiro, a dívida dos Estados Unidos ultrapassou a marca de US$30 trilhões, em meio aos gastos com a pandemia | Foto: Getty Images

Com uma inflação acumulada nos Estados Unidos de 7,5% em 12 meses, a maior desde fevereiro de 1982, não resta mais dúvida de que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano fará não uma, mas sucessivas elevações na taxa de juros nas próximas reuniões. A ameaça que parecia transitória aos olhos das autoridades monetárias, avançou com força e agora se faz necessário um remédio mais amargo.

Os membros do Fed adiaram uma elevação de juros ainda em 2021 porque sabiam que a medida poderia atrapalhar os caminhos da recuperação econômica em curso, depois do freio imposto pela pandemia desencadeada pela Covid-19. Mas com uma meta de inflação de 2% ao ano e a realidade se impondo muito acima dessa faixa, não resta ao Fed outra alternativa além da receita clássica.

Um outro dado a ser considerado pelo Fed, além do risco de minar o fôlego da recuperação econômica, é a questão do endividamento do país. No início de fevereiro, a dívida dos Estados Unidos ultrapassou a marca de US$30 trilhões, em meio aos gastos federais para combater a pandemia.

A dívida total bruta, incluindo pessoas físicas, empresas, fundos de pensão e agências federais, é hoje maior do que a própria maior economia do mundo. Cenário com paralelo apenas durante a Segunda Guerra Mundial. O Produto Interno Bruto (PIB) verificado em 2021 foi de US$22,9 trilhões. Em janeiro o Congresso americano já havia concordado em aumentar o limite da dívida para US$31,4 trilhões, se adequando à nova realidade.

De acordo com dados do Departamento do Tesouro dos EUA, no ano fiscal de 2021, o valor de juros pagos sobre a dívida nacional foi de US$562 bilhões, incluindo transferências governamentais. O valor efetivamente pago aos detentores de títulos dos Estados Unidos foi de US$413 bilhões.

Segundo o Congressional Budget Office, a taxa média de juros paga sobre a dívida nacional no ano fiscal de 2021 foi de aproximadamente 1,5%, um índice ainda historicamente baixo. Mas isso deverá mudar em breve.

Com os aumentos da taxa de juros básico chegando, a expectativa é que haverá três ou quatro elevações pelo Fed em 2022, o mesmo acontecerá com a taxa de juros paga pelos títulos do Tesouro, apimentando essa equação.

É fato que a ajuda federal à pandemia e programas de estímulo, que adicionaram US$6 trilhões ao total da dívida, já tenham desacelerado e que uma economia em recuperação está contribuindo para aumentar as receitas fiscais.

Dado o cenário, o Fed terá que agir rápido para voltar a ancorar expectativas e evitar que uma espiral inflacionária contamine de vez preços ao consumidor e salários, em uma tentativa de estancar uma indexação quase que automática e uma corrida por reposição de perdas inflacionárias. Algo não tão familiar para os americanos, mas que nós brasileiros temos um grande conhecimento de causa.

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Ilton Caldeira é jornalista de Economia e Política e especialista em Relações Internacionais pela FGV-SP. Nos Estados Unidos é Head de Comunicação da Dell’Ome Law Firm e sócio da consultoria Smart Planning Advisers.

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