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Agência Estado

Os donos dos times da Europa

Clubes, assim como sociedades empresariais, deixaram de ser dos sócios e se transformaram em ativos de grandes conglomerados dos mais variados países

O futebol é o esporte mais popular do mundo, são mais de 3,6 bilhões de pessoas que assumidamente gostam de futebol. Os mais fanáticos somam quase 1 bilhão de torcedores.

Com um mercado consumidor como esse, empresas, investidores, magnatas, governos e grupos de comunicação naturalmente se interessaram pelos negócios e pela força midiática envolvidos com futebol.

Diferente do Brasil, na Europa praticamente todos os clubes são empresas. A visão de um modelo empresarial para o futebol foi colocada em prática inicialmente com a profunda reestruturação vivida pelo futebol inglês no fim da década de 80 e sua consequência direta nos principais mercados europeus de futebol.

Os clubes até aquele momento eram associações, com uma administração amadora e baixas receitas, oriundas principalmente das vendas de ingressos e contribuições dos sócios. Cada país europeu criou legislações adequadas ao que de mais moderno estava sendo vivido no mundo empresarial. As mudanças visaram adequar o futebol, que vivia uma gestão amadora em algo profissional, nos moldes das grandes empresas e das ligas dos Estados Unidos.

Este processo de gestão empresarial do futebol tinha como intuito a profissionalização dos campeonatos, clubes e do mercado como um todo. Em praticamente todos os mercados o modelo foi a transformação dos clubes em empresas, como Inglaterra, Itália, Espanha, França, Portugal, Turquia e Rússia.

Para poder participar das Ligas cada equipe teve que cumprir uma série de exigências, entre elas, publicar balanço patrimonial auditado, orçamento e apresentar um aval financeiro para poder participar das competições.

Assim, os clubes, assim como sociedades empresariais, deixaram de ser dos seus sócios e se transformaram em ativos de grandes conglomerados, empresários e magnatas dos mais variados países.

Atualmente há raríssimas exceções, de clubes que não são empresas como os casos da dupla da Espanha, Real Madrid e Barcelona, exemplos raros de clubes que se mantiveram como associações sem fins lucrativos.

A Lei do Esporte da Espanha de 1990 permitiu que clubes com saldo patrimonial positivo em cinco anos anteriores à lei, pudessem permanecer como clubes. Todos os demais foram obrigados a se transformar em empresas. Junto com Barcelona e Real Madrid, Athletic Bilbao e Osasuna são de propriedade de seus sócios.

A Alemanha criou um modelo próprio para evitar que clubes tradicionais caíssem nas mãos de magnatas. Por outro lado, exigia a transformação dos clubes em empresas, somente preservando ao clube a maioria das ações. Mas permitiu inclusive que grandes empresas investissem nas ações dos times. 

Por exemplo, a Adidas, Audi e Allianz não são apenas patrocinadores do Bayern de Munique, mas também acionistas minoritários que recebem inclusive dividendos anuais e têm cadeiras no Conselho de Administração. Neste formato é preservando os 51% mínimos de ações para o clube. É o modelo chamado de 50%+1.

Há ainda a possibilidade de os times serem de propriedade 100% de empresas, como o caso por exemplo do Bayer Leverkusen (Bayer) e Wolfsburg (VW). Neste caso, as empresas controlam 100% das decisões.

Segundo a consultoria Deloitte da Inglaterra o futebol profissional na Europa faturou US$ 35 bilhões em 2019. Com a pandemia os números vão cair, mas mais de 80% de tudo que se movimenta com futebol profissional no mundo é gerado pelo continente europeu.

A disputa pelo controle dos times europeus está a todo vapor.

Apenas 46% do capital nos times é da Europa

A UEFA, entidade que regula o futebol na Europa analisa as finanças dos times do continente. Segundo seu último relatório, apenas 46% dos proprietários dos times são da Europa; 25% dos EUA; 21% Ásia; e 8% do Oriente Médio.

Chineses, norte-americanos, árabes, russos, injetaram bilhões de euros em clubes de diferentes tamanhos na Europa nas últimas duas décadas.

Manchester United, Arsenal e Liverpool são de norte-americanos. PSG e Manchester City de árabes. Inter de Milão e Espanyol de chineses.

A onda mais pesada nesse momento de investidores são de bilionários norte-americanos injetado recursos no futebol europeu. O caráter global do futebol, baixa regulação, força de engajamento, ídolos globais e crescimento do mercado do soccer nos EUA impulsionaram tudo isso.

Nos próximos anos veremos uma maior intensidade de recursos vindo dos EUA.

Os chineses já investiram mais de US$ 2 bi em times europeus e por recentes mudanças do governo da China terão que investir no futebol do país, e não mais no exterior. O foco do governo é forçar investimentos no futebol do país.

Por exemplo, o Suning Group conglomerado chinês com mais de 110 mil funcionários e faturamento anual de US$ 44 bilhões comprou a Inter de Milão, em 2016, por mais de US$ 300 milhões. Seus donos vêm injetando pesados investimentos para tentar competir em nível alto na Europa.

O time italiano encerrou 2020 com prejuízos de mais de US$ 110 milhões e seu proprietário já avisou que as coisas vão mudar e que foco será na China.

Essa situação se repete em muitos times europeus, provando que não é apenas virando empresas e conseguindo um dono rico que as coisas se resolvem.

Este momento é um grande aprendizado para o futebol brasileiro, que ainda busca seu marco regulatório do clube empresa no Brasil. Buscamos isso desde a década de 90.

Leia aqui uma análise sobre o modelo alemão adequado ao mercado brasileiro.


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