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Claudio L. Lottenberg

Os efeitos perversos das redes sociais na saúde mental

Quando usadas em excesso, as redes sociais podem criar uma relação de dependência com consequências como depressão, irritabilidade, sensação de isolamento, baixa autoestima, fobia social

Crianaças com celular

No isolamento social, crianças se voltaram ainda mais para as telas para entretenimento e para se conectar com os amigos | Foto: Getty Images

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 9,3% dos brasileiros, ou seja, mais de 18 milhões de pessoas, sofrem de ansiedade, número que coloca o país como líder mundial na patologia. Esse fenômeno alarmante levou o Instituto Locomotiva a realizar o estudo “Questões fundamentais sobre o comportamento dos brasileiros nas redes sociais”, um mapeamento inédito para compreender os relacionamentos em ambiente digital.

O estudo – que contou com a participação de uma amostra balanceada por critérios sociodemográficos composta por 1.682 pessoas, com idades de 18 a 77 anos – evidenciou uma baixa qualidade da rede de relacionamentos dos brasileiros, que se mostraram insatisfeitos com suas interações sociais. Um quarto dos entrevistados declarou não se sentir próximo de ninguém.

E cerca de dois terços dos participantes relataram agir de maneira diferente com desconhecidos, que são vistos com desconfiança. Esse receio pode ser atribuído ao medo da violência e a preconceitos com o diferente, como o racismo. As pessoas vivem em bolhas, espaços caracterizados pela pouca diversidade, daí a explosão dos discursos de ódio ao alheio nas redes sociais.

Tais evidências contrastam com aquela imagem geralmente aceita, em que o brasileiro é tido como aberto e sociável, faz amizades facilmente. A maioria dos entrevistados mostrou ser bastante tímida e solitária, com uma rede de relacionamentos restrita. Essa solidão pode ser explicada pelos elevados índices de violência com os quais convivemos e com os entretenimentos oferecidos pela internet – como jogos online e redes sociais –, que absorvem parte significativa do tempo das pessoas.

Apesar disso, 71% dos entrevistados consideram as interações reais melhores do que as virtuais. A pesquisa também apontou que quanto maior for a rede de relacionamentos de uma pessoa, maior sua satisfação. E quem tem relações mais superficiais apresenta maiores traços de descontentamento.

O estudo mostrou que as pessoas solitárias são mais vulneráveis aos efeitos negativos das plataformas de redes sociais. O Instagram foi mencionado por 41% dos entrevistados como a rede social em que se sentem mais pressionados socialmente, seguido pelo Facebook, citado por 30%, TikTok (8%) e YouTube (6%).

Um terço das pessoas ouvidas pela pesquisa apontou que postagens com falsas imagens de felicidade e sucesso, feitas para provocar inveja em outros usuários, são mais prejudiciais à saúde mental do que conteúdos com conotação deliberadamente negativa – como o bullying, prática que tem impacto especialmente danoso em crianças e adolescentes. Além disso, 25% dos entrevistados afirmaram que as redes sociais atrapalham mais do que ajudam na luta contra a solidão.

Essa situação é preocupante e nos obriga a refletir. Quando usadas em excesso, as redes sociais podem criar uma relação de dependência com consequências como depressão, irritabilidade, sensação de isolamento, baixa autoestima, fobia social. Os relacionamentos interpessoais têm grande influência em nossa personalidade e visão de mundo. Quando essa troca deixa de acontecer, a pessoa se tranca dentro de si mesma com seu celular ou computador e é difícil encontrar a saída.

O quadro é particularmente grave na adolescência, fase de construção da identidade e da independência, em que a sociabilidade desempenha papel determinante. Um estudo recente da McAfee mostrou que o Brasil tem a maior exposição de crianças e jovens a aparelhos eletrônicos, principalmente smartphones e dispositivos móveis, nos dez países pesquisados. A taxa de uso desses aparelhos atinge 96% entre adolescentes e pré-adolescentes brasileiros. Esse simples dado já basta para dar o sinal de alerta.

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Claudio L. Lottenberg é mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), presidente do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein

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