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Agência Estado

O jogo de sete erros

Se, em 2018, a tragédia econômica e a Operação Lava-Jato compunham o pano de fundo, agora a pandemia e a inflação são temas predominantes

Eleições 2022

A polarização em 2022 guarda certa identidade com a de 2018, mas os candidatos adotam posturas bem diferentes | Foto: Getty Images

Muitos conhecem e jogaram o jogo de sete erros, cujo objetivo é identificar sete erros em duas imagens aparentemente idênticas. As eleições de 2022 são uma espécie de jogo de sete erros. A eleição, em si, parece igual à anterior, só que não é. 

As imagens das campanhas parecem semelhantes, mas diferem nos detalhes que farão toda a diferença este ano. A trajetória dos principais candidatos à Presidência, bem conhecidos dos eleitores, traz à mesa analogias que parecem apontar comportamentos previsíveis. 

Lula de 2022 parece o Lula de 1988, mas não é. Tampouco é o mesmo de 2002. Bolsonaro se parece com o candidato de 2018, mas não é. Ciro Gomes – que disputa sua quarta  eleição presidencial – também não é o mesmo de tempos idos. Nos detalhes estão diferenças relevantes.

Em 2002, Lula temia queimar a largada, por isso conteve delírios esquerdistas e impôs racionalidade a seu programa de governo, materializada na presença de Henrique Meirelles no comando do Banco Central.  Hoje acredita que sua experiência e seus canais de comunicação com o empresariado e setor financeiro podem lhe dar alguma tranquilidade.   

Em 2018, Bolsonaro consolidou sua campanha nas redes sociais. Hoje, a estratégia será diferente, visto que seu eleitorado está mudando, bem como as redes sociais. Além do mais, ele não precisou de palanques estaduais nem de estruturas partidárias para vencer naquele ano. Agora, porém, os palanques e os partidos aliados poderão definir o vencedor.  Para vencer, Bolsonaro terá que se adaptar a um novo tipo de campanha. 

Outros detalhes podem ser detectados na agenda e na moldura institucional da disputa. Coalizões entre partidos para as eleições legislativas foram radicalmente limitadas. O poder do presidente da República vem sendo reduzido pelo avanço do Legislativo e do Judiciário. Ainda no ambiente institucional, não há parâmetro histórico recente para o conflito entre as forças políticas que apoiam o presidente e as autoridades eleitorais em torno do voto eletrônico. 

O tempo é outro fator que indica diferença. Apesar de a polarização de hoje repetir a situação de 2018, existem detalhes que alteram o quadro, trazendo novas nuances. Na campanha passada, as escolhas estavam mais cristalizadas entre dois polos. Hoje, quando se observam os detalhes, constata-se que há tempo e espaço para alterações. Sobretudo pela questão da rejeição, que, como fator de escolha eleitoral, pode parecer semelhante à eleição passada. Mas não é o mesmo tipo de rejeição.

Em 2018, predominavam a repulsa ao meio político e um forte desejo de renovação. Hoje, a rejeição aos dois candidatos principais obscurece os demais temas. Se, em 2018, a tragédia econômica e a Operação Lava-Jato compunham o pano de fundo, agora a pandemia e a inflação são temas predominantes.  Assim, o combate à corrupção perdeu posição nas prioridades do eleitorado. 

A polarização em 2022 guarda certa identidade com a de 2018. Mas nos detalhes é diferente. Como Deus mora nos detalhes e o destino eleitoral depende deles, são eles que vão decidir as eleições. 

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