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Claudio Felisoni de Angelo

A saúde da figueira continua a requerer remédio amargo

Expressão se aplica a muitos daqueles que atacam a política de juros do Banco Central, especialmente integrantes do próprio governo

Figueira

“Pelos frutos conhecereis a figueira”, diz o Novo Testamento | Foto: Getty Images

Há um dito popular que diz que a diferença entre o remédio e o veneno é só a dose. Expressão essa que se aplica a muitos que atacam a política de juros do Banco Central. Nesse grupo de apoiadores da suposta sabedoria popular inclui-se o próprio governo.

Mas, vamos contrapor a essa famosa expressão uma outra ainda mais conhecida e retirada do Novo Testamento: “pelos frutos conhecereis a figueira”. Pois bem, será que os resultados da política de juros, os figos, mostram o acerto da política, ou seja, a figueira?

Em março de 2021 o Banco Central começou a trajetória de alta da taxa básica, indo de 2% a.a. (março/21) para 2,75% a.a. (maio/21). Aumentos sucessivos foram acontecendo até setembro de 2022. Manteve-se nesse nível até agosto de 2023. A partir daí duas quedas ocorreram uma em agosto de 2023, 13,25%a.a. e outra em setembro de 2023, 12,75% a.a.

O IPCA que estava em março de 2021 na casa de 0,93% a.m. caiu para 0,23% a.m. em agosto de 2023. Se examinarmos o gráfico da evolução mensal do IPCA vamos observar que com exceção de julho-setembro de 2022, o referido indicador ficou praticamente estável apesar do aumento substancial da taxa básica. Um movimento de baixa se nota a partir de maio de 2023. Ou seja, como sempre acontece, em economias com mercados menos competitivos a política de juros demora mais a surtir efeito.

Esses resultados da redução da inflação vêm se traduzindo também consistentemente na redução da inadimplência. O programa Desenrola também tem uma contribuição, porém marginal. A taxa de inadimplência pessoa física projetada pelo

IBEVAR – FIA (recursos livres) é de 5,68% para outubro de 2023 e de 5,5% para dezembro deste ano.

A figueira cumpriu sua função

Ou seja, a figueira, cumpriu sua função. Mas, além disso os ramos saídos do seu tronco lançaram um pouco de sombra refrescante sobre a inadimplência. É verdade que os figos não são lá essas coisas, mas são o que se pode esperar para o momento. Aliás, com o cenário internacional turbulento, é muito provável que o Banco Central reveja sua política de redução sistemática da taxa básica, isto é, uma dose maior do remédio obrigando a colheita de figos um pouco mais amargos.

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Claudio Felisoni de Angelo é professor e coordenador de Projetos da FIA Business School, ligada à Fundação Instituto de Administração da USP. Preside o conselho Laboratório de Finanças e Programa de Administração de Varejo da FIA. É professor titular do Departamento de Administração de Empresas da FEA/USP e presidente do IBEVAR - Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo.

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