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Sidney Klajner

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Gestão ambiental nos hospitais: desafios 365 dias por ano

Operando de maneira ininterrupta, hospitais comprometidos com a sustentabilidade precisam conciliar ações para mitigar os impactos ao meio ambiente sem que elas abalem outra dimensão fundamental: a qualidade da assistência e a segurança dos pacientes e dos profissionais

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Organizações hospitalares comprometidas com a sustentabilidade têm conseguido avanços importantes sem comprometer o atendimento | Foto: Getty Images

Hospitais funcionam 24 horas por dia, 365 dias por ano. São energia, água, gases diversos, materiais, medicamentos e outros insumos sendo consumidos em tempo integral. Evidentemente, tudo isso é essencial para que cumpram bem sua missão de cuidar dos pacientes.  Mas também é evidente que todos esses recursos indispensáveis na rotina da operação hospitalar geram impactos ao meio ambiente.

O desafio de minimizar esses impactos exige uma delicada equação em que um ponto a mais em prol da saúde do planeta, que refletirá na saúde da população, não pode significar um ponto a menos na assistência à saúde do paciente e na segurança deste e dos colaboradores. A boa notícia é que organizações do setor efetivamente comprometidas com a sustentabilidade – e aqui estamos falando especificamente da dimensão ambiental da sustentabilidade – têm conseguido avanços importantes, e o Einstein é um exemplo disso.

Nem todos sabem, mas os hospitais são importantes consumidores de energia – em níveis similares aos de uma indústria. O consumo de energia em suas diversas formas (elétrica, combustíveis, gás natural, etc.) responde por grande parte das emissões de gases de efeito estufa (GEE) de unidades hospitalares. Energia tem de ser garantida 100% do tempo, e o caminho a seguir na rota da sustentabilidade é um só: busca obsessiva de eficiência – mais ainda para uma organização como o Einstein que, como signatário do Race to Zero, campanha alinhada ao Pacto Global, assumiu o compromisso de reduzir em 50% suas emissões até 2030 e zerá-las até 2050.

Além de comprar apenas energia certificada, o Einstein tem investido bastante em projetos de eficiência energética. Ao lado das ações para otimizar o uso desse insumo, tem uma usina de geração fotovoltaica na Unidade Morumbi (uma segunda está em fase de contratação) e outra está sendo instalada na Unidade Alphaville. Todas as novas construções incorporam soluções de alto desempenho energético e hídrico. Por exemplo, o prédio do novo Centro de Ensino e Pesquisa do Einstein, que será inaugurado em breve, já entrará em operação com a certificação Leed (Leadership in Energy and Environment Design) na categoria Gold.

Outro componente importante no conjunto das emissões de um hospital são os gases voláteis, em particular o óxido nitroso, um gás anestésico usado em cirurgias. E, aqui, o desafio é enorme pela dificuldade de sua substituição, uma vez que qualquer alternativa teria de garantir a mesma segurança ao paciente para uma atividade médica crítica. É verdade que existem tecnologias sendo testadas, mas ainda não há um consenso de que tenham a mesma eficácia e segurança. A solução, por enquanto, é garantir o uso inteligente desse gás anestésico por meio de melhorias em equipamentos, cilindros e válvulas, ajustes e calibragem nas dosagens de vazões.

Em relação à água – cuja crise de escassez, sobretudo no Sudeste e Centro-Oeste ameaça tanto abastecimento quanto geração de energia hidrelétrica (além do impacto nos custos) –, eficiência também é a palavra-chave. Nos últimos 10 anos, o Einstein reduziu em cerca de 50% sua taxa de uso de água por meio de um conjunto de ações, como instalação de redutores de pressão, arejadores, projetos recorrentes para evitar perdas por vazamento ou falta de regulagem e reúso para as aplicações possíveis em um hospital (jardinagem, limpeza das garagens, carrinhos de resíduos, por exemplo). Nos últimos quatro anos, foram trocados mais de 50 mil itens de consumo final de água (torneiras, arejadores, restritor de chuveiro, etc.).

Pelas próprias características da atividade, hospitais também geram grande quantidade de resíduos sólidos – de lixo comum a materiais infectantes. O volume varia de acordo com o perfil de atividade e porte da instituição.  Um dos tipos de resíduo que mais preocupam é o infectante. Embora a legislação não exija, o Einstein submete esses resíduos a um processo de autoclavagem para garantir que, ao sair do hospital, não ofereçam risco biológico. Ou seja, o veículo da Prefeitura de São Paulo que vem preparado para coletar o lixo infectante no Einstein leva um material já livre de riscos.

Boa parte dos resíduos sólidos gerados em nossa organização é coletada de maneira seletiva, permitindo encaminhar para reciclagem aquilo que é reciclável. O restante é coprocessado em uma cimenteira. Além de não ocupar espaço em aterros sanitários, o coprocessamento contribui para reduzir emissões de GEE, pois o material substitui parte dos combustíveis fósseis usados nos fornos de cimento.  Paralelamente, o Einstein investe em ações de consumo consciente, como fez com a distribuição de kits com caneca e garrafas reutilizáveis de aço inox para os colaboradores, para evitar o uso de copos plásticos, e o estímulo ao transporte compartilhado, com uma estrutura corporativa segura para utilização de aplicativo de carona e até a possibilidade de aproveitar carona no carro do malote para fazer o trajeto entre nossas unidades.

Alinhado ao Pacto Global, o Einstein priorizou 11 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), sendo quatro deles diretamente relacionados a questões ambientais, todos com metas que se desdobram em projetos específicos e cujos indicadores são acompanhados por meio das métricas do Instituto Ethos. Anualmente, uma auditoria independente avalia o posicionamento do Einstein em cada uma dessas ODS.

Cultivar a sustentabilidade ambiental nas operações hospitalares é um processo mais complexo do que em outros setores da economia. Mas o Einstein tem conseguido plantar com sucesso iniciativas que fazem bem para as duas saúdes: a saúde dos pacientes que recebem nossos cuidados e a saúde do planeta.


Sidney Klajner é Cirurgião do Aparelho Digestivo e Presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Possui graduação, residência e mestrado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, além de ser fellow of American College of Surgeons. É coordenador da pós-graduação em Coloproctologia e professor do MBA Executivo em Gestão de Saúde no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Einstein.

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