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Sidney Klajner

Sidney Klajner

Inovação e propósito: em saúde, esse é o casamento perfeito

De novos dispositivos e equipamentos às tecnologias digitais, a inovação é o motor que acelera as transformações no universo da saúde. Investir em estruturas dedicadas é o caminho adotado por organizações que querem se manter na vanguarda, sempre fiéis ao seu propósito

Tecnologia na saúde

Projetos bem sucedidos de organizações de saúde mostram como as tecnologias digitais podem transformar um gigantesco volume de dados em inteligência para criar soluções que revolucionam processos | Foto: Getty Images

Seria possível a um hospital acompanhar em tempo real mais de uma centena de dados incluindo os sinais vitais dos pacientes que estão em suas salas cirúrgicas, unidades de internação e pronto atendimento e ter mecanismos automáticos de alerta sempre que fosse necessário intervir?

E será que conseguiria predizer quais pacientes do seu pronto-socorro precisarão ser internados nas próximas horas ou dias e fazer automaticamente a reserva de leito no setor da especialidade médica indicada para aquele diagnóstico?

Iniciativas como essas, que podem parecer fruto da imaginação, já são realidade no Hospital Israelita Albert Einstein – são inovações que combinam o conhecimento acumulado ao longo dos anos com uso de big data e inteligência artificial.

O primeiro exemplo é o da Central de Monitoramento Assistencial (CMOA), que monitora simultaneamente cerca de 150 indicadores de qualidade e segurança dos pacientes nos mais de 600 leitos do Einstein.

Cada indicador tem algoritmos com limites de normalidade. Quando há algum fora dos parâmetros esperados, o sistema emite um alerta para a equipe da central, que repassa a informação para os profissionais da linha de frente do atendimento para as intervenções necessárias. 

Outro exemplo de inovação está no sistema de predição de leitos adotado no pronto atendimento, que apresenta um nível de acurácia próximo de 90%, ou seja, ele simplesmente sabe quem vai precisar de internação em 9 a cada 10 casos.

Isso, além de agilizar a internação e a alocação do paciente no ambiente correto (paciente ortopédico no setor de ortopedia, por exemplo), também contribui para reduzir o tempo de permanência até a alta.

Projetos como esses mostram claramente como as organizações do setor de saúde podem aplicar as tecnologias digitais para transformar um gigantesco volume de dados em fonte da qual extrair inteligência para criar soluções que revolucionam processos, executando tarefas e gerando informações com níveis de rapidez e precisão impossíveis para o cérebro humano.

Aliás, é graças à tecnologia que médicos e profissionais de saúde recebem informações relevantes para melhor realizar seu trabalho e ganham mais tempo para dedicar seu cérebro e suas competências para o cuidado de seus pacientes, para tarefas que só eles podem fazer.

Mas soluções como essas que discutimos acima não brotam de uma hora para outra. Elas, na verdade, são resultado do conhecimento e expertise acumulados ao longo dos anos e dos investimentos em inovação e transformação digital realizados a partir de uma visão estratégica de construção do futuro.

A plataforma de telemedicina do Einstein, que vem registrando um crescimento exponencial, é outro exemplo disso. Somente entre março e maio de 2020, os primeiros meses da pandemia, o número de vidas elegíveis ao serviço (de colaboradores de empresas que contrataram o serviço) passou de 300 mil para 2 milhões.

Isso não teria sido possível se o Einstein não tivesse começado a investir na plataforma há mais de uma década e chegasse aos dias de hoje com robustez em termos de tecnologia e de estrutura operacional para prestar o serviço.

A inovação sempre esteve no DNA no Einstein, mas há sete anos essa dimensão ganhou uma nova dinâmica com a criação de uma Diretoria de Inovação e Transformação Digital, com equipe e estrutura dedicadas, incluindo um laboratório de inovação para desenhar e testar ideias.

Há quase quatro anos foi criada a Eretz.bio, incubadora de startups na área da saúde, que conta com mentoria de profissionais do Einstein e recursos que permitem construir protótipos, testar e aperfeiçoar soluções e produtos ainda na fase de desenvolvimento, por meio de metodologias ágeis, até que eles se tornem viáveis e escaláveis.

Trata-se de um ecossistema de inovação que permeia toda a organização e promove uma transformação cultural que contagia pessoas das mais diversas áreas, estimulando a interação e a colaboração.

Esse ambiente permite tanto construir soluções inovadoras mais complexas como encontrar respostas criativas para os gargalos do dia a dia. Possibilita, inclusive, transformar em realidade as boas ideias de um profissional ou de uma equipe assistencial, que, de outra forma, correriam o risco de permanecer apenas na cabeça de quem as imaginou.

O Escala é um exemplo. É um aplicativo desenvolvido por um médico para gerenciar a escala de plantões da unidade de terapia intensiva do Einstein e substituir o modelo até então utilizado, repleto de rabiscos e totalmente offline.

Em caso da necessidade da troca de um plantão, por exemplo, o modelo então vigente exigia ligações do médico requisitante a todos os outros da equipe para verificar a possibilidade e, uma vez combinada, a comunicação era feita ao gestor.

Agora, tudo é realizado por meio do aplicativo de planejamento e gerenciamento de escalas, incluindo troca de informações e atualizações em tempo real, além da geração de relatórios para a liderança.

O projeto foi incubado na Eretz.bio, ganhou o mercado e tornou-se o primeiro spin-off da incubadora. Hoje, o Escala tem um time de mais de 50 pessoas dedicadas ao atendimento de cerca de 280 clientes corporativos de diversas regiões do Brasil.

Esse ambiente propício à inovação e à agilidade característica das startups mostrou-se precioso também na pandemia de covid-19. Logo no início da crise sanitária, quando a febre ainda era um indicador crucial de infecção pelo novo coronavírus (hoje se sabe que muitos são assintomáticos), foi da união de competências e trabalho colaborativo de duas startups incubadas na Eretz.bio que surgiu o Fevver, equipamento no formato de totem que usa recursos de reconhecimento facial e inteligência artificial para a medição de temperatura corporal em ambientes com elevado fluxo de pessoas.

Atualmente, já são mais de 70 startups incubadas, inclusive do exterior, uma ultrapassagem de fronteiras acelerada com a forte virtualização das atividades exigida pelo isolamento social durante a pandemia. Atualmente também têm sido promovidos eventos com embaixadas e consulados visando tornar a Eretz.bio um hub de startups estrangeiras que tenham interesse em fazer negócios no nosso país ou tenham inovações que interessem ao Einstein trazer para cá, particularmente em áreas como biotecnologia.

Além disso, o Einstein criou recentemente um Fundo de Investimento e Participação, administrado por gestor externo, para investir em startups e novas tecnologias alinhadas com a proposta de valor e a missão da instituição.

Para o Einstein, todos os esforços de inovação e transformação são um meio para cumprir seu propósito de entregar vidas mais saudáveis, contribuindo, por meio de suas atividades no setor público e privado, para a construção de sistemas de saúde que combinem qualidade, inclusão e sustentabilidade.


Sidney Klajner é Cirurgião do Aparelho Digestivo e Presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Possui graduação, residência e mestrado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, além de ser fellow of American College of Surgeons. É coordenador da pós-graduação em Coloproctologia e professor do MBA Executivo em Gestão de Saúde no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Einstein.

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