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Claudio L. Lottenberg

Inovação na saúde tem potencial para reativar a economia

O país tem um inegável talento para abrigar as chamadas healthtechs

Telemedicina

Chegada da conexão 5G vai potencializar a eficiência dos serviços remotos e as startups terão um cenário positivo para crescerem | Foto: Getty Images

O Brasil se encontra em um momento de incerteza que causa reflexos na economia. São mais de 14 milhões de brasileiros desempregados, as expectativas de inflação vêm subindo (assim como os juros para contê-la), a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2022 está abaixo de 1% – tudo isso em grande parte reflete os efeitos da pandemia. Seria preciso que o país dispusesse de um setor que apresentasse um diferencial, no qual tivesse excelência e que pudesse atrair investimentos, gerar empregos, tivesse efeitos positivos sobre câmbio e inflação – e fosse como que um ponto de apoio para a retomada econômica mais vigorosa. A saúde poderia ser esse setor.

Isso porque a saúde tem um amplo espaço para inovação. O país tem um inegável talento para abrigar as chamadas healthtechs – as startups voltadas ao segmento médico e de ofertas de produtos e serviços na área. Segundo levantamento recente da consultoria Distrito, o número dessas empresas no país saltou de 248 em 2018 para 542 no ano passado. Ainda não há um “unicórnio” brasileiro (nome que se dá a startups avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais), mas o espaço para que ele surja está aberto.

Dados levantados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram isso, ao evidenciarem a queda na participação do governo federal: em 2020, o investimento público somou R$ 17,2 bilhões em ciência e tecnologia, contra R$ 19 bilhões em 2009 (valores já corrigidos pela inflação). A iniciativa privada precisará avançar nesse campo, dado que o investimento público teve um recuo. Isso tem, claro, que ser revertido, e é preciso mais investimento governamental em pesquisa, mas o setor privado pode trazer grandes avanços.

A telemedicina se mostrou bastante eficiente ao longo da pandemia e há potencial para ampliar as aplicações do contato remoto entre pacientes e profissionais da saúde. Para o futuro pode-se esperar o surgimento e a disseminação de cirurgias remotas ou procedimentos como ultrassonografias à distância. A chegada da conexão 5G ao Brasil vai potencializar a eficiência dos serviços remotos. As startups terão aí um cenário bastante positivo para surgirem e crescerem.

O que ficou claro com a pandemia é que o Brasil precisa internalizar mais a produção e o desenvolvimento de equipamentos, fármacos e insumos. Ficamos em uma situação de dependência de importações que não pode voltar a acontecer. A saúde dos brasileiros precisa ser prioridade, e por isso temos de ter mais recursos para pesquisa de ponta para que cada vez mais a jornada do paciente e a eficiência dos sistemas público e privado seja melhorada.

Para isso, o Brasil vai precisar, por óbvio, investir mais em formação de qualidade para profissionais da área da saúde, mas não só. Tecnologia da informação, engenharia de diversas especialidades, química fina, mesmo áreas legais e administrativas – e a lista continuaria. A inovação vai rearranjar diversas carreiras, numa configuração que hoje ainda nem podemos imaginar.

Além de tudo isso, inovar e desenvolver a área da saúde resultaria em um ganho de qualidade de vida gigantesco para a população brasileira. Incorporados ao Sistema Único de Saúde (SUS), tais avanços levariam serviços médicos de excelência a diversos pontos afastados dos centros urbanos onde o atendimento é ainda bastante precário. Os custos decrescentes que resultariam de melhorias trazidas pela tecnologia tornariam essa expansão possível. No setor privado, mais pessoas que assim o desejassem poderiam contratar planos de saúde – que hoje atendem cerca de 47 milhões de pessoas, mas poderiam chegar a muito mais.

A saúde é, de fato, uma área em que o Brasil tem o que mostrar, em termos de excelência e potencial de crescimento. No ponto em que o país se encontra, pode ser o caminho para dar início à retomada do crescimento.


Claudio L. Lottenberg é mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), presidente do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein

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