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Mônica Kruglianskas

Insights indicam rumos ESG na indústria paulista

Pesquisa da FIA Business School, em parceria com a FIESP, indicam que que a agenda ESG já integra a perspectiva estratégica da indústria paulista

Indústria

Setor financeiro tem um papel chave de incentivar empresas com melhor desempenho nas questões ESG | Foto: Getty Images

O segundo semestre de 2022 nos espera com uma série de eventos que ocuparão as manchetes da mídia: Copa do Mundo, Eleições no Brasil e a COP27 no Egito.  São eventos cujas participações individualizadas são imperceptíveis (com exceção do voto, que apesar de ser uma contribuição pequena, é de fundamental importância), mas que tendem a atrair as atenções da população e dos tomadores de decisões.

Tais eventos podem, portanto, retardar os avanços da transição rumo à economia de baixo carbono, pela procrastinação das medidas e iniciativas necessárias para o progresso desta agenda.  Para o Brasil, particularmente, esta transição não somente é uma oportunidade econômica ímpar, mas também é a grande chance de voltar às mesas de negociações internacionais sobre a agenda climática como parte da solução ao invés do problema.

Nos próximos meses, se o desmatamento for enfrentado com vontade política e o país souber fazer valer a sua matriz energética limpa no contexto do potencial mercado de créditos de carbono, o Brasil poderá atrair um importante fluxo de capital internacional para investimentos em direção à economia de baixo carbono. Enquanto isso, a Europa estará lidando com a crise energética que o inverno irá exacerbar.

É fato que presenciamos nos últimos dois anos uma avalanche de promessas corporativas sobre neutralização de emissões de carbono.  Importantes pronunciamentos por parte de vários CEOs de empresas de destaque com operações globais, se posicionaram com metas ambiciosas que são bem-vindas e necessárias.  Entretanto, a maioria destes líderes não sabe ainda, com segurança, como farão para atingir estas metas e suspeito que suas equipes tampouco. 

A compra de crédito de carbono pelas empresas emissoras é uma aliada da descarbonização, mas somente como recurso final depois que todas as emissões na sua cadeia produtiva tenham sido evitadas ou drasticamente reduzidas, através de inovações tecnológicas e implantação de novos modelos de negócio.

Isto, por si só, já é um desafio hercúleo e custoso, que requer uma visão sistêmica e estratégica financeira de curto, médio e longo prazo que permitam essa transição, afetando todo o seu ecossistema. 

Uma parte importante destas iniciativas está relacionada à gestão de carbono que trata das questões de controle e redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) . Esta gestão, que no jargão climático se refere a três escopos diferente,  fala de atividades em relação às quais a empresa tem controle direto, como a emissão de GEE na sua produção propriamente dita (escopo 1); na aquisição de energia para estes processos e nas atividades que a integram (escopo 2).

É no âmbito da integração que se abrange áreas onde a empresa já não tem controle ou poder de atuação direta (escopo 3) que se apresentam os maiores desafios.  Assim há abrangência nas emissões realizadas pelos fornecedores, distribuidores, transportadores, consumidores e demais stakeholders que, ao contribuírem com a operação produtiva ou com o uso dos produtos da empresa emitem gases de efeito estufa que agravam a crise climática que, por sua vez, se apresenta atualmente como um dos maiores desafios para a humanidade. Uma empresa não pode se auto-entitular neutra em emissões de carbono sem incorporar seu escopo 3 de emissões.

Recentemente, a FIA Business School, em parceria com a FIESP, realizou uma pesquisa sobre os rumos da agenda ESG na indústria paulista.  Os resultados deste estudo demonstraram claramente que a agenda ESG (Ambiental, Social, Governança) e da sustentabilidade em geral, já integra a perspectiva estratégica das empresas em, praticamente, todos os setores– em maior grau nas grandes empresas, mas também nas pequenas e médias.   

A pesquisa também revelou relevantes desafios para a indústria.  Uma considerável parcela das pequenas e médias empresas, muitas das quais integrantes da cadeia de fornecedores das grandes empresas, desconhece as questões ESG e sustentabilidade, e, portanto, não atua em sintonia com as metas de seus clientes, as grandes empresas.  Somente 30% dos fornecedores das grandes empresas cumprem com sucesso os indicadores de desempenho ESG por elas exigidos.

Além disso, a maioria das empresas, grandes ou pequenas , não estão sendo beneficiadas com condições favoráveis de financiamento por demonstrar bom desempenho no atingimento das métricas referentes aos aspectos ESG.

Acredito que os resultados da pesquisa podem ajudar a mapear os esforços necessários para uma atuação proativa que favoreça a perenidade e competitividade do setor industrial, e de forma mais genérica, da cadeia produtiva do país.

Levar conhecimento, capacitação e financiamento para as PMEs, que segundo o SEBRAE foram responsáveis por 76% das novas vagas de emprego do país em 2021 (1), por exemplo, se torna uma questão primordial para o atingimento das metas de descarbonização do país, e seu posicionamento na economia de baixo carbono nos próximos anos.  As soluções necessárias para o atingimento de uma economia de baixo carbono ainda estão em fase de criação e desenvolvimento.  

A cultura de inovação, tão almejada pelas grandes multinacionais, é quase natural nas empresas de menor porte, onde o empreendedorismo é uma característica básica e quase uma questão de sobrevivência. No entanto, esse ambiente que inclui startups de todos os tipos que eventualmente poderão ser incorporadas às grandes empresas, precisa ser nutrido e fortalecido.

E para progredirmos nessa jornada faz-se necessária a ação conjunta do poder governamental e privado, e da sociedade civil, por meio de políticas públicas que regulem a atuação em todos os níveis das cadeias produtivas e que promovam o desenvolvimento de novos e inovadores modelos de negócios. 

É evidente que o setor financeiro também tem um papel chave a desempenhar, com um posicionamento que claramente sinalize incentivos para aqueles atores com melhor desempenho nas questões ESG e financiando iniciativas focadas na transição econômica.

Esse financiamento contribui de forma intrínseca  para a consolidação de uma sociedade composta de cidadãos mais conscientes e atentos ao seu poder de compra e voto que nos permitirá seguir adiante.  Nessa jornada, todos, sem exceções, temos um papel a cumprir, sem hesitações ou retrocessos. Você já pensou se está cumprindo o seu?

1.Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) – dados correspondem ao mês de novembro de 2021

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Coordenadora Adjunta do Programa de Gestão Estratégica da Sustentabilidade da FIA Business School. Conselheira e Diretora Não Executiva em diversas organizações no Brasil e Europa.

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