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Agência Estado

O que quer dizer o crescimento nominal dos serviços em 2022?

O que interessa saber é o quanto do aumento de vendas representa um aumento de produção, ou seja, como o volume de serviços cresceu no período

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O faturamento do setor de serviços alcançou crescimento de 17,1% nos últimos 12 meses | Foto: Getty Images

O faturamento do setor de serviços capturado pela pesquisa mensal de serviços do IBGE, a PMS, cresceu 21,4% desde dezembro de 2019, sendo que o crescimento nos últimos 12 meses foi de 17,1%. Desde o final de 2019, houve aumento de 56% no transporte aquaviário, 53% no faturamento do setor de tecnologia da informação, 39% no setor de transporte terrestre, com apenas três setores crescendo menos de 10% no período (serviços às famílias, áudio visual, e telecomunicações, sendo que o faturamento dessa caiu 0,2%).

Tabela 1. Serviços: Faturamento, Volume e Preços (%, variação entre dez/19 e jun/22)

Fonte: IBGE e Banco Safra

Evidentemente, o que interessa saber é o quanto desse aumento de vendas representa um aumento de produção, ou seja, como o volume de serviços cresceu no período. Para se a chegar a esse crescimento “real”, é preciso conhecer a variação de preços nesses setores, o deflator correspondente.

O caderno de metodologia da pesquisa da PMS informa que o IBGE deflaciona o faturamento dos segmentos do setor de serviços aproveitando alguns dos itens que compõem o IPCA (1) . Esse deflator não é geralmente publicado, mas pode ser inferido comparando-se as variações publicadas do faturamento e do volume real.

No caso de transporte terrestre, por exemplo, o faturamento nominal cresceu 29% e o volume produzido expandiu 21% nos últimos doze meses. Deduz-se que o deflator utilizado foi de 7%. No caso do transporte aquaviário, o deflator do serviço nos últimos 30 meses foi de 12,5% (veja tabela acima). O baixo valor desses deflatores chama atenção em face do aumento de 57% no preço do diesel nos últimos doze meses.

Não há uma explicação imediata para a discrepância atual entre o deflator do transporte rodoviário e o preço do diesel, que é a maior da história (Gráfico 1). Independente de um eventual aumento do tráfego rodoviário de veículos pesados, sendo o deflator um dado refletindo a realidade dos fatos, então seu baixo nível sugeriria que as margens do frete terão sido grandemente comprimidas ou mesmo se tornado negativas, dado o peso do diesel nesse frete.


Gráfico 1. Inflação no setor de transporte terrestre (%, variação interanual)

Fonte: IBGE, ANP e Banco Safra

Uma outra hipótese para a atual discrepância pode ser sugerida pela indicação, na mesma nota metodológica do IBGE, de que há casos em que os itens do IPCA usados para deflacionar o faturamento de um segmento incluem preços administrados que só são reajustados anualmente.

Se o deflator utilizado subestimar a variação de preços dos fretes rodoviários praticados na economia, evidentemente a variação do volume real publicada poderá estar superestimada. Nesse caso, valeria a confrontação com o índice de tráfego pedagiado no Brasil, calculado pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias — ABCR, que indica crescimento de apenas 1,5% no tráfego de veículos pesados em julho de 2022 em relação ao mesmo mês do ano passado, inferior aos 21% apresentados na PMS para o mesmo período.

O mesmo tipo de indagação pode surgir no caso da tecnologia de informação, outro segmento que tem contribuído fortemente para o crescimento do volume do setor de serviços. Nesse caso, o crescimento nominal nos últimos doze meses foi de 15,4%, e o real divulgado como de 11,3%, implicando um deflator de 3,7% para o período, não obstante a subida do salário mínimo de 10% e especialmente a escassez de mão de obra no setor, que tem sem dúvida mostrado uma atividade muito dinâmica. Esse deflator é composto por itens da linha comunicação do IPCA, que podem não ser totalmente representativos para a PMS. Assim, pode-se indagar quanto o crescimento de 53% do faturamento do segmento desde 2019 representa de crescimento da produção, dado que deflator implícito dessa atividade foi de 7% e o salário médio do Brasil subiu 13% nos últimos dois anos e meio.

A verificação da representatividade do deflator nesses dois segmentos também é interessante porque, segundo os dados publicados, a atividade em ambos os segmentos continua crescendo fortemente mesmo depois do arrefecimento da pandemia, que diminuiu a demanda tanto da distribuição de produtos adquiridos pelo e-commerce e provavelmente do frete correspondente, quanto do desenvolvimento dessas plataformas e dos serviços de programação e manutenção correspondentes, como sugerido pelo desempenho das principais empresas de vendas eletrônicas.

A verificação do deflator também é relevante porque a contribuição dos segmentos aparentemente mais dinâmicos para o crescimento do índice de serviços é significativa. O peso de transportes terrestres na PMS é de 18% e o de TI 6%, correspondendo a perto de 1/4 do total dos serviços segundo a PMS. Essa contribuição parece explicar muito da mudança da dinâmica do setor de serviços apresentada pela PMS em relação ao período 2017-2019 no pré-pandemia (Gráfico 2), em contraste com aquela das vendas do varejo—PMC (Gráfico 3) e da produção industrial—PIM (Gráfico 4) e das, possivelmente explicando parte do dinamismo do IBC-Br construído pelo Banco Central (Gráfico 5), dado o peso de perto de 40% do setor de serviços neste último índice. Esse dinamismo poderá não encontrar respaldo completo no PIB estimado pelo IBGE, se o índice ABCR vier a influir na sua construção, conforme recentemente anunciado pela Associação.

Gráfico 2. PMS: Volume de Serviços (índice dessazonalizado)

Fonte: IBGE e Banco Safra

Gráfico 3. PMCA: Vendas no Varejo Ampliada (índice dessazonalizado)

Fonte: IBGE e Banco Safra

Gráfico 4. PIM: Produção Industrial (índice dessazonalizado)

Fonte: IBGE e Banco Safra

Gráfico 5. IBC-Br: Índice de Atividade Econômica (índice dessazonalizado)

Fonte: IBGE e Banco Safra

Assinale-se que os serviços às famílias, que ainda não se recuperaram totalmente da forte e persistente queda verificada durante a pandemia, devem apresentar continuado crescimento nos próximos meses (Gráfico 6), em decorrência dos estímulos fiscais embutidos na LC 194 que baixou os impostos estaduais sobre energia e na EC 123 que deverá distribuir R$ 41 bilhões para beneficiários do Auxílio Brasil e do Auxílio Gás, além de caminhoneiros e motoristas de taxi.

Gráfico 6. Produção de Serviços (índicede volume, dez/19+100)

Fonte: IBGE e Banco Safra

 (1) Veja a Metodologia da Pesquisa em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101740.pdf

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