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Eduardo Yuki

Ao longo dos próximos trimestres

Economia brasileira deve ter desempenho modesto nos próximos trimestres: PIB real deve crescer apenas 0,2% e a taxa de desemprego tende a ficar em 12,5% em 2022

consumo

O fraco desempenho do consumo das famílias ajudará a reduzir a inflação | Foto: Getty Images

A atividade econômica apresentará desempenho modesto em 2022. O PIB real deverá crescer apenas 0,2% e a taxa de desemprego permanecerá em torno de 12,5% ao longo do ano, patamar historicamente elevado.

O fraco desempenho do consumo das famílias ajudará na redução da inflação, que voltará para cerca de 4,7% até dezembro, ainda acima do centro da meta.

Nesse contexto, a autoridade monetária sinalizou que pretende aumentar a taxa de juros para patamar “significativamente” contracionista, o que também ajudaria a ancorar as expectativas de inflação do consenso dos economistas ao longo dos próximos trimestres.


Indicadores proprietários e setoriais sinalizam que o PIB real recuou no quarto trimestre do ano passado em relação ao período imediatamente anterior, com ajuste sazonal. A concretização dessa previsão significaria a terceira retração consecutiva do produto interno, sendo que os efeitos do aumento da taxa Selic serão observados com maior veemência somente em meados desse ano.

O ritmo de crescimento da concessão de crédito para pessoa física tem desacelerado recentemente, em resposta ao elevado endividamento das famílias e ao aumento da taxa de juros.

No sistema financeiro nacional, a taxa de juros de uma nova concessão de crédito passou de 23,2% a.a. em dezembro de 2020 para 28,2% em novembro de 2021, como mostra a Figura 1. O aumento do custo do financiamento em 5,0 p.p. reflete basicamente o aumento da taxa Selic, que subiu 5,75 p.p. no mesmo período.

Fonte: BCB. Elaboração: Safra

Outra forma de visualizar os efeitos do aperto da política monetária é pela retração dos agregados monetários. A base monetária diminuiu 3,9% em novembro, em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Deflacionando pelo IPCA, a base monetária real despencou 13,2% no período. Interessante notar a forte relação histórica entre os indicadores monetários e as vendas de varejo, como ilustra a Figura 2.

A deterioração nas condições de consumo das famílias e investimentos das empresas prejudicarão as encomendas e a produção nacional. Considerando que a relação produto por trabalhador já retornou para patamar anterior da pandemia, entendemos que o ritmo de geração de empregos também acomodará nesse ano.

Fonte: IBGE, BCB e Safra. Elaboração: Safra

Assim, estimamos que a taxa de desemprego permanecerá ao redor de 12,5% nos próximos trimestres, o que ajudará no processo de redução da inflação. Adicionando as hipóteses de que o preço do petróleo no mercado internacional permanecerá ao redor de USD 80 por barril e uma melhora no regime de chuvas, estimamos IPCA em 4,7% nesse ano.

Os núcleos da inflação também deverão arrefecer. O IPCA X3, que captura os itens mais relacionados à atividade econômica, atingirá apenas 3,0% no último trimestre desse ano (média trimestral com ajuste sazonal e anualizado), como mostra a Figura 3.

Fonte: IBGE e Safra. Elaboração: Safra


Enfim, um forte processo de desinflação para os próximos trimestres já está contratado, ao custo do fraco desempenho da atividade.
Apesar disso, a última ata do Copom indicou que o BCB pretende levar a política monetária para “patamar suficientemente contracionista” a fim de trazer as expectativas de inflação para o centro da meta no horizonte relevante. Esse compromisso fortaleceu a ancoragem das expectativas de inflação, mas reduziu os graus de liberdade de atuação do comitê.

Essa postura mais incisiva ajudou a reduzir as projeções de IPCA do consenso dos economistas para os horizontes mais longos. A estimativa para o ano de 2023 recuou de 3,50% na véspera do último Copom para 3,41% na última semana de dezembro. Para 2024, a inflação projetada passou de 3,10% para 3,00% no mesmo período, retornando para o centro da meta.

Outro fator relevante é a própria relação histórica entre as expectativas de inflação do relatório Focus e a inflação passada, como mostra a Figura 4. Acreditamos que o IPCA acumulado nos últimos doze meses atingiu o pico em novembro do ano passado, o que ajudará a conter as expectativas daqui em diante. A ancoragem dessas estimativas evitaria uma dose exagerada de aumento da taxa de juros pela autoridade monetária.

Fonte: IBGE, BCB e Safra. Elaboração: Safra


Portanto, a atividade econômica deve apresentar desempenho modesto nesse ano, o que ajudará na redução da inflação corrente e contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação do consenso ao longo dos próximos trimestres.


Eduardo Yuki é Superintendente Executivo de Economia do Banco Safra. Atua há mais de vinte anos no mercado financeiro. Possui mestrado em Teoria Econômica pela Faculdade de Economia e Administração (FEA), da USP.

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