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Agência Estado

Segundo turno, para que te quero…

Não se pode dizer que os caciques do Centrão irão abandonar ostensivamente Bolsonaro no segundo turno. Mas boa parte do grupo considerará encerrada sua missão no  governo e vai olhar para o futuro

Eleições 2022

Não há, apesar de o pacote eleitoreiro de Bolsonaro ter começado a rodar, qualquer garantia de que haverá segunda rodada nestas eleições | Foto: Getty Images

A pouco mais de 50 dias do primeiro turno da eleição, Jair Bolsonaro faz sua última tentativa de voltar a se tornar competitivo na disputa pela reeleição, condição que perdeu ao longo dos últimos meses, quando comeu poeira, bem atrás do ex-presidente Lula nas pesquisas. Com o início dos pagamentos do aumento de R$ 200 no Auxílio Brasil e do vale gás nesta terça, coincidindo com o noticiário de uma inédita deflação de 0,68% em julho – ainda que não tenha chegado aos alimentos – o Planalto espera criar uma onda favorável que leva o presidente a crescer de 1,5 a 3 pontos percentuais nas pesquisas.

Para ganhar? Não. Para reduzir a diferença entre ele e seu principal adversário, que varia muito de pesquisa para pesquisa, alcançando 17 pontos na presencial do Datafolha e se reduzindo a algo entre seis e oito pontos percentuais em institutos que trabalham com metodologias telefônicas e remotas. Mas nem o mais otimista dos bolsonaristas, em sã consciência, prevê hoje que Bolsonaro ultrapasse Lula antes de 2 de outubro – ou mesmo que chegue a um empate fora da margem de erro. O objetivo é apenas garantir a realização de um segundo turno.

E daí? Em todos os levantamentos, sem exceção, o presidente perde para o petista no segundo turno – embora Lula venha se empenhando com afinco para vencer no primeiro. Mas quem trabalha para forçar a realização de uma segunda rodada, notadamente os políticos do Centrão alojados no governo, tem suas razões particulares também. Na verdade, há duas camadas de preocupação: na superfície, o discurso dos governistas invoca o chavão de que segundo turno é outra eleição, que zera  jogo e, portanto, que haveria condições de uma virada favorável a Bolsonaro. Em tese, poderia. Mas poucos acreditam nisso. Apenas três semanas separam o primeiro turno do segundo.

De forma mais subterrânea, emerge outro cenário. O segundo turno, mesmo para confirmar uma derrota do presidente da República, interessa muito aos aliados políticos do Planalto. Serve, sobretudo, a novas alianças dos candidatos, que correm atrás de forças derrotadas na primeira etapa.  Buscam um arranjo que lhes permita ganhar a eleição, mas também assegurar a governabilidade.

Esse seria, muito provavelmente, o caso de Lula: sua vantagem razoavelmente segura sobre o opositor, indicando uma vitória previsível, poderia atrair forças para articular, por exemplo, uma base no Congresso. PSD, União, MDB, setores do PSDB e outros partidos de centro e centro-direita estão aí para isso – recebendo em troca, é claro, ministérios e outros espaços no futuro governo. Seria também o momento de se acertar com candidatos a governador que disputam o segundo turno nos estados.

Não se pode dizer que os caciques do Centrão irão abandonar ostensivamente Bolsonaro no segundo turno. Mas boa parte do grupo considerará encerrada sua missão no  governo e vai olhar para o futuro – a perspectiva de eleição do petista. O novo Legislativo já estará eleito, e a disputa de poder pelo comando da Câmara e do Senado, protagonizada pelos atuais ocupantes, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, correndo solta. É na negociação do segundo turno que devem ser celebrados esses pactos, e alguns deles podem definir o perfil e a composição do governo.

Não há, apesar de o pacote eleitoreiro de Bolsonaro ter começado a rodar, qualquer garantia de que haverá segunda rodada. Especialistas em pesquisas acreditam mesmo que os efeitos dessas medidas nas intenções de voto do presidente podem ser modestos. Os próximos 50 dias dirão. Mas uma coisa é certa: o segundo turno tem lá sua utilidade para muita gente.

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