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Maroni João da Silva

Vai Brasil, sonhar é preciso, sempre!

Frustração com a derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo pode causar efeitos tóxicos sobre o clima organizacional das empresas

torcida brasileira

Ganhar ou perder faz parte das regras do jogo, mas o difícil é convencer a torcida brasileira | Foto: Estadão Conteúdo

De que forma a cultura organizacional das empresas pode ressignificar a derrota como fator de aprendizagem comportamental? A pergunta se impõe diante de eventuais efeitos tóxicos sobre o clima organizacional em consequência da frustração motivada pelo mau desempenho da seleção brasileira na Copa do Mundo.

Ganhar ou perder faz parte das regras do jogo, tanto em disputas desportivas como nas que envolvem negócios. Mas a reversão de expectativa sobre a performance da equipe pode ter afetado negativamente rituais e outras práticas de motivação de funcionários de empresas que pegaram carona no simbolismo da vitória do time que atua de forma integrada.

Por outro lado, é possível também que uma insatisfação não revelada por algum funcionário, sobre o comportamento de uma determinada liderança, seja projetada na frustração com a perda do Hexa. E esta, por sua vez pode se alastrar na empresa, causando deficit emocional, se não captada por algum tipo de pesquisa.

Por meio deste artigo busca-se apontar dicas que evitem transformar o ambiente interno das empresas em uma arena tensionada pela intolerância ao erro. O cuidado se aplica principalmente a certas organizações, cujas relações sociais são pautadas por disputas e vaidades visando potencializar resultados.

Tal estratégia nem sempre é plausível para a saúde mental das pessoas nem para a produtividade das empresas, que nesses casos são normalmente afetadas pela insatisfação de seus funcionários no trabalho. A Síndrome de Burnout e o desligamento surgiram nessa pegada.

Às vezes, quando não enfrentado com as ferramentas adequadas, esse tipo de desvio acaba alimentando a subcultura do êxito a qualquer custo, e o que é pior, a insegurança psicológica. Esta, por sua vez, tem o poder de fomentar atitudes e comportamentos que operam em total desconformidade com os objetivos estratégicos do negócio.

É consenso entre consultores e gestores de RH que a existência de conexão humana nas empresas é condição sine qua non no combate a esse tipo de instabilidade emocional. Em síntese, significa que as práticas relacionais devem primar pela interação interpessoal, empatia e cooperação.

O contraponto à insegurança deve focar também a aceitação da diversidade e apoio mútuo de forma que as pessoas se sintam acolhidas, felizes e confortáveis. Conforto nesse caso implica, sobretudo, não ter medo de errar nem de enfrentar derrotas.

Ressalte-se que, quando bem estruturada, a cultura do erro pressupõe aceitar a vulnerabilidade e fraquezas humanas, assim como sua capacidade de autoconhecimento visando inclusive se refazer para enfrentar novas batalhas. Afinal, navegar é preciso.

Aliás, como bem disse o ex-presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln, “o campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens que tombaram antes de vencer.”

Como pensador contemporâneo, o também norte-americano Steve Jobs celebrizou-se ao relativizar o trauma do erro, com o seguinte recado: “você pode encarar um erro como uma besteira a ser esquecida ou como um resultado que aponta uma nova direção”.

Contudo, rechaçar o estigma do derrotado como incapaz, em contrapartida ao campeão, a quem são atribuídos sempre todos os méritos nas empresas, não é tarefa fácil. Redes sociais com foco em negócios estão cheias de narrativas que buscam legitimar tipos humanos supostamente “inquebráveis”, “invencíveis” etc.

O imaginário organizacional de empresas bem-sucedidas também aponta, às vezes, nessa direção. Quem não lembra dos rituais de horror a que foram submetidos funcionários de empresas de ponta, por não terem alcançado as metas mensais de desempenho?

Graças à maturidade das culturas de negócios e da própria dinâmica social, dentro e fora das empresas, práticas de assédio desse tipo foram bastante reduzidas. Destaque-se o peso atribuído atualmente à responsabilidade social por algumas empresas, nas quais a diversidade vem empoderando pessoas e ampliando o acolhimento.

Os padrões de governança foram otimizados, sobretudo por conta da implementação dos conceitos da ESG, mas estamos longe da unanimidade. De 750 companhias que impactam positivamente a sociedade e o meio ambiente, em nível mundial, só 39 são brasileiras, segundo a edição 2021 do ranking “Best For The World”.

Mas, seja como for, o sonho do Hexa não acabou; foi apenas adiado. É claro que, para chegar lá, muita bola terá que rolar, dentro e fora do campo. Contudo, como diz o poeta desconhecido, “o futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos”. Então, vai Brasil!

Feliz Natal a todos e próspero Ano Novo!

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@maronisilva é jornalista, escritor, Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP, sócio-diretor da Textocon, Comunicação & Cultura Organizacional, autor dos livros Magazine Luiza – Negócio e Cultura e O lado místico do comércio, além de coautor de Gestão de Pessoas no século XXI: Desafios e Tendências para além de modismos.

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