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Plano fiscal britânico que abalou os mercados ameaça governo de Liz Truss

Os cortes de impostos pegaram o mercado financeiro de surpresa, deixaram a libra britânica em queda livre e colocaram em xeque o futuro político da primeira-ministra Liz Truss

Liz Truss

Liz Truss defendia que o governo britânico precisava tomar ações urgentes “para fazer a economia crescer e também lidar com a inflação” | Foto: Divulgação

A primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, defendeu hoje o seu polêmico plano fiscal, que envolve amplos cortes de impostos e aumento de gastos, e minimizou a reação negativa dos mercados financeiros, ao dizer que está disposta a tomar “decisões difíceis” para garantir a recuperação da economia britânica.

Os cortes de impostos pegaram o mercado financeiro de surpresa, deixaram a libra britânica em queda livre e colocaram em xeque o futuro político da primeira-ministra. Em alta, a oposição trabalhista aproveita o momento para se apresentar como o partido da responsabilidade fiscal.

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Nos primeiros comentários públicos desde que seu governo anunciou o plano, na semana passada, Truss disse que o Reino Unido está enfrentando “tempos econômicos muito, muito difíceis”, mas ressaltou que os problemas são de ordem global e foram deflagrados pela invasão da Ucrânia pela Rússia.

A premiê falou após o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) anunciar nesta quarta-feira, 28, uma intervenção no mercado de bônus do governo britânicos – os chamados Gilts -, numa tentativa de estabilizar os ativos financeiros. Nos últimos dias, a libra atingiu mínima histórica frente ao dólar e o rendimento do Gilt de 10 anos saltou aos maiores níveis desde 2008, em reação ao pacote.

À rádio BBC, Truss disse que o governo britânico precisava tomar ações urgentes “para fazer a economia crescer e também lidar com a inflação”, que está no maior nível em cerca de quatro décadas.

“É claro que muitas medidas que anunciamos não irão acontecer da noite para o dia. Não vamos ver o crescimento surgir da noite para o dia”, disse a premiê. “O importante é que estamos colocando este país numa trajetória melhor no longo prazo”, acrescentou. 

Primeira-ministra britânica enfrenta crise prematura

A primeira-ministra britânica, Liz Truss, teve um início difícil. Após a morte da rainha Elizabeth II, com apenas dois dias no cargo, Truss agora enfrenta uma crise fiscal desatada por uma promessa de sua campanha: cortar impostos. A proposta, porém, anunciada por Kwasi Kwarteng, seu chanceler do Tesouro – uma espécie de ministro da Economia – não prevê redução de gastos, o que vem fazendo os mercados desabarem e ameaça abreviar seu govern.

Os cortes de impostos pegaram o mercado financeiro de surpresa, deixaram a libra britânica em queda livre e colocaram em xeque o futuro político da primeira-ministra. Em alta, a oposição trabalhista aproveita o momento para se apresentar como o partido da responsabilidade fiscal.

Especialistas preveem que a libra atinja a paridade com o dólar pela primeira vez desde o Brexit e a incerteza aumente a respeito do futuro de Truss. “É perfeitamente possível que ela seja substituída antes da próxima eleição”, disse Tim Bale, professor de política da Universidade Queen Mary, de Londres. 

A crise prematura da nova primeira-ministra é resultado do momento escolhido para executar suas propostas radicais. Cortar impostos no momento em que o Reino Unido registra uma inflação de quase dois dígitos pela primeira vez em décadas e quando os bancos centrais do mundo estão aumentando os juros, é mais do que uma exceção econômica.

Para Jonathan Portes, do King’s College, Truss poderia ter adotado uma abordagem mais cautelosa, promovendo um crescimento da economia antes de tentar cortar impostos. “Mas isso nunca foi considerado, porque Truss e Kwarteng são evangelistas do livre mercado, que acreditam ardentemente que o corte de impostos reacenderá o crescimento”, disse Portes.

Durante a campanha, Truss se inspirou em Margaret Thatcher, que também anunciou uma série de medidas de livre mercado assim que assumiu o cargo de primeira-ministra e passou por anos turbulentos.

Ao contrário de Truss, porém, Thatcher se preocupava em conter a inflação e fortalecer as finanças públicas – ela até aumentou impostos em 1981, antes de reduzi-los anos depois. (AE)

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