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É ‘muito cedo’ para baixar os juros, diz presidente do BC

Presidente do Banco Central lembra que existem riscos, mas destaca que o Banco Central está vigilante e que os juros podem voltar a subir

Roberto Campos Neto

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que a retomada da alta dos juros não depende de apenas um fator, mas de um conjunto de variáveis | Foto: José Cruz/Agência Brasil

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, evitou comentar quão “suficientemente prolongada” deve ser a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em níveis elevados para que se alcance a meta de inflação.

“Vai depender de como o processo inflacionário se desenvolve. Não temos como quantificar o que é suficientemente prolongado. Deixamos claro que existem riscos para as projeções, que estamos vigilantes e que podemos inclusive voltar a subir os juros”, afirmou Campos Neto.

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O presidente do BC disse que a possibilidade de retomada da alta dos juros não depende de apenas um fator, mas de um conjunto de variáveis. “Não tomamos atitudes ligadas a apenas uma variável. Falamos e temos uma preocupação com a inflação de serviços. Tem um tema que ocorre em todo o mundo que é uma mudança estrutural de mão de obra.”

Ele esclareceu ainda que o Comitê de Política Monetária (Copom) considera como “redor da meta” um intervalo entre 0,2 e 0,3 ponto porcentual para cima ou para baixo.

Campos Neto minimizou a decisão da última reunião do Copom tomada sem unanimidade pela primeira vez em muito tempo. Ele argumentou que o voto dissidente de dois diretores era por uma alta residual de apenas 0,25 ponto porcentual.

“Não foi uma diferença muito grande. O principal debate era se os 0,25 p.p, (adicionais) fortalecia a mensagem ou não. Entendemos que não fazia tanta diferente, mas alguns membros entenderam que como mensagem era importante e que alguns componentes inflacionários podiam ter impactos mais persistentes”, detalhou Campos Neto.

Questionado se o Copom pretende deixar mais transparente no futuro o posicionamento de cada membro do colegiado, respondeu que ao longo do tempo deve haver um processo para que o mercado olhe mais as opiniões individuais de cada diretor. “Não entendemos que o dissenso é usado para mensagem, mas, sim, para refletir de fato o que aconteceu na reunião”, concluiu.

Divergências com o mercado sobre estimativas de inflação

O presidente do Banco Central ressaltou que as diferenças de projeções entre o BC e o mercado para a inflação decorrem de hipóteses e parâmetros. “Uma delas é a persistência de choques industriais, nosso hiato é mais aberto, há um debate sobre se a inércia mudou ou não, e tem o tema da potência da política monetária”, disse.

Campos Neto afirmou que o cenário alternativo de inflação apresentado pelo Copom com hiato zero não significa que o colegiado não acredita no seu modelo, que estima o hiato em -0,9% no segundo trimestre. No mesmo período, a mediana do mercado é de -0,2%, segundo o questionário pré-Copom.

Segundo o presidente do BC, a intenção com o cenário alternativo foi “elucidar as possibilidades”. Neste contexto, as projeções do BC para a inflação ficam um pouco mais altas, mas ainda “ao redor da meta” em 2024 (3,00%). Para 2023, passa de 4,6% no cenário de referência para 4,9% e, para 2024, de 2,8% para 3,00%, nesta ordem.

“Não significa que entendemos que nosso modelo não é bom previsor de hiato. Há muita incerteza. Entendemos que ajudaria a elucidar as diferentes possibilidades com cenário alternativo com hiato zero, lembrando que o mercado tem projeções muito diferentes”, disse ele.

Campos Neto considerou que o cálculo do hiato é bastante difícil e tem se tornado mais complexo, com discussões de mudança estrutural na mão de obra após a pandemia e sobre a medição do Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci).

“O ponto principal de termos feito o cenário alternativo foi dar um guia para o mercado sobre quais seriam as possibilidades”, repetiu Campos Neto. “O objetivo do exercício alternativo foi pensar qual é o impacto na projeção de visão diferente sobre hiato corrente”, reforçou o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen. (AE)

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