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Consumo das famílias desacelera e ajuda a segurar inflação em 2023

O maior risco de alta na inflação em 2023 está na necessidade de reversão dos cortes de impostos indiretos sobre combustíveis no governo anterior

Mulher no supermercado

Efeito retardado do aumento da taxa de juros continua segurando o consumo e a inflação no início de 2023 | Foto: Getty Images

Qual a tendência da inflação no Brasil nos próximos meses? O tema foi o destaque do resumo semanal apresentado em vídeo pelo estrategista de investimentos do Banco Safra, Luiz Augusto Zordan.

Os aumentos de preços das commodities e o aumento da mobilidade na primeira metade de 2022 levaram a inflação brasileira a um ritmo anualizado de 12,4%. A alta dos preços foi disseminada entre todos os segmentos do consumo, com os problemas nas cadeias de produção ao redor do mundo pressionando o preço dos bens manufaturados.  A inflação de bens industrializados alcançou 14,2%, e a de serviços ficou em 10,5%. 

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Em meados do ano houve uma súbita queda dos preços administrados no Brasil, devido à redução dos tributos sobre combustíveis e energia elétrica.  Além disso, a queda das commodities no mercado internacional e o menor crescimento mensal dos salários ajudaram a reduzir o ritmo de alta dos custos de produção. 

O consumo das famílias desacelerou, tanto o de bens quanto o de serviços, diminuindo a  pressão sobre preços. Assim, a economia registrou deflação no segundo semestre. A inflação anualizada dos bens industrializados diminuiu para 5,2% no período e a de serviços para 4,7%, ambas abaixo das observadas no primeiro semestre.  

No final, o IPCA de 2022 ficou em 5,8%, com um ritmo mensal relativamente brando nos  últimos meses do ano.  Esse ritmo continuará neste início de 2023 com os efeitos defasados da política monetária de juros altos e do menor impulso fiscal. 

Como fica a inflação no Brasil e nos Estados Unidos em 2023

O consumo das famílias brasileiras deve cair de 4,2% em 2022 para cerca de 1,4% em 2023. A inflação do atacado deverá ser afetada também pelo menor crescimento previsto para a economia global, que tem aliviado os preços das commodities, acenando para uma dinâmica do IPCA mais favorável.  

Os riscos de alta para a inflação em 2023 estão principalmente na necessidade de se reverter os cortes de impostos indiretos no fim do governo anterior. A expectativa de volta do PIS/Cofins sobre gasolina, etanol e gás natural veicular deve somar 0,7% à  variação do IPCA no ano.

Se houver alguma recomposição de ICMS sobre gasolina, haverá pressão adicional de 0,3 ponto percentual no IPCA, levando a inflação de 2023 para perto de 6% 

Nos Estados Unidos, a inflação na segunda metade de 2022 mostra alívio sob vários ângulos. Alguns dos componentes do índice de preços com maior alta nos últimos 18 meses parece estar perdendo impulso, ou mesmo apresentando queda.  

Assim, a despeito do mercado de trabalho aquecido, a inflação de bens tem sido mais benigna e a dos serviços não é exageradamente alta. O núcleo da inflação ao consumidor ficou em 3,1% no quarto trimestre do ano passado, bem abaixo do resultado de 6,8% no primeiro semestre. 

 Essa desinflação está baseada na trégua nos preços das commodities, melhora das cadeias de produção ao redor do mundo e estabilização do consumo de bens industrializados. Com isso, tem havido aumento de estoques e queda de preços de alguns produtos, dentre os quais,  veículos usados. 

Os desafios para a produção de veículos novos pela falta de peças desviaram a demanda para veículos usados, cujos preços subiram 51% entre dezembro de 2019 e o final de 2021.  

A normalização das condições de oferta de veículos novos ao longo de 2022 possibilitou a recomposição dos estoques desses veículos e a queda em 9% do preço dos veículos usados no ano passado.  

Essa queda deve prosseguir, dado que os preços de veículos usados permanecem ainda em patamar historicamente elevados e dada a melhora da oferta de veículos novos. 

Outro componente da inflação americana que deve desacelerar é o aluguel. O preço dos imóveis residenciais começou a cair, na esteira do aumento dos juros. Historicamente, a variação do preço das residências antecipa a inflação de aluguel em pouco mais de um ano, sugerindo que esse item tenha uma evolução mais benigna em breve. 

A inflação de serviços excluindo aluguel e passagem aérea também tem arrefecido, ainda que em ritmo lento. A menor pressão nos preços de serviços, apesar do mercado de trabalho estar aquecido, sugere que o aumento dos salários está sendo contrabalançado por um aumento de produtividade. 

A provável melhoria da produtividade do trabalho vem sendo capturada pelos indicadores proprietários do Safra, que já anteciparam um desaquecimento do custo unitário do trabalho no último trimestre de 2022. 

Em suma, a atual desinflação de bens industrializados deverá ser acompanhada pelo arrefecimento de aluguel ao longo de 2023 e também da inflação de serviços. Essa combinação levará o núcleo da inflação para 3,4% até o final desse ano e permitirá que o Federal Reserve encerre o ciclo de aperto monetário nesse trimestre, com os juros entre 5% e 5,25%. 

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