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‘Credit crunch’ nos Estados Unidos afeta o mercado de capitais e dificulta o crédito

Crise do crédito foi tema da abertura do Safra Invest Day, que reúne cerca de 700 assessores de investimentos de todo o País no Pavilhão Pacaembu, em São Paulo

Safra Invest Day

Joaquim Levy, André Jakurski e Rodrigo Azevedo na abertura do Safra Invest Day, com mais de 700 participantes | Foto: Ricardo Hara

As medidas para conter a crise de crédito afetam a economia brasileira e podem prejudicar as ofertas de ações, segundo especialistas que participaram da abertura do Safra Invest Day, evento com mais de 700 assessores de investimento de todo o País promovido pelo Safra Invest, no Pavilhão Pacaembu, em São Paulo.

O debate inicial foi mediado pelo ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Banco Safra. Levy debateu a conjuntura mundial com André Jakurski, sócio fundador da JGP, Rodrigo Azevedo, sócio-fundador da área macro da Ibiuna Investimentos e Rogério Xavier, coordenador do Comitê Executivo e diretor responsável pela área de Juros da SPX Capital.

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Para André Jakurski, o ano de 2023 está mais desafiador, pois as tendências não são claras e há sinais de recessão na economia mundial. Segundo ele, nos Estados Unidos a preocupação com o crédito será maior a partir de agora, após a quebra dos bancos Silicon Valley e Signature.

“O aperto de crédito, que já vinha acontecendo, deve piorar com o episódio da quebra dos bancos. Há um ‘credit crunch’ potencial, com dificuldade para emissões no mercado de capitais e diminuição da oferta de crédito para pequenas e médias empresas, o coração dos Estados Unidos. Elas são muito financiadas pelos bancos médios e pequenos, que levaram um tiro forte. Mesmo os que não quebraram estão pela bola 7 na perspectiva do mercado”, comentou.

Segundo o executivo, o mercado atualmente está muito preocupado com essas instituições, e isso pode implicar em um aperto de crédito. “Outros indicadores da economia americana mostram desaceleração. Já a China está se recuperando no setor de serviços e isso não vai ajudar o Brasil.”

Rodrigo Azevedo, da Ibiuna Investimentos, destacou que os Estados Unidos são mais importantes para o Brasil do que a China atualmente. “O Federal Reserve olha a inflação e a estabilidade financeira. Hoje, a inflação ainda está elevada, com o núcleo entre 6% e 7% em 12 meses desde outubro. Isso mostra que a alta dos juros ainda não está afetando os estímulos à economia lançados durante a pandemia de covid-19”, disse.

Quanto à estabilidade financeira, Azevedo ressalta que o sistema “começou a engasgar”. “É um processo muito parecido com um terremoto, acho que teremos mais abalos”, afirmou ele, em referência aos dois bancos que quebraram nos últimos dias.

Se o Fed iniciar o processo de desaceleração ou redução dos juros, para aliviar a pressão sobre as instituições financeiras, a liquidez no sistema monetário mundial pode melhorar, e isso pode favorecer a economia brasileira., afirmou Azevedo.

Para Rogério Xavier, da SPX Capital, os EUA devem olhar mais atentamente para a estabilidade do sistema financeiro para conter a crise. Mas ele não espera melhora da liquidez. “O nível de juros mais baixo do que o atual não deve gerar aumento de liquidez”, comenta ele. “Na economia americana, juros de 3% ou 3,5% ao ano não são estimulativos para as economias emergentes”, disse Xavier.

Diante deste cenário mais desafiador, Jakurski é menos otimista quanto ao crescimento da economia brasileira. Segundo ele, o Brasil ainda é um país mais isolado e a possível crise que se aproxima pode não afetar o sistema financeiro, pois os bancos aqui são mais resilientes.

“A economia é muito fechada ainda, salvo as exportações de produtos básicos. O Brasil está bem defendido. Não significa que esteja bem. Vários fatores dificultam o crescimento, como a baixa popança, baixos investimentos e baixa produtividade, além do custo Brasil elevado. O País pode crescer de 1% a 1,5%, puxado pelo agronegócio”, afirmou.

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