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Saúde exclui, mas Anvisa mantém vacinação de adolescentes

Estado de São Paulo critica medida do Ministério da Saúde e mantém calendário de vacinação para adolescentes a partir de 12 anos

adolescente vacinada

Medida do Ministério da Saúde cria insegurança e causa apreensão em milhões de adolescentes e famílias, segundo o governo de São Paulo | Foto; Getty Images

Contrariando a recomendação de especialistas, o Ministério da Saúde retirou adolescentes de 12 a 17 anos sem comorbidades da lista de grupos cuja vacinação contra a covid-19 é recomendada. Anvisa, porém, manteve a autorização do imunizante da Pfizer para essa faixa etária.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que partiu do presidente Jair Bolsonaro a orientação para rever a vacinação de adolescentes. O presidente confirmou, em conversa com o ministro transmitida por redes sociais.

A Anvisa, contudo, emitiu nota na noite desta quinta-feira mantendo a liberação de uso da vacina da Pfizer em adolescentes e reforçou a existência de dados de segurança e eficácia.

Ministro justificou decisão em nota

Em nota oficial divulgada no mesmo dia em que o ministro Marcelo Queiroga disse haver ‘excesso de vacinas’ no País, o Ministério da Saúde pede que sejam vacinados apenas os adolescentes com comorbidades ou privados de liberdade. O uso da vacina da Pfizer neste grupo foi autorizado pela Anvisa.

Na nota, o ministério elenca seis pontos para justificar sua decisão. O primeiro diz que a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda a imunização de crianças e adolescentes com ou sem comorbidades. Na verdade, não há orientação contrária da entidade para a vacinação dessa faixa etária.

A recomendação da OMS é para que os menores de idade só sejam imunizados depois que todas as pessoas dos grupos de maior risco estejam vacinadas. No Brasil, a vacina já foi ofertada a pessoas mais vulneráveis à covid-19.

Saúde argumenta que adolescentes sem comorbidades apresentam poucos sintomas

O documento do ministério, assinado por Rosana Leite de Melo, secretária extraordinária de Enfrentamento à covid-19, afirma que a maioria dos adolescentes sem comorbidades são assintomáticos ou apresentam poucos sintomas.

No entanto, especialistas dizem que vacinar os mais jovens é uma estratégia importante para frear a transmissão do vírus.

Outro trecho da nota do ministério diz que “os benefícios da vacinação em adolescentes sem comorbidades ainda não estão claramente definidos”.

A vacina da Pfizer, único imunizante autorizado no Brasil para uso em adolescentes, já foi amplamente testada nessa faixa etária. Outros países como Estados Unidos, Chile, Canadá, França e Israel também usam a Pfizer em adolescentes.

Nésio Fernandes, secretário de Saúde do Espírito Santo e vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) na região Sudeste, disse em sua conta no Twitter que a nota é “vaga” porque não suspende nem contra-indica a vacinação de adolescentes. Ele falou também que a competência para autorizar ou não o uso de imunobiológicos é da Anvisa.

De acordo com Fernandes, o Conass e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) enviaram uma nota conjunta ao presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, pedindo um posicionamento ao órgão. Ele afirmou que o Conass não pediu a suspensão da vacinação de adolescentes ao ministério, mas a priorização da dose de reforço aos idosos.

São Paulo lamenta decisão e mantém vacinas para adolescentes

Em nota, o governo de São Paulo disse lamentar a decisão do Ministério da Saúde, “que vai na contramão de autoridades sanitárias de outros países”. “A vacinação nessa faixa etária já é realizada nos EUA, Chile, Canadá, Israel, França, Itália, dentre outras nações.

A medida cria insegurança e causa apreensão em milhões de adolescentes e famílias que esperam ver os seus filhos imunizados, além de professores que convivem com eles”, declarou a gestão do governador João Doria (PSDB).

O Estado disse ainda que “coibir a vacinação integral dos jovens de 12 a 17 anos é menosprezar o impacto da pandemia na vida deste público”.

“Três a cada dez adolescentes que morreram com covid-19 não tinham comorbidades em São Paulo. Este grupo responde ainda por 6,5% dos casos e, assim como os adultos, está em fase de retomada do cotidiano, com retorno às aulas e atividades socioculturais.”

Em São Paulo, a vacinação de adolescentes começou no dia 18 de agosto. De lá para cá, foram imunizadas 2,4 milhões de pessoas, 72% do público, informou o Estado.

“Infelizmente, e mais uma vez, as diretrizes do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde chegaram com atraso e descompassadas com a realidade dos estados, que em sua maioria já estão com a vacinação em curso.”

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