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Surpresas da inflação não afetam ciclo de corte de juros

Segundo estágio da desinflação tende a ser mais lento, exigindo cautela e paciência na condução política monetária

Mulher no supermercado

Inflação de alimentos pode ter bom comportamento no ano, graças à provável dissipação do evento climático El Niño | Foto:Getty Images

Em fevereiro, o IPCA-15 marcou alta de 0,78% na comparação mensal. O resultado coincidiu com a nossa projeção, mas ficou um pouco abaixo da mediana do mercado, de 0,83%. No acumulado em 12 meses, a inflação ficou praticamente de lado, ao passar de 4,47% em janeiro para os atuais 4,49%.

Os serviços voltaram a surpreender para cima. O IPCA-15 capturou reajustes de comunicação, como os dos preços de combo de telefonia, internet e tv por assinatura. Além disso, houve aceleração de alimentação fora do domicílio e de serviços intensivos em trabalho.

Alguns núcleos voltaram a apresentar tendência de alta na margem, com variações em média móvel superando o teto da meta de inflação.

Por outro lado, a inflação de alimentos veio abaixo do projetado. Após dois meses de inflação pressionada, os alimentos arrefeceram de forma mais intensa nesta leitura. Destaque para a desaceleração dos produtos in natura e a deflação de carnes.

Inflação de alimentos pode ficar bem comportada em 2024

As divulgações mais recentes da inflação ao produtor, assim como as curvas futuras de commodities agrícolas sugerem que a inflação de alimentos pode ter bom comportamento ao longo deste ano, em especial por conta da provável dissipação do evento climático El Niño nas próximas semanas.

Outro destaque é a alta de educação. Por questões metodológicas, os efeitos da elevação do preço dos cursos regulares se concentram no segundo mês do ano – o IPCA registra variação igual à observada no IPCA-15 de fevereiro. Assim, as mensalidades de pré-escola, ensino fundamental e médio tiveram incremento de mais de 8%, enquanto o ensino superior e a pós-graduação mostraram altas mais tímidas,
próximas a 3%.

No geral, a variação deste subgrupo de cursos ficou alinhada com a nossa expectativa, ao subir 6,13% no mês.

Olhando à frente, a inflação de fevereiro deve ser alta, em parte pelos já comentados reajustes de educação. Além disso, os combustíveis impactarão o IPCA de fevereiro por conta do aumento de impostos estaduais ocorrido no começo do mês.

Em termos de política monetária, as repetidas surpresas na inflação de serviços acendem um sinal de alerta, mas não alteram as perspectivas de corte de juros no curto prazo, isto é, até junho.

Como argumentado nos discursos dos membros do Copom, o segundo estágio da desinflação tende a ser mais
lento, exigindo cautela e paciência na condução da inflação para a meta.

Íntegra da análise macroeconômica do Banco Safra.

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