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10 tendências da vida urbana com a pandemia

Pesquisa identifica mudanças causadas pelo trabalho remoto, que fez as pessoas refletirem sobre o espaço em que vivem e trabalham

Vida urbana

Pesquisa identificou tendências de comportamento e do sistema de trabalho nas empresas | Foto: Getty Images

A pandemia de covid-19 mudou a relação das pessoas com o espaço público, segundo o estudo ‘”Casa e a Cidade”, elaborado pela plataforma de informação A Vida no Centro. O estudo traz dados e análises sobre o impacto da pandemia na dinâmica nas cidades.

Entre as tendências que projetam o cenário pós-Covid estão uma nova relação das pessoas com o espaço público, valorização do senso de comunidade e interesse pela comunidade, ou seja, o sentimento de pertencimento à cidade ou ao bairro.

Um dos principais fatores que motivam essas mudanças é o trabalho remoto. Em 2020, milhares de empresas se viram obrigadas, da noite para o dia, a mandar suas equipes para casa, de onde tiveram que continuam trabalhando de forma remota.

Em muitos casos, deu tão certo que as companhias nem pensam em voltar ao sistema anterior, de escritórios cheios, com os mesmos horários de entrada e saída para todos e trabalho aglomerado.

Trabalho remoto ou híbrido

Muitas empresas devem adotar o trabalho remoto de forma permanente, e outras devem combinar o trabalho remoto e presencial em alguns dias da semana.

E isso vale tanto para funções de renda mais alta, como escritórios de advocacia, quanto para outras de menor renda, como equipes de call center.

“Uma parte das pessoas deixará de se deslocar diariamente, nos horários de pico, dos bairros residenciais para regiões que concentram escritórios, e isso vai aliviar um pouco o trânsito e estimular o comércio local nos bairros”, diz Denize Bacoccina, cofundadora do A Vida no Centro, plataforma de informação criada para valorizar o centro de São Paulo e transformar a região em um lugar mais sustentável, criativo, dinâmico e socialmente justo.

“Outra tendência é a de uma nova relação com o espaço público, com as pessoas passando mais tempo no bairro onde vivem”.

Valorização dos espaços abertos

Espaços ao ar livre se tornaram mais importantes com a pandemia, pois são mais seguros do ponto de vista de saúde, reforça Clayton Mello, também cofundador da plataforma A Vida no Centro.

O estudo sobre o impacto da pandemia na vida urbana foi realizado durante três meses, com uma pesquisa quantitativa em parceria com o Observatório de Turismo e Eventos da São Paulo Turismo, empresa de turismo e eventos da cidade de São Paulo.

Além de um questionário online com 1.521 entrevistados, a pesquisa contou com entrevistas em profundidade com especialistas, artistas, produtores culturais, representantes do poder público e empreendedores.

Segundo o levantamento, a descentralização do trabalho deve provocar mudanças na dinâmica espacial da cidade, com uma maior liberdade de escolha sobre onde morar, por exemplo.

E a maior permanência em casa leva a mudanças no espaço doméstico e no comportamento na interação com ele. Ficar mais tempo em casa também leva uma nova relação com a vida no bairro, estimulando as pessoas a aproveitar parques, praças e outros locais públicos na vizinhança.

10 tendências da vida nas cidades:

1 – Casa, o novo hub
Uma das grandes tendências geradas pela pandemia é a transformação da casa no hub da vida, ou seja, a casa se tornou o lugar de tudo: vida familiar, profissional e social. É o lugar para morar, trabalhar, empreender, se divertir, estudar e se exercitar.

2 – Home office híbrido
A experiência de trabalhar em casa agradou trabalhadores e empresas, o que sinaliza que essa modalidade vai se tornar uma realidade permanente para muitas pessoas, em especial com a adoção do modelo híbrido (alguns dias em casa, outros na empresa).

3 – Um novo morar
A consolidação do home office gerou a necessidade de repensar o espaço doméstico. O trabalho remoto demanda uma nova casa, despertando o desejo (mais do que a necessidade) de cuidar do ambiente, adaptar cômodos e tornar os espaços mais acolhedores e também funcionais, de modo que permitam a realização das várias atividades no dia a dia.

4 – Home fitness
A casa também é o local para atividades físicas. Aos poucos, o hábito de se exercitar em casa vai entrando na rotina, abrindo espaço para o surgimento de plataformas que oferecem aulas online, assim como a criação de serviços digitais por grandes redes de academia.

5 – A redescoberta da cozinha
Com os restaurantes fechados ou com restrições, muita gente foi para a cozinha. E gostou. A pesquisa mostra que 67% passaram a cozinhar mais em casa, sendo que 7,2% aprenderam a cozinhar neste período. E 76% pretendem continuar comendo em casa mesmo com a reabertura dos restaurantes. Além disso, no setor de alimentação houve uma migração do comércio físico para o online. A pandemia fez o brasileiro perceber que não necessariamente precisa ir a um restaurante para comer bem. Pode cozinhar. Ou pedir comida.

6 – Transformação digital da cultura
“A cultura agora será híbrida”. Essa frase sintetiza a transformação do setor cultural, que agora experimenta novas linguagens, produtos e sistemas de distribuição pela internet. Um símbolo da transformação digital do setor é “A Arte de Encarar o Medo”, espetáculo online pioneiro lançado pela Cia de Teatro Os Satyros. Criado e encenado remotamente pelo Zoom, o modelo de teatro digital criado em São Paulo foi exportado para uma produção internacional, com artistas de vários continentes. Além disso, várias instituições passaram a promover lives e exibir atrações online, entre elas Itaú Cultural, Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e Teatro Municipal.

7 – Valorização do local
Uma das mudanças aceleradas pela pandemia é o fortalecimento do local, da vizinhança, o que também deve favorecer o comércio de bairro. Essa tendência, chamada de Local Love por bureaus de pesquisa nacionais e internacionais, já tinha sido mapeada havia alguns anos, mas com a Covid-19 ela vem para o primeiro plano e assim deve permanecer no pós-pandemia.

8 – Senso de comunidade
Passar mais tempo em casa serviu para reconectar as pessoas com o bairro onde moram, incluindo a maior interação entre vizinhos e criação de redes de solidariedade. Esse movimento foi captado, por exemplo, pela pesquisa Viver em São Paulo – Especial Pandemia, realizada pela Rede Nossa São Paulo, Ibope Inteligência e Sesc. Quando perguntados sobre as principais mudanças causadas pela pandemia e pelo isolamento social na relação com o bairro, 46% disseram que passaram a dar mais valor ao comércio e aos prestadores de serviços locais.

9 – Nova relação com o espaço público
O uso dos espaços públicos pelas pessoas já era uma tendência nas grandes metrópoles brasileiras e mundiais antes da pandemia. Com a reabertura gradual das atividades nas cidades, esse desejo de ir para rua continuará forte, mas agora com algumas mudanças. A pesquisa A Vida no Centro/SP Turis indica que as pessoas terão receio de frequentar eventos com grandes aglomerações. Por outro lado, a procura por locais abertos na vizinhança, como parques, praças e locais para caminhar e passear – desde que não reúnam grandes massas de pessoas –, deve ser uma tendência nos próximos meses, o que pode resultar numa maior reivindicação por qualidade do espaço público, como as calçadas.

10 – Novas centralidades
Com o home office como um dos vetores de fortalecimento da vizinhança, do senso de comunidade e do comércio de bairro, pode haver um maior desenvolvimento de novas centralidades. Para exemplificar, um possível efeito disso é o fortalecimento da economia de bairros que antes só serviam de moradia. Trabalhando em casa, a pessoa fica mais tempo no bairro, consumindo ali, e não no local onde a fica a empresa.

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