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Super Bowl se reinventa para driblar pandemia

Maior evento esportivo do mundo, a final do futebol americano deve deixar de injetar até US$ 450 milhões na Flórida, que sediará o jogo

Troféu Vince Lombardi, feito pela Tiffany & Co., dado ao campeão do Super Bowl

Troféu “Vince Lombardi”, feito todo em prata pela Tiffany & Co., dado ao campeão do Super Bowl | Foto: Divulgação/Tiffany & Co.

Depois das finais da Liga dos Campeões da UEFA, na Europa, da Copa Conmebol Libertadores, na América do Sul, será a vez do Super Bowl, maior evento esportivo do planeta, se reinventar em meio à pandemia de covid-19.

A grande final da NFL, liga de futebol americano dos Estados Unidos, chega à edição de número 55. A partida acontece neste domingo, 7, às 20h30 (horário de Brasília) no Raymond James Stadium, em Tampa, na Flórida.

O duelo será pela primeira vez na história entre um anfitrião, o Tampa Bay Buccaneers, que é liderado pelo mais vitorioso jogador da história, Tom Brady, e o Kansas City Chiefs, do quarterback (lançador) fenômeno Patrick Mahomes.

O enredo perfeito para uma final épica – e das mais lucrativas da história – teve que ser adaptado às restrições impostas pela pandemia. Poucos torcedores no estádio e a ausência de pré-eventos durante a semana do jogo são alguns exemplos.

A reinvenção do Super Bowl causará um prejuízo financeiro enorme para a NFL e para a região de Tampa, que deve perder uma injeção de dinheiro colossal em sua economia.

“Dependendo da região, o impacto pode variar de US$ 350 milhões a US$ 450 milhões. Há projeções hoje de que não haverá impacto econômico algum na região de Tampa”, diz Amir Somoggi, sócio-diretor da consultoria Sports Value.

Por outro lado, a expectativa de movimentação indireta da economia americana é positiva.

Segundo Somoggi, o dia da partida movimenta cerca de US$ 17 bilhões nos EUA com vendas de alimentos e itens para acompanhar o jogo. E em um ano com bares e restaurantes com baixa capacidade ou fechados, a saída para as empresas será usar e abusar da internet.

“A gente está vendo perda local, mas não significa uma perda do evento do ponto de vista comercial. Os patrocinadores da NFL e qualquer marca devem se beneficiar de todo o aparato digital, com ações de ativação”.

Impacto econômico na liga

Em uma temporada atípica, a NFL, que é a liga esportiva mais valiosa do mundo, avaliada em US$ 63 bilhões (cerca de R$ 343 bilhões), teve que criar diversos protocolos para que o campeonato, que se iniciou em 2020, continuasse. Felizmente, não houve registro de casos graves de contaminação entre membros da NFL.

Entretanto, a estimativa é que a liga tenha perdido até US$ 4 bilhões (quase R$ 22 bilhões) em arrecadação nesta temporada. A NFL tem nada menos do que sete das 15 equipes esportivas mais valiosas do planeta.

A organização criou um programa de testagem para detectar a covid-19 que foi aplicado às 3 mil pessoas, entre atletas, técnicos e membros da comissão técnica, envolvidas nas partidas. Além disso, houve monitoramento constante dos infectados pelo coronavírus.

Jogo deste domingo, 7, no Raymond James Stadium terá público de 22 mil pessoas. Capacidade do estádio é de quase 66 mil | Foto: Tampa Sports Authority

“A cada dois dias, jogadores e técnicos eram testados. Os que tinham resultado positivo para o vírus no teste PCR (o mais preciso que existe) passaram a usar equipamento de rastreamento para que a liga os monitorasse quanto ao isolamento social”, explica Paulo Mancha, jornalista e comentarista dos canais ESPN.

O público foi proibido de frequentar os estádios no início da temporada. Posteriormente, liberações de pequenas proporções aconteceram conforme as políticas de cada Estado dos EUA.

Ao todo, mais de 1 milhão de torcedores conseguiram acompanhar as 116 partidas realizadas em 2020, entre temporada regular e playoffs (mata-mata). A média de público, fora da pandemia, por jogo nos estádios de futebol americano é de quase 70 mil pessoas.

Para Mancha, a temporada em meio à pandemia mostrou que a política de promoção do equilíbrio entre os times, iniciada na década de 1950, é um exemplo para se construir um negócio esportivo sólido, sustentável e inovador.

“Lá atrás, a liga percebeu que a competição tinha que ser justa. É um equilíbrio muito saudável para o negócio. Na crise financeira entre 2008 e 2010, a NFL foi a única liga americana que não teve prejuízo.”

Bilheterias

Mesmo com a vacinação contra a covid-19 avançando bem nos EUA, o estádio do Tampa Bay Buccaneers não terá os seus 65.890 lugares cheios.

A NFL permitirá a entrada de 22 mil pessoas, sendo que 7.500 serão profissionais da saúde convidados pela liga. A ação é uma forma de agradecer aos trabalhadores que estão na linha frente de combate ao coronavírus e uma forma de incentivar a vacinação no país.

Nesse sentido, a Sports Value estima que a NFL deixará de gerar US$ 65 milhões (R$ 354 milhões) em receitas com a bilheteria. O preço dos ingressos varia de US$ 4,7 mil a US$ 38 mil – de R$ 25,6 mil a R$ 207 mil. Os valores tomam como base a edição 54 do Super Bowl, realizado em fevereiro de 2020.

“Como efeito de comparação, o Manchester United (futebol inglês) faz cerca de US$ 5 milhões por jogo com um estádio de 76 mil lugares”, afirma Somoggi.

Comerciais do Super Bowl

Em contrapartida, outro ponto gerador de lucro do Super Bowl são os comerciais nos intervalos da transmissão do jogo pela TV. A cada ano, uma emissora diferente transmite a partida nos EUA. Nesta temporada, é a vez da rede CBS.

O valor de cada comercial de 30 segundos para o intervalo da partida – horário mais nobre – é de US$ 5,6 milhões (cerca de R$ 30 milhões), segundo a Kantar Media.

O Financial Times noticiou que marcas tradicionais como Budweiser (cerveja oficial da NFL) e Coca-Cola desistiram de veicular peças publicitárias neste ano. Mesmo assim, todos os espaços foram vendidos na última semana pela CBS.

Na última temporada, todos os lotes de 30 segundos foram negociados dois meses antes do chute inicial do Super Bowl. “Em 2020, foram faturados US$ 449 milhões de dólares nas transmissões. A cada ano essa receita sobe”, diz Somoggi.

O intervalo do Super Bowl guarda também um dos shows musicais mais aguardados em todos os anos. No domingo, o rapper canadense The Weeknd comandará o espetáculo. Ele mesmo anunciou que já investiu US$ 7 milhões de dólares (R$ 38 milhões) no evento.

“Estamos realmente focados em atingir os fãs que estarão em casa e fazer da nossa performance uma experiência cinematográfica”, afirmou o artista ao site Billboard.

O efeito Tom Brady

Se fora de campo as mudanças foram bruscas para a temporada 2019-2020 do futebol americano, dentro dele a lógica deu a tônica.

Tom Brady, de 42 anos, que conquistou seis títulos de Super Bowl com o New England Patriots, se mudou para Tampa e orquestrou um elenco fortíssimo na caminhada rumo à final. O quarterback é casado com a modelo da modelo brasileira Gisele Bünchen.

Do outro lado, o fenomenal Patrick Mahomes fez história ao conquistar o último Super Bowl estando apenas em sua segunda temporada como titular da NFL. Ele, que tem 25 anos, assinou no ano passado o maior contrato da história do esporte, de US$ 503 milhões (cerca de R$ 2,7 bilhões), por dez anos.

Os Chiefs, aliás, são os atuais campeões e podem se tornar a primeira equipe a conquistar o título pela segunda vez consecutiva.

A presença de dois ídolos em campo põe luz a outra qualidade nos negócios da NFL.

Em um mundo com cada vez mais pessoas se espelhando em referências, a riqueza de personalidades no futebol americano ajuda a encher os estádios, promover ações de marketing e engajar o público. Sempre, porém, com o equilíbrio competitivo.

“Você tem times mais dominantes, mas pelo menos umas nove equipes com ídolos que atraem a torcida. E a NFL vai moldando seus regulamentos dentro e fora de campo para que sempre haja um equilíbrio”, diz Paulo Mancha.

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