Demanda fraca e queda de custos devem garantir corte da Selic em agosto
Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne dias 1 e 2 de agosto e deve iniciar o ciclo de cortes da taxa Selic com redução de 0,50 ponto porcentual, segundo avaliação do Banco Safra
16/07/2023A formação de preços depende da dinâmica da oferta e da demanda. A demanda doméstica tem se mostrado moderada e a oferta tem se beneficiado da desaceleração dos custos de produção desde meados do ano passado. Esse quadro favorece a queda da inflação, uma vez que não há necessidade de as empresas repassarem altas de custo, nem muito espaço para ampliação de margens, dada a pouca disposição do consumidor em acomodar elevações de preços. Esse quadro deve garantir o início da redução da taxa Selic em agosto. A taxa deve cair dos atuais 13,75% para 13,25%.
O principal componente do orçamento das empresas é a folha de pagamentos, que não tem sofrido grandes pressões recentemente. O ritmo de aumento do rendimento médio nominal efetivamente recebido pelas famílias tem desacelerado desde o terceiro trimestre do ano passado e retornou para o patamar anterior à pandemia (Gráfico 1).
Outro importante componente de custos é o preço de insumos básicos, ultimamente beneficiado pela queda do preço das commodities em moeda local. O IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo) acumula deflação de 11,2% nos últimos doze meses, após forte pressão em 2020-21. Finalmente, excluindo-se o custo financeiro na composição dos custos das empresas, destaca-se o preço da energia elétrica. Esse preço tem subido com a continuidade das compensações ligadas à seca de 2021 e, mais recentemente, com a volta da tarifa TUSD/TUST em alguns estados.
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Mas, ele continuará bem comportado nos próximos meses, dado o elevado nível dos reservatórios das hidrelétricas, atualmente em 86%, refletido na “bandeira verde” adotada recentemente pelo BCB nos seus cenários para 2023-24.
Desta forma, o Indicador Safra de Custo de Produção das empresas brasileiras continua arrefecendo. Sua variação trimestral é compatível com uma inflação baixa, estando já abaixo do padrão verificado antes da pandemia (Gráfico4).
A variação acumulada em doze meses desse indicador mantém tendência de desaquecimento e sinaliza que o processo de convergência da inflação na direção da meta continua bem encaminhado.
Copom tem condições para cortar taxa Selic em agosto
Existe uma forte relação entre o índice de Custo de Produção e o IPCA, que mostrou um repasse importante dos custos para o consumidor nos últimos três anos. Nesse momento, estamos vivenciando a transmissão da queda de preços no atacado para uma atenuação da inflação no varejo. Estimamos, assim que, incluindo a volta da tributação sobre energia e combustíveis, a inflação anual fique perto e mesmo um pouco abaixo de 5% em 2023, supondo que petróleo encerre o ano em US$ 80 por barril e a taxa de câmbio em R$4,90/US$.
A dissipação do impacto do aumento de impostos e a contribuição de uma inflação mais baixa no final do ano, que reduzirá a inércia inflacionária associada à indexação de salários, aluguel e serviços, serão favoráveis à dinâmica de preços em 2023.
O Banco Safra reitera a projeção para o IPCA de 2024 em 3,3%, abaixo do consenso em 3,9%, sem a necessidade de uma apreciação significativa da moeda. Nesse ambiente, a autoridade monetária poderá encontrar condições de iniciar um ciclo de relaxamento monetário com o corte da taxa Selic em 0,50 p.p. em agosto, “principiando a trilhar o extenso caminho até chegar à taxa de juros neutra em 2024”, diz o relatório do Safra. O Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central tem reunião para decidir sobre a taxa Selic dias 1 e 2 de agosto.
Íntegra do relatório semanal de macroeconomia do Banco Safra.