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Brasil pode virar fábrica de variantes do coronavírus

Virologista que detectou cepa britânica no Brasil teme que a falta de isolamento leve ao surgimento de cepas mais agressivas

O virologista José Eduardo Levi

José Eduardo Levi, que prepara artigo sobre o crescimento do contágio pela variação P1, mais agressiva que o novo coronavírus | Foto: Divulgação

O Brasil pode se tornar uma fábrica de variantes do novo coronavírus. O alerta do virologista José Eduardo Levi vem da observação sistemática dos sequenciamentos realizados desde que ele detectou, pela primeira vez no Brasil, a variante britânica do novo coronavírus, no começo de 2021.

Mutações em vírus são comuns, banais e na maior parte das vezes insignificantes do ponto de vista dos sintomas. Era o que os especialistas diziam sobre as primeiras variantes do novo coronavírus até o final do ano passado, quando a B1.1.7 começou a se mostrar bem mais transmissível – mais eficiente na transmissibilidade, na linguagem virologista – que sua mãe Sars-Cov-2, o novo coronavírus.

No Brasil, desenvolvemos a P1, similar à variante britânica, igualmente uma segunda geração, variante do vírus original e não só mais transmissível, mas também com maior velocidade de multiplicação dentro do organismo humano (razão de sua potência aumentada de transmissão) e possivelmente, pelo mesmo motivo, menos evitável com as vacinas disponíveis e em desenvolvimento.

Mutações de escape

O coordenador de pesquisa do laboratório DASA e pesquisador do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo teme que essas variações possam ser – ou gerar, a partir de naturais novas evoluções – o que ele chama de mutações de escape, variações resistentes aos imunizantes desenvolvidos para combater as cepas originais.

“A P1, que está se espalhando pelo Brasil, é muito similar à variante sul-africana, outra variante de escape à resposta imune”, diz Levi. O pesquisador acredita que a variante P1 pode ser a mais agressiva do mundo. “Como não temos a estrutura para trabalhar em sequenciamento como os britânicos, trabalhamos olhando para trás”, lamenta.

O aumento de transmissão, mortes e permanência nos hospitais por mais tempo por pessoas não enquadradas nos grupos de risco são para o biologista sinais claros de que os brasileiros estão se infectando por uma mutação mais agressiva.

“Estou trabalhando em um artigo no qual mostramos que pelo menos 80% nas contaminações recentes em São Paulo são pela mutação P1”, adianta o virologista. “O que é grave não apenas pelo quadro atual, mas o que pode advir dele: novas cepas, mais agressivas ainda.”

Isolamento social é a única arma imediata

Diante da evolução viral em curso, o orientador da pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP não enxerga outra defesa imediata contra uma piora séria da pandemia do que o isolamento e o respeito rigoroso aos protocolos de segurança.

Ele lembra que as mutações que criam cepas mais agressivas só podem ocorrer dentro do organismo humano.

“Os testes foram feitos para detectar a presença do vírus para que os indivíduos infectados pudessem ser isolados e hoje, no Brasil, estamos usando esse recurso para confirmar casos clínicos evidentes de pacientes que, na sua maioria, já esteve em contato com muitas outras pessoas. É algo que não tem como não explodir”, lamenta.

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