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China: poupança acumulada na pandemia garante retomada

Com restrições sanitárias impostas pela política de covid zero, famílias chinesas acumularam poupança equivalente a R$ 2,23 trilhões, que representa 8% do consumo anual

China

Consumo das famílias chinesas pode subir 3% em um trimestre, se nesse período elas usarem 10% dos recursos poupados durante a pandemia | Foto: Getty Images

O crescimento econômico chinês apresenta alguns sinais de desaceleração estrutural. Isso é resultado da significativa participação da China no comércio internacional e da grande participação do setor imobiliário na demanda doméstica. O consumo das famílias permanece baixo na China em relação aos países de alta renda e grande parte das economias emergentes.

Entretanto, o consumo pode crescer agora com alguma força em consequência do relaxamento da política de confinamento social para conter a covid. Existe um acúmulo de poupança desde o final de 2019, quando a pandemia começou. O volume das exportações chinesas cresceu apenas 4,0% nos últimos doze meses. No terceiro trimestre, as exportações recuaram 0,6% em relação ao segundo. O tema foi analisado no Safra Weekly.

As vendas de imóveis continuam em forte retração, o que tem reduzido os preços de novas residências. O investimento no setor imobiliário caiu 16% nos últimos doze meses.

O ajuste estrutural do setor imobiliário continua prejudicando o sentimento das famílias. As medidas de isolamento social também prejudicaram sensivelmente o indicador de confiança do consumidor, que desabou em março e abril, durante o confinamento nas cidades de Xangai e Pequim.

As restrições de mobilidade e a baixa confiança moderaram o ritmo de expansão do consumo das famílias chinesas. As vendas de varejo estabilizaram em termos nominais, e estão mais de 10% abaixo do nível indicado pela tendência dos últimos meses.

Com o consumo mais moderado, a taxa de poupança cresceu no começo da pandemia e voltou a crescer mais recentemente, quando medidas de isolamento social foram reintroduzidas em algumas grandes cidades da China.

A renda disponível das famílias saltou de uma média de 31% para 35,4% no primeiro trimestre de 2020. A taxa caiu em seguida, mas voltou a subir para 34% no começo de 2022.

Poupança acumulada na China equivale a R$ 2,23 trilhões

Tomando como referência o nível anterior da pandemia, o excesso de poupança acumulada atingiu o equivalente a US$ 420 bilhões – o equivalente a R$ 2,23 trilhões. Esse montante expressivo representa 8% do consumo anual das famílias chinesas.

Isso significa que uma eventual melhoria da confiança poderia despertar o consumo, lastreado na redução da poupança acumulada.

Outra forma de estimar o aumento de recursos disponíveis para consumo das famílias é verificar o extraordinário aumento dos depósitos bancários das pessoas físicas. Esse estoque passou de 180% do PIB no final de 2019 para 205% do PIB atualmente.

Uma parte desse aumento reflete a retração na demanda por imóveis. E também a estabilização do nível de endividamento das famílias. O aumento de poder de compra pode facilitar a expansão do consumo até meados de 2023, com possível impacto no preço de commodities, inclusive energéticas.

O consumo das famílias chinesas pode subir 3% em um trimestre, se nesse período elas usarem 10% dos recursos poupados durante a pandemia. Portanto, o acúmulo de poupança que foi relevante desde o começo do isolamento social em 2020 pode dar impulso à uma expansão significativa do consumo das famílias chinesas, quando houver recuperação da confiança sobre o controle da pandemia e maior mobilidade da população.

Dada à importância da economia chinesa, esse crescimento deve representar um estímulo à economia mundial em 2023.

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