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Ano Novo do mercado financeiro tem clima de cautela

No programa Conjuntura Safra do mês de dezembro, Joaquim Levy avalia o cenário para a economia brasileira e mundial nesta virada de ano

Joaquim Levy

Joaquim Levy analisa cenário global desafiador e os impactos na economia brasileira | Foto: Reprodução

A inflação começa o ano novo com alívio, mas pode voltar em 2023 se os estados retomarem a cobrança de ICMS sobre a gasolina. Se a tendência atual se mantiver nos próximos meses, em maio será possível ter mais clareza sobre quando a taxa básica de juros (taxa Selic) poderá começar a cair. “Hoje, essa possibilidade sequer existe”, comenta Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Banco Safra.

No programa Conjuntura Safra do mês de dezembro, Joaquim Levy avalia o cenário para a economia brasileira e mundial nesta virada de ano. O canal do Banco Safra no Youtube reúne esta e outras análises de conjuntura e investimentos.

Ano Novo em clima de cautela

Sobre a economia da China, Joaquim Levy explica o que muda com a flexibilização nas restrições sanitárias: “É uma mudança importante na política de combate à covid, flexibilizando o isolamento social apesar de a população ainda não estar totalmente vacinada. As consequências para 2023 são importantes. Em fevereiro, no feriado lular chinês, uma data importante para a economia chinesa, pela primeira vez em três anos não haverá restrições para deslocamentos. Se em março ou abril não houver grande consequência em termos de aumento do contágio, o impacto na confiança do consumidor chinês poderá aumentar significativamente, e a melhora do humor do consumidor também melhora o humor dos investidores”.

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A poupança do consumidor chinês cresceu durante a pandemia, resultando em cerca de 6% a 8% do PIB em poupança adicional, o equivalente a meio trilhão de dólares. Isso permitiria um aumento do consumo em cerca de 5% ao longo de 2023 a partir de maio, o que seria muito bom para a economia mundial.

“Há mais recursos disponíveis para consumo, e os depósitos à vista cresceram com o dinheiro que deixou de ser usado para a compra de imóveis e outros bens de consumo”, diz Levy. Nem todos os recursos vão para consumo, e uma parte deve migar para investimentos em ações, e o mercado de ações na China poderá voltar a crescer após três anos. Isso pode favorecer o Brasil, com aumento dos preços das commodities, já que a China importa boa parte do minério do Brasil, além de outros produtos e serviços, segundo a análise de Joaquim Levy.

Europa acelera transição energética em 2023, diz Levy

O cenário traçado por Joaquim Levy para a Europa é o de que o crescimento com estímulos econômicos ainda é frágil, por causa da guerra na Ucrânia. Os governos ainda estão gastando bastante para fortalecer a economia e o endividamento preocupa investidores. “Nesse cenário, começa uma nova corrida para acumular reservas energéticas para o próximo inverno. A Alemanha já criou um grande porto de regaseificação, mas há um limite estrutural na indústria de gás liquefeito. Toda essa situação vai acelerar a transição energética na Europa, mas a região deve enfrentar recessão no curto prazo por causa da alta dos preços da energia, que devem continuar subindo, o que afeta a competitividade da economia europeia.

Estados Unidos tem ano novo com economia robusta

“A simples sinalização da desaceleração da alta dos juros nos Estados Unidos já levou a uma valorização das outras moedas em relação ao dólar. A sinalização do Federal Reserve foi de uma alta menor dos juros daqui para a frente. A economia americana continua robusta, com desemprego mínimo. Os preços estão começando subir menos, o que favorece a política monetária, mas os juros devem continuar altos por um período relativamente longo. O aperto deve continuar aumentando até março, e devem demorar a cair até que o Fed tenha certeza da queda da inflação.
Deve haver pequena recessão, puxada pelo setor imobiliário, que já começa a reagir à alta dos juros, mas o emprego deve continuar estruturalmente apertado – o desemprego não deve ultrapassar os 5%”.

Clima de cautela do mercado financeiro com a inflação no Brasil

O crescimento da economia brasileira em 2022 foi muito favorecido pelos gastos do governo. O ano termina com taxa de 3%, mas no ano que vem o gasto deve no máximo empatar com o de 2022, segundo Joaquim Levy. A situação fiscal ainda causa atenção, apesar das receitas extraordinárias decorrentes da alta do petróleo. Mesmo que o preço do petróleo caia um pouco, as receitas devem garantir uma fonte de renda importante para a economia no ano que vem.

A inflação em outubro e novembro) mostrou alívio. Devemos fechar o ano com inflação perto de 6%. A dúvida para o ano que vem é a recomposição do ICMS que os estados perderam com a isenção concedida pelo governo neste ano. Existe a preocupação fiscal. A injeção de recursos aumenta a demanda agregada, e o consumo pode pressionar a inflação em 2023 e 2024. O aumento de gastos também poderia pode sinalizar uma piora da situação financeira do governo, um temor relativo à solvência que pode se refletir nos preços de ativos e do câmbio, o que poderia levar à desvalorização do real com impacto na inflação.

Esses riscos criam um clima de cautela em relação ao momento em que o Banco Central poderá começar a baixar os juros. A percepção do mercado mostra expectativa positiva de inflação e taxa de juros ao redor de 11% no fim do ano que vem. A queda da Selic para um dígito é improvável. Se a inflação continuar nos níveis atuais a situação em maio pode estar mais favorável à queda da Selic do que atualmente, quando essa probabilidade sequer existe.

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