close

Eleição antecipa captações e abre oportunidades em renda fixa

Confira como fica a carteira recomendada de títulos de empresas para 2022, com destaque para concessões de rodovias, energia e mineração

Renda fixa

Em 2022 serão leiloados quase 13 mil quilômetros de rodovias, com investimentos de quase R$ 100 bilhões | Foto: Getty Images

Em 2022, as companhias que precisam de recursos para investimentos devem adiantar as emissões de títulos de dívida (debêntures) no primeiro semestre em vista do cenário eleitoral. O objetivo é captar recursos e manter posição de caixa fort e até que haja maior visibilidade do cenário político e econômico do País.

Neste cenário, a carteira recomendada de investimentos em renda fixa do Banco Safra para este início de ano se caracteriza pelo aumento do vencimento médio dos papéis e, como consequência, da taxa média de retorno. A estratégia é explicada no podcast sobre investimentos em renda fixa por Yuri Machado, responsavel pelas análises de crédito privado do Banco Safra.

O movimento de aumento do vencimento médio dos papeis de crédito privado ocorre pela necessidade de buscar debêntures mais líquidas, isto é, que possam ser facilmente distribuídas aos clientes, já que a alta demanda por títulos de curto e medio prazo reduziu bastante a liquidez desses papeis.

As decisões de entrada ou não de um papel na carteira se baseiam, além da sua liquidez no mercado secundário, do perfil de crédito do emissor, atratatividade da taxa negociada, riscos setoriais e conjuntura macroeconômica.

Saiba mais:

Em janeiro entraram na carteira recomendada do Safra para renda fixa as debêntures da companhia energética Jaguará, com vencimento em 2027, as debêntures da autopista Litoral Sul e Rio Paraná Energia, ambas com vencimento em 2031. O Safra manteve na carteira as debêntures da Colombo Agroindústria e da CSN Mineração.

Dessa forma a carteira fica exposta aos setores de energia elétrica, mais especificamente geração hidrelétrica, setor sucroalcooleiro, transporte rodoviário e mineração.

Cenário de oportunidades em renda fixa

O setor elétrico passou e continua passando em menor intensidade por uma crise ocasionada pelo baixo nível das chuvas em 2021, o que reduziu o nível dos reservatórios do País e levou o agente regulador a despachar energia das termoelétricas, que é mais cara.

Os geradores hidrelétricos tiveram de reduzir o nível de geração e, para honrar seus contratos de venda de energia, passaram a ir ao mercado à vista e comprar mais energia para revender. Isso gera um impacto não só no preço da energia elétrica mas também nos custos das companhias. No fim das contas, o preço da conta de luz aumentou e o País passou a conviver com risco de racionamento.

Foram necessarias medidas para conter o consumo, mas as chuvas a partir de outubro evitaram restrições mais drásticas.

O crescimento do Brasil após o pico da pandemia não foi o esperado, o que se traduziu em um consumo de energia menor do que era projetado para 2021.

Para 2022, o operador nacional do sistema diz que há baixo risco de racionamento de energia, e até maio os reservatórios do Sudeste e Centro Oeste devem subir para quase 60%, o que é bastante positivo.

Setor sucroalcooleiro

A safra 2021 que se encerra em março de 2022 se caracterizou por uma recuperação de demanda no consumo do açúcar e menor produção devido à quebra da safra, pelos efeitos climáticos. Essa dinâmica sustentou os preços do açúcar e garantiu boa margem às companhias produtoras.

Do lado do etanol, houve aquecimento do consumo de combustíveis, não apenas no Brasil, mas em nível mundial, o que elevou os preços do petróleo. O volume de produção também foi afetado pela quebra da safra de cana, mas os preços se sustentaram como ocorreu com o açúcar.

A produção de etanol anidro, que é misturado à gasolina, aumentou consideravelmente, impulsionado pelo aumento do consumo de gasolina. O etanol hidratado, usado como combustível, teve um forte aumento de preços, resultado da quebra de safra e maior produção do anidro.

Para a próxima safra, a projeção é de aumento do volume de moagem de cana em comparação à safra atual, caso não haja novos impactos relevantes por condições climáticas. Os preços devem se manter atrativos nos mercados interno e externo.

A Índia deve ampliar a produção de etanol e reduzir a de açúcar. E, como a índia é um grande produtor mundial, isso deve provocar um aumento na produção de açúcar no mercado global.

Concessões rodoviárias

O setor em 2021 foi marcado por importantes concessões, como a relicitação da Dutra, vencida pela CCR. Além disso, teve fortes investimentos, seja para duplicação ou melhoria das pistas.

Para 2022, a expectativa é que sejam leiloados quase 13 mil quilômetros de rodovias e uma contratação de quase R$ 100 bilhões em investimentos, um volume bastante expressivo.

Isso traz grandes oportunidades para os players do setor, mas tmbem grandes desafios na execução desses investimentos. É importantíssimo acompanhar a capacidade das companhias de realizar os contratos, ainda mais porque muitas delas foram afetadas pelas restrições de circulação impostas pela pandemia. Isso significa menor arrecadação por parte dessas companhais.

Os grandes grupos mantém forte posição de caixa e geração operacional de caixa, o que os coloca como favoritos nos próximos leilões.

Mineração

No setor de mineração em nível global a expectativa é de uma demanda estável por parte da China, maior consumidora mundial, uma vez que os estímulos governamentais devem ser reduzidos. O governo chinês se comprometeu com a redução das emissões de gás carbônico, e o efeito disso foi a redução da demanda por parte das siderúrgicas.

O comportamento do setor de construção imobiliária na China tem algumas companhias muito endividadas, o que pode resultar numa redução de consumo.

De qualquer forma, a China continua como uma forte consumidora de minério de ferro, e o Brasil visa aumentar essa produção para dar conta do mercado. Há investimentos em expansão da Vale e da CSN Mineração.

Ainda em nível global, o plano de infraestrutura dos Estados Unidos deve puxar a demanda por aço e aquecer a indústria.

Companhia Energética Jaguará

Controlada da Engie, que é garantidora da dívida da companhia, a Jaguará é responsável pela operação da usina hidrelétrica Jaguará, em Minas Gerais. A hidrelétrica foi arrematada pela Engie em 2017, e tem prazo de concessão de 30 anos. O reservatório encontra-se em nível estável, acima da média nacional, graças à estratégia de comercialização da Engie, que mesmo antes da crise já vinha comprando energia e reduzindo a necessidade de geração de suas hidrelétricas.

A companhia tem baixa alavancagem em termos de dívida líquida, e mantém sua dívida estável. A usina, no último trimestre, perdeu um pouco de margem por causa do aumento de custos de compra de energia elétrica.

Colombo Agroindústria

A companhia é produtora de açúcar e etanol, com sede no interior paulista. Na safra passada teve recorde de produção de cana com faturamento anual bruto de R$ 2,3 bilhões. Além da produção de açúcar, o grupo também atua no varejo, com a marca Caravelas, muito conhecida. Além de marca própria, a companhia também fornece para para outras marcas de clientes varejistas.

Na última safra a companhia também passou a exportar açúcar. A empresa é controlada majoritáriamente pela família Colombo, e um dos focos é justamente a melhora da sua produtividade agrícola, uma coisa muito importante no setor, pelos ganhos que pode oferecer.

Autopista Litoral Sul

A empresa fez uma emissão recente de debêntures. Opera o corredor do Mercosul, que liga Curitiba ao litoral de Santa Catarina, com extensão de 406 quilômetros. A concessão foi leiloada 2008 e tem vigência até 2033, contndo com cinco praças de pedágio.

A Litoral Sul é controlada 100% pela Arteris, um dos maiores grupos de concessão rodoviária do País, com 3,2 mil quilômetros e cinco concesões federais e quatro estaduais em São Paulo.

O tráfego da autopista Litoral Sil é composto por 65% de veículos pesados e 35% de veículos leves. A localização da pista é muito relevante, algo muito importante quando se trata de concessões rodoviárias. Ela funciona como principal ligação de Curitiba com o litoral nas regiões de Itapoá e Itajaí. A rodovia tem atratividade em termos econômicos industriais e para o turismo.

O projeto contorno de Florianópolis é o principal contrato de investimento da companhia atualmente. Está entre os principais projetos de infraestrutura do País, com o objetivo de desviar o tráfego da região metropolitana de Florianópolis, facilitando o transporte principalmente de caminhões. O ciclo de investimentos teve início em 2021 e vai até 2025, totalizando R$ 3,2 bilhões.

Rio Paraná Energia

Geradora de energia elétrica controlada pela filial brasileira da chinesa CTG. Possui duas usinas hidrelétricas, uma em Ilha Solteira e outra em Jupia, no Rio Paraná – divisa com Mato Grusso do Sul.

A usina de Ilha Solteira é a maior hidrelétrica do Estado de São Paulo, com potência de quase 3,5 mil megawatts. A construção foi concluída em 1978. A usina de Jupia tem potência de 1,55 mil megawatts, e foi conclupida em 1974. Juntas, as duas usinas geraram 3,6% da energia elétrica produzida no Brasil em 2017.

A operação das usinas ocorre pelo regime de cotas – a receita da companha não está exposta ao risco hidrológico e será recebida simplesmente pela disposibilidade dos ativos de geração. Algo semelhante ao que ocorre na transmissão de energia.

A holding CTG, que controla a Rio Paraná Energia, iniciou operações no Brasil em 2013, e desde então tem estratégia de expansão no setor elétrico. No mundo, está presente em mais de 40 países, sendo a maior geradora hidroelétrica do mundo.

CSN Mineração

A empresa foi fundada em 2015, através de uma combinação de negócios de minério de ferro e logística da própria CSN. Boa parte do minério é destinado à exportação, e o restante é destinado à siderurgia nacional da própria CSN.

Além da mineração, a companhia tem os direitos de operação do terminal portuário Tecar, no porto de Itaguaí. Controla cerca de 18% das ações da MRS logística – uma das maiores transportadoras ferroviárias do Brasil, que transporta o minério de ferro da CSN Mineração.

A companhia teve bons resultado em 2021 , favorecida pela valorização do minério e aumento da produção. Tem dívida líquida e alavancagem negativa, por acúmulo de caixa após IPO e preços do minério de ferro.

Boa parte desse caixa vai ser destinado investimentos de expansão no porto de Itaguaí e aumento da produção de minério de ferro, o que deve ser concluído após 2030.

Conjuntura macroeconômica

Em linhas gerais, a situação macroeconômica apresenta alguns desafios, sendo o principal a situação da indústria de transformação, que vem apresentando consecutivas quedas. Isso está associado principalmente à falta de insumos da cadeia produtiva. No mundo globalizado, a logística é fundamental, mas foi justamente a logística global que causou uma grande desorganização na pandemia, o que gerou custos para o Brasil e outros países.

Outra situação no cenário macro é a substituição do consumo de bens por serviços. Isso afeta principalmente os bens duráveis, que precisam de financiamento – o custo do financiamento aumenta com a alta da taxa básica de juros (Selic).

O setor de serviços, apesar de registrar queda, teve alta no subsegmento de serviços prestados às famílias – aparentemente única área com fôlego no momento.

Começam a ficar mais evidentes os efeitos da inflação no consumo das famílias e o aumento de custos para a obtenção de crédito. Isso gera impactos no consumo de bens duráveis, aquisição de imóveis e investimentos, o que será um grande desafio para 2022.

Cenário de inflação e juros em alta afeta o setor de crédito privado, foco da carteira do Safra. A demanda por debêntures incentivadas aumentou consideravelmente em 2021.

Crédito privado oferece prêmio maior que títulos públicos

Tanto por uma questão de proteção dos investimentos contra a inflação quanto por uma captura de oportunidades, porque o crédito privado atrelado à inflação oferece um prêmio acima dos títulos públicos. Um ponto que favorece o crédito privado é o bom perfil de crédito dos emissores. No geral, eles tiveram bom desempenho financeiro em 2021.

Além das curvas de juros em alta, as taxas negociadas dos papéis debêntures tiveram crescimento puxado pelo forte fluxo comprador, que aumentou bastante no ano passado. Isso acabou reduzindo a liquides dos papeis de curto e medio prazo.

O Banco Safra, como busca liquidez para distribuir aos clientes, alongou o vencimento médio em busca de papéis mais líquidos.

Em 2022, segundo o Safra, as companhiasdevem adiantar as emissões no primeiro semestre em vista do cenário eleitoral. O objetivo é captar recursos e manter posição de caixa forte até que haja maior visibilidade do cenário político e econômico do País.

Assine o Safra Report, nossa newsletter mensal

Receba gratuitamente em seu email as informações mais relevantes para ajudar a construir seu patrimônio

Invista com os especialistas do Safra