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Flamengo e Corinthians na Bolsa? Veja as chances de IPO no mundo da bola

Dois gigantes que se enfrentaram na final do campeonato brasileiro estão longe de ter ações na Bolsa de Valores, assim como a grande maioria dos times brasileiros

Especialista explica que para lançar ações no mercado não adianta ter milhões de torcedores | Foto: Estadão Conteúdo

Na disputa entre Flamengo e Corinthians, qual dos clubes teria mais chances de abrir o capital e passar a vender ações na Bolsa de Valores? Aparentemente, os dois teriam grande possibilidade de sucesso, por terem as maiores torcidas do Brasil – o Rubro-Negro tem 42 milhões de torcedores e o Alvinegro, 29,4 milhões, segundo pesquisa de O Globo e Ipec. Mas, segundo o consultor Amir Somoggi, especializado em gestão esportiva e sócio diretor da Sports Value marketing esportivo, nenhum dos dois times tem a menor possibilidade de vir a vender ações na Bolsa. Nem eles e nem nenhum outro time brasileiro.

O especialista acompanha há mais de 20 anos o desempenho dos times de futebol nas bolsas e diz que o Brasil ainda está longe de marcar um gol nessa disputa. No mundo, os times de futebol mais importantes com capital aberto e ações nas bolsas de valores são o Manchester United, Lyon, Juventus, Benfica e Ajax.

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“Conceitualmente, a Bolsa de Valores é uma forma barata para as empresas de captar dinheiro, mas na prática isso exige governança e estabilidade na direção, uma coisa que não existe das agremiações esportivas brasileiras”, afirma o especialista. “A gestão do clube precisa ter sustentabilidade, e não pode haver demissão do técnico a cada derrota, como acontece frequentemente no futebol brasileiro”.

O clube também precisa ter orçamento controlado e evitar endividamento elevado, e especialmente não pode atrasar impostos. “São tantos os critérios para ser gestor de uma S/A, que na minha opinião nenhum time tem chance de abrir o capital atualmente, a não ser talvez o Atlético Paranaense”.

Somoggi destaca que o Flamengo gasta R$ 700 milhões por ano e não tem condições de entrar na Bolsa tendo de vender R$ 300 milhões ou R$ 400 milhões em jogadores por ano para equilibrar as finanças.

Ele cita o exemplo dos clubes portugueses: as ações deles não valorizam na bolsa, porque tudo o que arrecadam eles investem em jogadores. “O objetivo não é remunerar o investidor, mas ser campeão”, explica. No caso do Benfica, o time vende jogadores, mas não remunera o investidor, pois prefere usar os recursos para investir em novos talentos.

“Enquanto não mudar a mentalidade, não adianta ter 40 milhões de torcedores”, afirma Somoggi, citando a importância da governança e da credibilidade. “O desafio é mais interno do que externo, os exemplos no exterior mostram que são raríssimos os exemplos de êxito de times de futebol em bolsas de valores”.

O especialista cita que o Manchester United sempre se mostrou um grande clube na Bolsa de Valores. O Juventus de Turim teve um pico com a atuação do jogador Cristiano Ronaldo, mas depois caiu muito ao ir para a segunda divisão.

“Em geral, os clubes dependem do desempenho, assim como os papéis das empresas estão muito ligados ao crescimento de receitas e investimentos”, comenta Somoggi. “O time, para crescer em receita, precisa ser campeão”.

Ele comenta que nas vitórias em campeonatos os times recebem bônus de patrocinador, premiação das redes de televisão e outras vantagens financeiras que acabam inflacionando o crescimento em anos de título. “Existe uma questão de desenvolvimento do papel na bolsa em função do campo, o que é um problema”, comenta.

“A gestão sustentável pode ser a grande diferença para o sucesso ou fracasso dos times no mercado financeiro”, comenta ele, acrescentando que não vê no curto prazo nenhuma possibilidade para os clubes brasileiros na Bolsa de Valores. “Os clubes gastam demais, e precisam aprender a controlar mais os gastos, além de melhorar a governança, antes de pensarem em abrir o capital na Bolsa”.

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