Fotojornalismo perde o cronista visual Orlando Brito
Premiado pelo World Press Prize do Museu Van Gogh, fotógrafo retratou as posses de presidentes brasileiros desde o general Castello Branco, em 1964
12/03/2022O fotojornalismo brasileiro perdeu um dos seus grandes nomes com a morte de Orlando Brito, aos 72 anos, em Brasília.Referência na cobertura política no Brasil, Brito estava internado desde 6 de fevereiro para tratar uma obstrução intestinal, e morreu na sexta-feira, 11, no Hospital Regional de Taguatinga, em Brasília.
Nascido em Janaúba (MG) em 1950, ele começou sua carreira como laboratorista do Última Hora, em Brasília, nos anos 1960, e retratou presidentes e políticos desde o regime militar. Ele esteve presente e registrou a posse de 17 presidentes – desde o general Humberto Castello Branco, em 1964, e foi até o atual mandatário, Jair Bolsonaro.
Brito foi o primeiro brasileiro a conquistar, em 1979, o World Press Photo Prize do Museu Van Gogh, uma das premiações mais cobiçadas do fotojornalismo. O primeiro lugar foi ocupado por sua sucessão de fotos sobre um exercício militar, intitulada ‘Uma missão fatal’. Na época, ele atuava no jornal O Globo. Conquistou também 11 vezes o Prêmio Abril de Fotografia.
Seu currículo de editor e fotojornalista inclui passagens pelo jornal O Globo, revista Veja, Jornal do Brasil e revista Caras, e suas fotos foram publicadas em milhares de publicações no mundo. Em 2016, Brito passou a atuar de forma independente e abriu a agência de notícias ObritoNews, que mantinha em atividade até a internação.
“O Brito tinha uma grande preocupação como fotógrafo e como jornalista, absolutamente ligado aos fatos e as coisas. Tinha uma grande perspicácia para ver as coisas”, disse Flávio Pinheiro, jornalista e diretor executivo do Instituto Moreira Salles de 2008 a 2020. Os dois trabalharam juntos em dois momentos: no Jornal do Brasil e na Veja.
Orlando Brito fotografou escondido o fechamento do Congresso em 1977
Presente no registro de momentos simbólicos da ditadura militar, Brito fotografou escondido o momento em que o plenário da Câmara foi fechado em 1977, aquele que viria a ser o último fechamento da Casa Legislativa durante a ditadura militar. “Quando eu vi o plenário fechado em silêncio sem os microfones, me deu uma impressão terrível, aquela coisa sombria”, disse em entrevista à TV Senado.
“Tem um crítico que diz que a fotografia depende totalmente do observador. O Brito foi um dos mais singulares e extraordinários dos fotojornalistas do Brasil. Ele era um grande observador da vida de Brasília, do poder de Brasília. Ele acompanhava o dia a dia da cidade desde quando ele chegou, quando ainda estava em construção”, afirmou Pinheiro. “O jornalismo é uma atividade de combate e o Brito era realmente um combatente.”
Considerado um ‘cronista visual do Poder’, Brito foi um dos jornalistas alvos de agressão durante o governo Bolsonaro. Em maio de 2020, durante uma manifestação pró-governo na Praça dos Três Poderes, ele foi hostilizado ao lado do fotojornalista do Estadão, Dida Sampaio, que faleceu em 25 de fevereiro.
Autoridades homenagearam Brito. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou a perda do fotojornalista e desejou conforto à família, amigos e colegas. “Orlando Brito registrou a história política do Brasil de nosso tempo. Com talento e sensibilidade, transformou imagens em notícia. É uma grande perda para o jornalismo brasileiro. Que Deus conforte a família, amigos e colegas que com ele aprenderam tanto”.
O ex-presidente Michel Temer (MDB) disse que “a história do nosso país ficou mais pobre pois do presente e do futuro os registros não terão mais a mesma argúcia do experiente observador”. Temer lembrou a amizade que mantinha com Brito e destacou sua dimensão humana.
Registrou grandes momentos da política nacional
“Nos últimos 50 anos, as lentes de Orlando Brito leram e registraram os mais importantes fatos da história nacional. A todos eles o maior fotógrafo de toda a vida da capital brasileira emprestou sua sensibilidade e deu tradução. Suas imagens mostraram a realidade com uma beleza estética e poética incomparável. O próprio Brito dizia que não sabia olhar para nada sem usar a percepção da fotografia”, afirmou o ex-presidente.
Parlamentares também prestaram suas solidariedades. O presidente da Câmara Arthur Lira (Progressistas-AL) afirmou que Brito “será eterno nas suas fotos que testemunharam a história do nosso País”.
“O fotojornalismo brasileiro está de luto, mas Orlando Brito será eterno nas suas fotos que testemunham a história do nosso país. Meus sentimentos à família e aos amigos”, escreveu Lira.
“Profissional com olhar único, registrou por décadas presidentes e personalidades da vida política do país. Externo meus sentimentos aos familiares, amigos, colegas de trabalho e admiradores do profissional”, disse o presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD).
Além da política, o fotojornalista também retratou temas e eventos variados como populações indígenas, Copas do Mundo e Olimpíadas. Brito deixa a filha Carolina e dois netos, Theo e Thomas. (AE)