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Haboob, o fenômeno climático das tempestades de poeira

Entenda como se formam as tempestades gigantes de poeira, fenômeno que atingiu o interior paulista duas vezes nos últimos dias

Haboob

Em árabe, haboob significa “destruidor” ou “que vagueia”: fenômeno é comum em regiões áridas ou desérticas | Foto: Getty Images

Duas grandes tempestades de areia assustaram moradores de diversas regiões do País nos últimos dias. Na sexta-feira, dia 1º, o fenômeno atingiu áreas do interior de São Paulo. Um homem morreu em Tupã, após ser atingido por um muro que caiu com a força do vento. Outras três pessoas morreram ao serem envolvidas pela nuvem de fumaça e fogo que se levantou quando o temporal atingiu um pasto em chamas, em Santo Antônio do Aracanguá, perto de Araçatuba.

No domingo, dia 26, uma outra grande tempestade de areia e fumaça atingiu o interior de São Paulo e áreas do Mato Grosso e Minas Gerais. A segunda tempestade de poeira em uma semana deixou cidades paulistas sem energia e em estado de emergência. Conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as rajadas que levantaram nuvens densas de poeira em várias regiões do interior atingiram mais de 80 quilômetros por hora.

Haboob é comum em áridas do planeta

As tempestades de areia dos últimos dias são raras no Brasil, mas muito comuns em outras regiões do mundo, onde são conhecidas como haboob. Eles são causados por temporais de chuva com ventos fortes que, ao entrarem em contato com o solo muito seco, encontram resquícios de queimada, poeira e vegetação seca.

Essa combinação causa uma espécie de “rolo compressor” gigante de sujeira que pode chegar a até 10 quilômetros de altura. A ventania forte vem associada à fuligem e sujeira.

Haboob, ou habub, em árabe significa “destruidor” ou “que vagueia”. Trata-se de um tipo de tempestade intensa de areia levada por uma corrente atmosférica. Os haboobs frequentemente ocorrem em regiões áridas em todo mundo.

Como se formam as tempestades de poeira

Durante a formação de trovoadas, os ventos se movem em direção contrária à da tempestade e também de todas as direções rumo à tempestade. Quando a chuva começa, as direções do vento invertem-se, para fora da tempestade e soprando mais forte na direção seguida pela chuva.

Quando o ar frio desce, fenômeno denominado em inglês como downburst, e este atinge o chão, ele vem seco, e levanta os sedimentos como areia, poeira, fuligem e folhas secas, criando uma muralha que precede a nuvem de tempestade.

Essa muralha pode chegar a 100 quilômetros de largura e a vários quilômetros de altura. Ela deixa o dia escuro e dificulta a visão. Em seu momento mais forte, os ventos do haboob podem chegar de 35 a 100 quiômetros por hora, vindo com pouco ou nenhum aviso.

Frequentemente parece não haver chuva no nível do solo, uma vez que nestas condições ela evapora no ar quente e seco.

O fenômeno é comum no deserto do Saara, no Kuwait e no Iraque. Na Austrália eles são associados às frentes frias. Também ocorrem em regiões áridas e semiáridas da América do Norte. Nos Estados Unidos, eles ocorrem com frequência nos desertos do Arizona, no Novo México, no leste da Califórnia, e no Texas.

Fenômeno climático causa destruição no interior paulista

Em Santo Antônio de Aracanguá, funcionários de uma usina e de uma fazenda usavam tratores e caminhões-pipa no combate a uma grande queimada quando uma forte ventania atingiu a propriedade, levantando uma nuvem de poeira, fumaça e fogo.

Parte das equipes não teve tempo de se abrigar e foi envolvida pela tempestade. Três pessoas – dois funcionários de uma usina e um dos proprietários da fazenda – morreram.

Outras cinco tiveram ferimentos, queimaduras ou passaram mal por causa da fumaça, sendo levadas para hospitais da região. Além deles, uma mulher ficou ferida após ser atingida pela queda parcial de um telhado, no sábado, em Dracena.

Conforme o diretor de obras da prefeitura de Santo Antônio, Genival Francisco Moreira, o fogo na fazenda estava quase controlado quando a ventania forte avivou as chamas e levantou a nuvem. Ele contou à Polícia Civil que as pessoas ficaram perdidas dentro da fuligem em chamas e da poeira. Uma das vítimas estava em um trator que foi carbonizado. Cerca de 20 bois da fazenda também morreram queimados ou asfixiados pela fumaça.

Temporais deixam desabrigados e prejudicam abastecimento

Um homem também desapareceu nas águas do Rio Paraná, em Presidente Epitácio, depois que a embarcação em que ele estava virou durante a tempestade. Em outro ponto do rio, a Marinha resgatou com vida outro homem que havia desaparecido. A nuvem de poeira empurrada pelo vento virou dezenas de barcos no Paraná, mas os demais ocupantes se salvaram.

Os temporais com ventos fortes levaram à interdição de quatro casas pela Defesa Civil de Presidente Prudente. Os imóveis ficaram avariados, com risco de desabamento. A prefeitura encaminhou os moradores para um abrigo. A Secretaria de Educação local suspendeu as aulas presenciais na segunda-feira, 4, por causa dos estragos causados pela tempestade nos prédios escolares.

Até o início da tarde deste sábado, 12 cidades da região estavam com abastecimento de água prejudicado por causa da falta de energia, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Redes de comunicação por internet e telefonia também estavam fora do ar.

A prefeitura de Osvaldo Cruz decretou situação de emergência em decorrência dos estragos. “O município, tanto nas zonas urbana como rural, foi duramente castigado pelo fortíssimo vendaval em situação de anormalidade, culminando com a falta de energia elétrica e abastecimento de água, sem previsão de restabelecimento”, informa o decreto. (Com AE)

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