Cenário mais otimista leva a redução das projeções de inflação para 2023
A projeção do Banco Safra para a inflação em 2023 passou de 6,20% para 5,80%, após cenário mais otimista indicado pelos resultados do IPCA
16/04/2023
Nos próximos meses a variação trimestral anualizada e interanual desses preços devem cair para perto de 4,1%, aponta relatório do Safra | Foto: Getty Images
As boas indicações trazidas pelo IPCA de março e a apreciação do real apontam para uma inflação em 2023 mais baixa do que o projetado até agora. A projeção do Banco Safra passou de 6,20%
para 5,80%. Excluindo o impacto da recomposição dos tributos sobre combustíveis e energia, o IPCA poderia fechar 2023 dentro das bandas de flutuação da meta de inflação.
A análise da conjuntura de inflação e a revisão do cenário estão no relatório de macroeconomia do Banco Safra, divulgado na sexta-feira, 14, após o fechamento do mercado. Confira a íntegra abaixo:
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Resultados mais favoráveis para o cenário de inflação
O IPCA de março trouxe novidades encorajadoras para a inflação. O índice variou 0,71% na comparação mensal, um resultado ainda em patamar elevado, mas abaixo do consenso de mercado, de 0,77%, e da nossa projeção, de 0,76%. Excluindo a alta de gasolina, que refletiu nesse mês a reoneração parcial dos impostos federais, a variação teria sido
próxima de 0,30%, o que anualizado estaria próximo a 3,7%.
Para além da surpresa baixista do índice geral, a composição do IPCA também foi favorável. Enquanto todo o desvio da nossa projeção ficou concentrada em itens de alimentação, tipicamente com inflação mais volátil e menos correlacionada com o ciclo econômico, a variação de serviços e de bens industriais ficou bem comportada.
A média dos núcleos do Banco Central do Brasil (BCB), por exemplo, subiu apenas 0,36% nessa leitura. Na Média Móvel de 3 Meses (MM3M), tanto o índice de difusão como essa média de núcleos voltaram a ceder na margem.
O câmbio também deve trazer menor pressão inflacionária até o fim do ano. A redução das incertezas no âmbito político e fiscal somado ao superávit projetado de US$ 64 bilhões para a balança comercial neste ano, impulsionada principalmente pela forte exportação de grãos e bons preços internacionais, devem sustentar o real frente ao dólar além do que esperávamos.
Com isso, adotamos uma taxa de câmbio de R$5,10/US$ em nosso cenário base, ante R$5,50/US$ até agora.
A atualização das projeções levou a variação do IPCA em 2023 de 6,20% para 5,80%. Essa redução se deve principalmente às mudanças no câmbio e à informação do IPCA de março, restando inalteradas as outras hipóteses, como bandeira tarifária e preço internacional do petróleo.
A inflação em 2024, por sua parte caiu de 3,5% para 3,4%, com o melhor comportamento de alguns preços administrados e a virtual convergência dos preços livres para a atual meta de inflação. Mesmo os preços de serviços, ligados ao salário mínimo e outras indexações que resultam em elevada inércia inflacionária, aponta para alta de cerca de 4,1% no ano que vem.
Cenário melhora, mas preços administrados pressionam inflação em 2023
Apesar da revisão baixista da projeção anual, a inflação dos próximos meses deve ser pressionada pelos preços administrados. Em abril, o reajuste autorizado de 5,60% para os preços de medicamentos deve adicionar pelo menos 10 pontos base ao índice.
O IPCA do mês de maio deve capturar reajustes importantes na tarifa de água e esgoto em alguns estados, além da elevação do preço de certas modalidades de jogos de azar. Já em junho e julho, esperamos que a inflação da gasolina volte a subir, desta vez em reação à maior tributação do ICMS e de PIS e COFINS.
A recomposição de tributos deve adicionar 1,1 p.p. ao IPCA de 2023. Tirando-se essa contribuição, a inflação estaria abaixo do limite superior da banda de flutuação da meta (de 1,5 p.p. para além do objetivo central de 3,25%). Esse fato reflete-se também na variação de preços livres, que expurga a maior parte dos efeitos diretos da elevação de tributos.
Nos próximos meses a variação trimestral anualizada e interanual desses preços devem cair para perto de 4,1%.
Em suma, as evidências se acumulam de uma dinâmica desinflacionaria favorável após dois anos de crescente aperto monetário, com os juros em território restritivo desde o terceiro trimestre do ano passado. O principal vetor de pressão para o IPCA remanescente parece ser a recomposição de certos preços administrados, em especial a gasolina, que subirá em reflexo à reoneração de tributos federais e estaduais. Excluindo esse fator, o IPCA poderia fechar já em 2023 dentro das bandas de flutuação da meta de inflação.
Íntegra da análise macroeconômica do Banco Safra.