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Mercado vê relaxamento monetário mais distante nos EUA após fala de Powell

Em discurso no Simpósio anual de Jackson Hole, Jerome Powell sinaliza intenção de manter a política monetária restritiva até haver confiança de que a inflação cai de forma sustentável

Jerome Powell em Jackson Hole

“É o trabalho do Fed reduzir a inflação à nossa meta de 2% e vamos fazer isso”, afirma Jerome Powell

O mercado financeiro postergou as expectativas para cortes de juros nos Estados Unidos, após discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, em Jackson Hole. O monitoramento do CME Group mostra que junho do ano que vem é o primeiro mês no qual a precificação de juros abaixo do nível atual (entre 5,25% e 5,50%) aparece de maneira majoritária.

Nos últimos dias, o cenário de relaxamento monetário era visto com mais força a partir de maio de 2024. Trata-se de uma mudança significativa em relação ao quadro verificado no começo deste ano, quando a aposta de investidores era de que uma recessão nos EUA levaria o Fed a cortar juros ainda em 2023.

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, afirmou nesta sexta-feira que a autoridade monetária está preparada para aumentar mais os juros, se necessário. Em discurso durante o Simpósio de Jackson Hole, ele sinalizou intenção de manter a política monetária em níveis restritivos até haver confiança de que a inflação cai de forma sustentável em direção à meta de 2%.

O banqueiro central destacou, em particular, os sinais recentes de resiliência do consumo e da economia dos Estados Unidos. “Evidências adicionais de um crescimento persistentemente acima da tendência poderão colocar em risco novos progressos na inflação e justificar um maior aperto da política monetária”, ressaltou. De qualquer forma, Powell reforçou o compromisso da instituição em assegurar a estabilidade de preço.

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Para isso, segundo ele, deve ser necessário um período de crescimento abaixo do potencial e algum enfraquecimento do emprego. “É o trabalho do Fed reduzir a inflação à nossa meta de 2% e vamos fazer isso”, garantiu.

Simpósio de Jackson Hole: Powell emite sinal de cautela

No discurso durante o Simpósio de Jackson Hole, o presidente do Federal Reserve indicou que o banco central norte-americano agirá de maneira cautela nas próximas decisões de política monetária, com objetivo de avaliar os indicadores econômicos e a evolução do cenário.

Powell chamou atenção para o nível de incertezas no horizonte e a consequente importância das considerações sobre gestão de risco. “Nas próximas reuniões, avaliaremos o nosso progresso com base na totalidade dos dados e na evolução das perspectivas e dos riscos”, ressaltou.

O banqueiro central alertou que um aperto monetário aquém do necessário poderia permitir que a inflação se incorpore à economia, o que poderia demandar uma postura mais restritiva, com alto custo para o mercado de trabalho. Por outro lado, segundo ele, um arrocho exagerado também “poderia causar prejuízos desnecessários” à atividade econômica.

O presidente do Federal Reserve reconheceu os recentes progressos em direção à estabilidade de preços nos Estados Unidos, mas alertou que a inflação permanece muito alta em um cenário marcado por incerteza. Os comentários foram feitos em discurso durante o Simpósio de Jackson Hole.

Powell explicou que o arrefecimento inflacionário depende principalmente da normalização da demanda e da resolução das distorções de oferta. “Embora estas duas forças estejam agora a trabalhar em conjunto para reduzir a inflação, o processo ainda tem um longo caminho a percorrer, mesmo com as leituras recentes mais favoráveis”, ressaltou.

O dirigente admitiu que as leituras mais baixas do núcleo de inflação em junho e julho foram “bem-vindas”, embora dois dados sejam apenas o “começo” do que será necessário para garantir confiança no processo.

Segundo ele, ainda não é possível saber de forma definitiva a que ponto a desinflação é sustentada e onde os preços vão se acomodar. “O núcleo de inflação dos últimos doze meses ainda é elevado e há ainda um terreno substancial a percorrer para regressar à estabilidade de preços”, comentou, acrescentando que os preços de energia e alimentos são muito influenciados por fatores globais voláteis.

De acordo com Powell, a inflação de bens em seu núcleo permanece elevada, apesar da acentuada desaceleração nos últimos meses. “É necessário um progresso sustentado e é necessária uma política monetária restritiva para alcançar esse progresso”, pontuou ele, que vê um período de crescimento econômico abaixo do potencial e enfraquecimento do mercado de trabalho para assegurar esse objetivo.

Nível atual dos juros neutros

O presidente do Federal Reserve disse que não é possível identificar com precisão o nível atual dos juros neutros, ou seja, a taxa que não estimula nem comprime a atividade econômica. “E, portanto, há sempre incerteza sobre o nível exato de restrição da política monetária”, destacou, durante o discurso no Simpósio de Jackson Hole.

Powell reforçou que a inflação a 2% é e continuará sendo a meta do banco central norte-americano. “Estamos empenhados em alcançar e manter uma orientação de política monetária que seja suficientemente restritiva para reduzir a inflação para esse nível ao longo do tempo”, destacou.

O banqueiro central considera “desafiador” definir o momento exato em que essa postura é alcançada. No momento, os juros reais estão positivos e bem acima das estimativas mais aceitas para a taxa neutra. “Vemos a atual postura política como restritiva, exercendo pressão descendente sobre a atividade econômica, as contratações e a inflação”, pontuou ele, que disse que o Fed está “atento” aos sinais de economia forte nos EUA.

O presidente do Federal Reserve alertou que eventuais indícios de que o aperto no mercado de trabalho americano não está arrefecendo poderiam justificar uma resposta da política monetária, possivelmente com mais aumento de juros. Powell ressaltou que o reequilíbrio do emprego nos EUA continuou em curso ao longo do último ano, embora permaneça incompleto.

Segundo ele, a oferta de trabalhadores melhorou, diante do aumento na taxa de participação entre pessoas de 25 a 54 anos, além de um aumento da imigração aos níveis pré-pandemia.

Esse processo ajudou a reduzir as pressões salariais, de acordo com ele. Ainda assim, há riscos: “Mesmo com o abrandamento do crescimento dos salários nominais, o crescimento dos salários reais tem aumentado à medida que a inflação cai”.

O presidente do Fed da Filadélfia, Patrick Harker, afirmou ao Yahoo Finance que a instituição deve manter a taxa de juros pelo menos até o final do ano. Para ele, um corte nas taxas não deve acontecer até o ano que vem, mas que a política monetária para o próximo ano ainda não está clara. De acordo com Harker, é preciso manter as taxas como estão para ver como a economia reage.

Harker ainda salientou que, se a inflação parar de cair, os dirigentes podem cogitar novas altas de juros. “Taxas estão em nível restritivo, devemos manter a pressão”, afirmou. Segundo ele, a previsão é de um pouso suave para a economia americana, mas há sinais de desaceleração do emprego e a inflação de serviços ainda é “inaceitavelmente alta”. “Queremos voltar ao cenário de baixa inflação baixo desemprego e bom crescimento”, afirmou Harker. Ele ainda citou complicações geopolíticas, como a Guerra da Ucrânia, como riscos para a economia.

Ex-presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard afirmou, também em entrevista ao Yahoo! Finance, que considera possível aumentar mais as taxas de juros nos Estados Unidos sem provocar uma recessão. Segundo ele, a economia norte-americana está resiliente e os números de consumo e o mercado de trabalho estão robustos,o que permitiria esse aumento sem risco de recessão.

Para Bullard, dirigentes do Fed devem esperar até novembro para tomar alguma decisão. “Os dados não estão colaborando da maneira que esperávamos”, afirmou. (AE)

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