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‘Super quarta’ após quebra de bancos americanos pode dar novos rumos aos juros nos EUA e no Brasil

Crise enfrentada por instituições financeiras americanas aumenta a expectativa em relação às decisões do Copom e do Fomc na quarta-feira

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A inflação no Brasil ainda sugere cautela nas decisões de taxa de juros nos próximos meses | Foto: Getty Images

A “super quarta” desta semana é aguardada com grandes expectativa pelo mercado financeiro, em vista dos últimos acontecimentos envolvendo grandes bancos internacionais. A expressão super quarta refere-se à divulgação de decisões sobre juros no mesmo dia, na quarta-feira, após as reuniões do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) e Comitê de Mercado Aberto do Federal Reserve (Fomc).

No Brasil, a tendência é de que os juros sejam mantidos em 13,75% ao ano, nível em que se encontram desde agosto do ano passado, depois de um ciclo de aperto que começou em 2% ao ano em janeiro de 2021. Após a crise de crédito enfrentada pelas Lojas Americanas e a quebra de bancos nos Estados Unidos, analistas começam a acreditar em queda da taxa básica de juros (Selic) a partir de julho.

Nos Estados Unidos, a crise que levou ao fechamento de dois bancos nos últimos dias (Silicon Valley e Signature Bank) mudou a perspectiva em relação ao rumo dos juros. Até recentemente os economistas acreditavam em continuidade da elevação dos juros para conter a inflação. Após oito altas seguidas dos juros nos Estados Unidos, a taxa poderia até cair já nesta semana, tendo em vista a necessidade de conter a crise que já abala outras importantes instituições financeiras globais, como o Credit Suisse.

O monitor de juros do CME Group indica que 38% dos economistas acreditam que o Federal Reserve pode encerrar o ciclo de aperto monetário esta semana, mantendo a taxa na faixa entre atual de 4,50% e 4,75% ao ano. Mas, 62% acreditam em nova elevação, desta vez de 25 pontos-base.

Aperto monetário nos Estados Unidos causa ‘efeitos adversos’

A politica de aumento dos juros nos Estados Unidos para conter a maior inflação em 40 anos causou efeitos adversos no mercado nos últimos dias. Dois bancos foram à falência e tiveram as atividades encerradas pelas autoridades monetárias americanas: o Silicon Valley e o Signature Bank.

O Silicon Valley tinha grande concentração de clientes no setor de tecnologia. Boa parte dos ativos era prefixada nos tempos dos juros baixos. Esses ativos caíram com o atual ciclo de alta dos juros e, com isso, o banco teve uma grande perda no valor dos seus ativos. A necessidade de vender títulos para honrar compromissos acabou acelerando os saques e o banco foi à bancarrota.

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A falência do silicone Valley é considerada a mais grave desde a quebra do Lehman Brothers em 2008 e já abala outras instituições, como o Credit Suisse. Agora o mercado começa a rever projeções para os juros americanos, que poderiam parar de subir na próxima reunião do Federal Reserve, e talvez até começar a cair em julho.

Há outros dados nesta equação a serem considerados: o descompasso entre demanda e oferta de mão-de-obra nos Estados Unidos, que não se via desde os tempos da guerra no Vietnã, contribuiu para um aumento da rotatividade e também dos salários na saída da pandemia de covid-19.

Desde o ano passado a política monetária começou a fazer efeito na demanda por trabalho, que se estabilizou, ainda em um nível alto. Com isso, o excesso de vagas em relação ao número de pessoas dispostas a trabalhar parou de crescer, mas se manteve perto de 5 milhões, um nível extraordinariamente alto.

Recentemente, esse cenário começou a mudar, ainda que apenas ligeiramente, com o ingresso de quase 2 milhões de pessoas na força de trabalho.

O aumento na oferta de trabalho nos Estados Unidos acompanha o dinamismo do emprego. Em fevereiro, a criação líquida de empregos alcançou 311 mil posições. O dinamismo reflete o aumento do consumo das famílias com serviços, em contraste com a estagnação do consumo de bens, duráveis ou não.

Outro dado a ser considerado pelo Federal Reserve é que o núcleo da inflação nos Estados Unidos continuará a crescer em ritmo maior do que a média da década passada. O Safra estima que ao longo de 2023 o núcleo da inflação caia de 5,6% em janeiro para 3,4% em dezembro, ainda acima da meta de 2%.

Rumo dos juros no Brasil após indicador de inflação em fevereiro

No Brasil, a inflação oficial medida pelo IPCA mostrou alta de 0,84% em fevereiro, resultado acima das projeções do Safra e do consenso do mercado.

Os aumentos da gasolina e da tarifa de energia elétrica contribuíram para a alta, refletindo mudanças na base de cálculo do ICMS sobre a energia em alguns estados. Apesar disso, a inflação acumulada em 12 meses cedeu de 5,77% para 5,60%.

A forte alta de produtos de higiene pessoal e a maior pressão em alimentação fora do domicílio ajudam a explicar a dinâmica mais desfavorável.

O aumento do preço dos combustíveis, com a volta dos impostos, deve pressionar a inflação de março e a do ano de 2023. O efeito da volta dos tributos sobre a inflação de 2023 é de aproximadamente 1 ponto porcentual, pelas estimativas do Safra. Significa que a inflação de 2023, estimada em 6,2%, seria de pouco acima de 5% desconsiderando a volta dos tributos.

A inflação ainda sugere cautela nas decisões de taxa de juros. Os núcleos, que expurgam parte dos efeitos das mudanças tributárias e procuram medir a inflação dos elementos mais correlacionados com a demanda interna, seguem em patamar incompatível com uma meta de inflação de 3% ao ano. Deve haver uma convergência lenta em direção à meta.

O Banco Central também terá que lidar também com a deterioração das expectativas de inflação de 2024 e 2025, observada desde o começo do ano.

O enfraquecimento da atividade econômica, pela contração do crédito e pelos efeitos da crise bancária nos Estados Unidos, pode dar outra dinâmica à política monetária, se vier a ser acompanhada pelo arrefecimento dos núcleos da inflação. Vamos seguir acompanhando.

Confira a íntegra da análise macroeconômica semanal do Banco Safra.

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