Desde 2015, a UNESCO e a ONU escolheram a data de 11 de fevereiro para celebrar o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Esse marco seria importante? Por exemplo, no ano passado, foi divulgado que as mulheres ocupam 71% dos cargos de pesquisador científico do Instituto Butantan, onde vem sendo desenvolvidas diversas soluções em saúde. Além disso, considerando o cenário científico no Brasil há um número bem animador, pois as mulheres assinam 72% dos artigos acadêmicos no país, o que é um número surpreendente.
No entanto, as mulheres não chegam no topo da academia, elas são apenas 26% na docência do ensino superior no Brasil, e não chegam nem a ser 10% em faculdades de cursos de exatas. Nas universidades públicas brasileiras, as mulheres representam apenas 15% dos cargos de reitor.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, a disparidade entre os gêneros na carreira e produção científica é uma realidade. Apesar de, atualmente, o número de mulheres que consegue se formar na faculdade e mestrado ser equiparável ao de homens, continuam sendo minoria nos doutorados e pós-doutorados. Dessa forma, somente 28% dos pesquisadores do mundo são mulheres.
No mundo, homens publicam mais artigos, têm mais autorias principais e são mais citados que mulheres. Dentre os autores mais citados, somente 13% são mulheres, com grande variação de acordo com a área de conhecimento, desde 4% nas engenharias até 31% nas ciências sociais. E a pandemia da COVID-19 agravou o cenário, pois desde 2020, as mulheres foram menos participativas nas submissões e publicações científicas, pois ficaram mais sobrecarregadas nesse período.
A Elsevier lançou em 2017 o relatório “Gender in the Global Research Landscape”, um panorama da pesquisa mundial ao longo de 20 anos, em 12 países e regiões. Percebe-se que em nove dessas regiões, entre 2011 e 2015, mais de 40% dos pesquisadores eram mulheres, o que representa um crescimento quando comparado a uma década anterior. Entretanto, a representatividade feminina varia muito de acordo com o campo de pesquisa. As mulheres são raras nas ciências físicas, da computação e matemáticas, relacionadas com a criação de tecnologias e, consequentemente, no registro de patentes também.
Outra informação é que mulheres, apesar de colaborarem mais que homens domesticamente, envolvem-se menos em colaborações internacionais, e deslocam-se menos em viagens para trabalhar em suas pesquisas. Adicionalmente, as pesquisas sobre gênero têm crescido nos últimos anos, entendendo que o assunto deva ser tratado por todos, inclusive na própria academia. A pesquisa em gênero tem crescido mais rápido que a pesquisa científica geral.
Como em qualquer segmento do mercado de trabalho, ser homem é um fator preditivo positivo para avançar mais rápido na carreira e também para tornar-se o pesquisador principal de estudos. Os homens conseguem mais publicações e citações, alcançando posições e salários mais altos que as mulheres. Foram notadas também diferenças de gênero, com viés positivo para os homens, na probabilidade de contratação, salários iniciais mais altos e fundos de pesquisa.
No Brasil, as mulheres são pouco mais da metade das bolsistas de iniciação científica (enquanto estudantes de graduação), mas são a pequena minoria nos níveis mais qualificados de bolsa como pesquisadores doutores. Um estudo descreveu o “Efeito Matilda”, em que autoras mulheres são associadas com menor qualidade percebida e interesse pela publicação, em relação à autoria masculina.
Mulheres têm maior probabilidade de passar por interrupções na carreira e deixar a vida acadêmica por fatores pessoais e familiares. Tais dificuldades para a equidade de gênero devem ser reconhecidas na academia e por todo o mercado, para que todos possamos ganhar juntos.