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Ilton Caldeira

Dez possíveis consequências para a economia mundial em caso de calote dos EUA

Entenda o que pode acontecer caso não haja um acordo em torno do teto da dívida de US$ 31,4 trilhões em títulos da dívida dos EUA

Calote dos EUA

O teto atual para a dívida bruta dos EUA é de US$31,4 trilhões, cerca de 117% do PIB dos EUA | Foto: Getty Images

O impasse nas negociações entre a Casa Branca e o Congresso para ampliar um novo limite de teto de endividamento para o governo dos Estados Unidos permanece. Ainda não podemos vislumbrar luz no fim do túnel. Enquanto isso, a Secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, revelou que o país só tem capacidade para sustentar suas operações até 1º de junho, se o governo não puder pedir mais recursos emprestados.

O teto da dívida é o montante que o Congresso autorizou o governo americano a pedir emprestado para cumprir suas obrigações básicas como o pagamento de aposentadorias e os salários de militares e do funcionalismo público federal.

O teto atual para a dívida bruta é de US$31,4 trilhões, cerca de 117% do PIB dos EUA. Caso um acordo não seja anunciado e votado pelo Congresso nos próximos dias, as possíveis consequências para a economia mundial em caso de calote dos EUA seriam:

  • 1. Os mercados de ações provavelmente seriam os primeiros a serem afetados com perda de valor de muitos ativos na expectativa de uma recessão econômica mais ampla, à medida que as taxas de juros sobem e os investidores retiram fundos do mercado para preservar o acesso a recursos financeiros no curto prazo. O setor bancário já cauteloso em conceder novos empréstimos poderia apertar ainda mais as condições para oferecer crédito.
  • 2. Mesmo sem inadimplência, atingir o teto da dívida prejudicaria a capacidade do governo americano de financiar suas operações, incluindo programas de defesa nacional, programas de assistência como Medicare ou Previdência Social.
  • 3. As possíveis repercussões de atingir o teto incluem um rebaixamento por agências de classificação de risco dos títulos do Tesouro dos EUA, considerados os mais seguros do mundo.
  • 4. Aumento dos custos de empréstimos para empresas e  para as pessoas físicas com financiamentos imobiliários.
  • 5. Queda na confiança do consumidor com forte impacto para as empresas, o mercado financeiro, elevando as taxas de desemprego com o fechamento imediato de até 8 milhões de postos de trabalho, segundo algumas estimativas, colocando a economia dos EUA em recessão.
  • 6. Elevação das taxas de juros e corte de investimentos federais em áreas como infraestrutura, educação e saúde.
  • 7. Fortes estragos nos mercados financeiros globais. A credibilidade dos títulos do tesouro dos EUA oferece sustentação para a demanda mundial por dólares, contribuindo para o status de moeda de reserva mundial. Cerca de 60% das reservas mundiais em moeda estrangeira são em dólares americanos. Qualquer impacto na confiança da economia dos EUA, seja por inadimplência ou pela incerteza, pode fazer com que os investidores vendam títulos do tesouro enfraquecendo o dólar.
  • 8. Países altamente endividados podem sofrer com uma mudança repentina nas cotações do dólar. Um dólar mais fraco poderia tornar as dívidas denominadas em outras moedas relativamente mais caras e ameaçar derrubar algumas economias emergentes em crises de dívida. Além disso, muitos países protegem suas finanças comprando grandes quantidades de títulos do governo dos EUA. Violar o teto da dívida pode reduzir o valor desses títulos, prejudicando as reservas de diversas nações.
  • 9. Empresas exportadoras americanas poderiam se beneficiar da depreciação do dólar porque isso aumentaria a demanda externa por seus produtos, tornando-os efetivamente mais baratos. Por outro lado, essas mesmas empresas também teriam que conviver com custos de empréstimos mais elevados, devido ao aumento das taxas de juros.
  • 10. Ficar sem recursos pode levar a ampla estrutura federal dos EUA a uma paralisação quase que total. Agências governamentais cujos gastos não recebem aprovação oferecem aos trabalhadores licenças não remuneradas. Funcionários em áreas consideradas  essenciais continuariam trabalhando sem pagamento, e seriam reembolsados futuramente. O governo federal é o maior empregador do país, com cerca de 4,2 milhões de funcionários em tempo integral.

Desde 1960, o Congresso americano agiu 78 vezes para aumentar permanentemente, estender temporariamente ou revisar a definição do limite da dívida, sendo 49 vezes sob presidentes republicanos e 29 vezes sob presidentes democratas.

Mas a questão da dívida é um tema indigesto dentro do universo da política americana. Como o voto que um parlamentar dá faz parte de seu histórico político para sempre, muitos temem serem taxados como avalistas de mais empréstimos e da elevação de gastos federais.

Apesar das dificuldades em se chegar a um acordo, ainda resta a esperança de que a Casa Branca e os congressistas, tanto democratas quanto republicanos, alcancem um acordo a tempo de evitar uma catástrofe sem precedentes.

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Ilton Caldeira é jornalista de Economia e Política e especialista em Relações Internacionais pela FGV-SP. Nos Estados Unidos é Head de Comunicação da Dell’Ome Law Firm e sócio da consultoria Smart Planning Advisers.

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