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Caroline Palermo

Etarismo, educação e contato intergeracional na agenda ESG

Certamente, todos envelheceremos, então que seja uma fase de transição digna e confortável, tanto para aquele que está passando por este momento, como para que a sociedade seja acolhedora e lhe mostre perspectivas, sob o enfoque da diversidade e da inclusão

Casal de idosos olha para a família, em alusão ao amparo que o seguro de vida oferece

O seguro de vida garante uma indenização financeira aos beneficiários em caso de incapacidade ou morte do segurado | Foto: Getty Images

Atualmente, nos deparamos com diversas notícias sobre oportunidades (ou a falta delas), além de pesquisas sobre o estilo de vida e a forma de consumo das pessoas acima dos 55 anos. Contudo essa pauta é pouco explorada no ambiente corporativo, o que torna urgente a abordagem acerca do etarismo.

Segundo a World Health Organization (agência especializada em saúde, subordinada à Organização das Nações Unidas), o etarismo refere-se à discriminação etária ligada aos estereótipos (como pensamos), aos preconceitos (como nos sentimos) e à discriminação (como agimos), com base na idade.

E se hoje podemos agir, precisamos abordar o preconceito de idade que afetará a todos. O envelhecimento traz preocupações com a saúde, o bem-estar e os comportamentos, bem como acarreta diversos problemas econômicos e sociais.

Se por um lado, o avanço da agenda ESG – acrônimo em inglês que significa “Environmental, Social and Governance” e que, no Brasil, também é conhecido como ASG (Ambiental, Social e Governança) – ganha cada vez mais visibilidade e importância no ambiente empresarial, de outro, algumas práticas que possuem grande impacto para a sociedade ainda não são observadas.

De acordo com o relatório “Global report on ageism” publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU), a discriminação por idade é um desafio global. E a entidade identificou três estratégias para combater esse preconceito:

  • (i) por meio de mudanças nas políticas e nas leis;
  • (ii) por intervenções que utilizam atividades educacionais e,
  • (iii) pelo contato intergeracional.

As políticas e as leis que visam a combater o etarismo podem incluir uma legislação que aborde a discriminação contra a idade e a desigualdade, além de políticas para assegurar o respeito à dignidade. Essas ações devem ser acompanhadas de intervenções educacionais para transmitir informação e melhorar a empatia e que hoje podem ocorrer de forma online, com encenações e simulações, e na realidade virtual imersiva.

E as duas estratégias devem ser combinadas com o contato intergeracional, pois as pesquisas mostraram que o contato entre as gerações foi mais eficaz na redução do etarismo, embora o estudo aponte a necessidade de mais pesquisas para determinar as condições ideais sob as quais esse contato entre avós e netos e as amizades intergeracionais levariam à redução de preconceitos e estereótipos.

Outro ponto de preocupação seria a dificuldade de empregabilidade a partir dos 55 anos e, que acarreta diversos problemas econômicos e sociais, considerando também que o acesso à formação e educação especializadas diminui significativamente com a idade, além do acompanhamento das novas tecnologias por essa faixa etária.

No Brasil, apesar do aumento da idade para se aposentar, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD, demonstra que a fração de indivíduos ativamente participando da força de trabalho, isto é, que estão empregados ou desempregados procurando emprego, a partir dos 60 anos, vem diminuindo. A pesquisa também demonstra que houve majoração do desemprego na faixa etária de 40 a 59 anos, impactada pelos efeitos da pandemia de Covid-19.

O envelhecimento da população é uma das tendências do século XXI e o ESG parece estar se esquecendo do etarismo. Equacionar o envelhecimento da população é uma responsabilidade do Estado e da sociedade, mas também precisa ser do setor privado, senão a conta não fechará. Há uma necessidade de aprimorar a regulamentação trabalhista para englobar medidas que incentivem a manutenção de trabalhadores na faixa acima dos 55 anos, de incluir incentivos fiscais e da qualificação contínua.

O estereótipo de que os salários são altos nessa faixa etária e que estamos falando de uma “economia prateada” (tendências de produtos e serviços para o público acima dos 55 anos), precisam ser afastados, porque, por óbvio, atingem parcela muito pequena da população.

Certamente, todos envelheceremos, então que seja uma fase de transição digna e confortável, tanto para aquele que está passando por este momento, como para que a sociedade seja acolhedora e lhe mostre perspectivas, sob o enfoque da diversidade e da inclusão.

A geração atual precisa começar a reconhecer os desafios, as dificuldades e buscar meios de integração dessa faixa etária para que quando também enfrentarem essa fase da vida, estejam cercados de aparatos econômicos, respeito, empatia e ambiência, ou seja, condições morais, intelectuais e sociais.


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Advogada do escritório Leite, Tosto e Barros Advogados. Professora de Direito Tributário. Coordenadora do MBA Executivo em ESG e Impact e do MBA em Direito Digital da Trevisan Escola de Negócios. Pós-graduada em Direito Tributário pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, com curso de extensão universitária em Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), Governança e Compliance pela Universidade de São Paulo.

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