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Lina Nakata

A prática ou o conhecimento leva à perfeição?

Treinamento é mais do que conhecimento entregue pela empresa para o funcionário: são várias trocas que levam ao crescimento

Treinamento

Possibilidades de treinamento atualmente são praticamente infinitas e quase tudo pode ser gratuito, ou quase | Foto: Getty images

Muitas pessoas ainda têm um mindset de que quando pensam em “treinamento”, logo pensam em sala de aula. Lembrando que treinamento tem muito do conceito 70-20-10, isso é completamente equivocado, pois apenas 10% do aprendizado viria de uma sala tradicional, que hoje em dia nem é em local físico, na maioria das vezes.

Um treinamento formal pode ser um workshop de alguma instituição de ensino, uma oficina, uma palestra, uma aula particular de algum tema técnico, um curso online e outro milhão de opções. Formal é aquilo que a empresa entende como algo obrigatório e estruturado. Poderia até ser a leitura de livros, por que não?

Pensando nesse treinamento 70-20-10, 70% é o aprendizado on-the-job, ou seja, mão na massa. A gente mais que aprende o tempo todo, com erros, acertos e bastante trabalho. Duvido que as pessoas não tenham esse aprendizado no dia-a-dia. Pode ser que algum trabalho não exija tanto da nossa máxima capacidade, mas sempre existe algo desafiador, ou podemos nós mesmos propor algo mais complexo.

E os outros 20% correspondem às trocas com outras pessoas. É algo que gosto muito, aprendo demais com todo mundo – desde conhecimentos aparentemente fúteis (eu aprecio todo conhecimento!) até conteúdos e habilidades super complementares para a minha vida profissional e pessoal. Acho uma parte super rica e é uma das que mais vejo acontecendo de forma efetiva nos ambientes de trabalho que conheço.

Eu também percebo que, atualmente, as possibilidades de treinamento são praticamente infinitas e quase tudo pode ser gratuito (ou quase gratuito). A verdade é que falta tempo para conseguir consumir tanto formato de desenvolvimento bom que existe por aí. Há várias plataformas online, bem acessíveis, por exemplo.

Há inúmeras academias em português e em outros idiomas, com custo bem baixo (há aqueles caros também, claro). E existem bilhões de horas em opções de canais gratuitos no YouTube para aprender o que quiser (desde fazer um bolo ou uma maquiagem, até saber de física quântica ou ESG). Existe Wikipédia com alta qualidade nos artigos, existem ótimos blogs e sites de personalidades diversas (acadêmicas ou não) e muitos outros recursos que eu nem sei listar.

Tudo isso transforma-se em aprendizado e cada um deve se responsabilizar pelo seu próprio treinamento! Eu costumo entender que as empresas passam os desafios e precisamos saber o que nos torna profissionais mais capacitados e qualificados para atender às demandas. Infelizmente, com esse mundo fluido, VUCA (caracterizado por Volatilidade, Incerteza, Complexidade, Ambiguidade) e super dinâmico, torna-se praticamente impossível uma empresa se responsabilizar em pensar no desenvolvimento de cada indivíduo, então os profissionais devem, sim, buscar conhecimentos dentro e fora da empresa, sempre.

Conhecimento já foi sinônimo de poder por muitos séculos. Nestes últimos anos, é sinal de compartilhamento, então não é mais possível mais ver essa ideia de treinamento sendo um conhecimento entregue da empresa para o funcionário: são várias trocas que geram essa noção de evolução e crescimento!

Entendo que seja difícil para algumas pessoas compreenderem essa questão, pois todos nós, que estamos atuando agora no mercado de trabalho, fomos formados pelo modelo tradicional de educação (treinamento formal), mas vejo tantas mudanças mundo afora. É necessário termos mais protagonismo e buscar atualização constante – até porque grande parte dos trabalhos nos próximos anos ainda não existe hoje!

Não adianta ficarmos esperando o conhecimento bater à porta da nossa casa ou ficar esperando alguém passar do seu lado para transmitir alguma informação.


Professora e pesquisadora da FIA Business School, co-presidente da Professional Women Network (PWN-SP), diretora de marketing da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração e diretora de carreiras da Sempre FEA. Leciona também na Universidade Presbiteriana Mackenzie, Insper, ESEG e Uneed.

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