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Os 100 anos da Semana de Arte Moderna e da Expocentenário 1922

Museóloga Ruth Levy destaca a importância da Expocentenário 1922 para a discussão da arquitetura brasileira no início do século XX

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Pavilhão do Distrito Federal, um dos poucos prédios da Exposição que chegou até os dias de hoje | Foto: Reprodução/Instagram

O movimento modernista no Brasil, marcado pela Semana de Arte Moderna de 1922, que aconteceu em São Paulo, mudou o cenário artístico, cultural e literário, caracterizado pela liberdade estética, o nacionalismo e a crítica social e inspirado pelas inovações artísticas das vanguardas europeias, como o cubismo, o futurismo, o dadaísmo, o expressionismo e o surrealismo. No mesmo ano, o Rio de Janeiro também vivia outro movimento, a partir da Exposição Internacional Comemorativa do Centenário da Independência (Expocentenário 1922).

Estamos vivendo o primeiro centenário desses dois importantes marcos da história brasileira, embora no tempo prevaleça mais a lembrança da Semana de Arte Moderna em São Paulo, muito pelo legado do chamado “Grupo dos cinco”: Anita Malfatti, Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral.

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No Rio, numa extensa área no centro da cidade, se construíram palácios e pavilhões, nacionais e estrangeiros, além de duas portas monumentais. Era como uma vitrine para expor as tendências da arquitetura daquele tempo.

Uma forma de os arquitetos e artistas transmitirem um olhar libertário contra o rigor estético. A museóloga e arquiteta Ruth Levy, dedica-se de forma especial a esse período. A partir de uma pesquisa extensa, ela mergulhou nos registros que restaram do evento no Rio, uma valiosa passagem da arquitetura num momento de transição entre o ecletismo e o modernismo, passando pelo neocolonial.

Para ela, a Expocentenário 1922 foi fundamental para a discussão da arquitetura brasileira no início do século XX e acaba servindo como forma de repensar grandes eventos e as transformações que acontecem na cidade, como se deu com a Copa e as Olimpíadas. São mudanças urbanas e arquitetônicas que devem considerar as tendências do momento e o legado que isso pode trazer como benefício para a população.

Ruth Levy é autora dos livros ‘Entre Palácios e Pavilhões’ e ‘A Exposição do Centenário e o Meio Arquitetônico Carioca no Início dos Anos 1920’. Nas obras ela buscou recompor o cenário arquitetônico da exposição. Criou inclusive um perfil no Instagram para retratar um pouco essa fase da história do Brasil (https://www.instagram.com/expocentenario_1922/).

A Exposição Internacional Comemorativa do Centenário da Independência acontecia de forma simultânea à Semana de 22, em São Paulo.

Mirante da Exposição do Centenário | Foto: Reprodução/Instagram

Distribuída entre imensos palácios e pavilhões, que foram especialmente construídos para o evento, serviu como cartão postal para mostrar os progressos da arquitetura nacional e os encantos da cidade maravilhosa. A transferência da capital do Brasil, que era em Salvador, se deu em 1763 e no Rio permaneceu até a construção de Brasília, em 1960.

Era, portanto, um momento de grande efervescência, o Rio de Janeiro concentrava grande relevância política, econômica e cultural, estava na trilha das exposições universais da segunda metade do século XIX.

Segundo Ruth Levy, que é a museóloga da Casa Museu Eva Klabin, houve a participação de vários países como França, Inglaterra, Itália, Portugal, Estados Unidos, Argentina e México. Ao longo dos dez meses de duração, a Exposição recebeu mais de 3,5 milhões de pessoas e, além do caráter didático, o aspecto lúdico e de novidade trazia ao evento vida e animação. Foi dali que se fez, por exemplo, a primeira transmissão oficial de rádio no Brasil, com o discurso do presidente Epitácio Pessoa.

Sem dúvida era um cenário privilegiado de grandes transformações, não só para a cidade, mas para o País, por isso a dedicação de Ruth em preservar esse capítulo de nossa história, uma memória que merece ser estudada e trazida de volta ao público.

Ruth Levy, que é a museóloga da Casa Museu Eva Klabin | Foto: Getty Images

Do glamour e imponência daquelas construções, há muito pouco nos dias de hoje. Restam ainda, por exemplo, os prédios da Academia Brasileira de Letras (ABL), que há 100 anos era o pavilhão da França, e o Museu da Imagem e do Som. Onde hoje está a Embaixada dos Estados Unidos, ficava o pavilhão americano, que foi demolido.

O Copacabana Palace é também dessa época, construído por Otávio Guinle, dono do Hotel Palace, luxuoso hotel que ficava no centro, justamente para hospedar com “garbo” os visitantes mais ilustres. Mas O Hotel Glória, empreendimento da família Rocha Miranda, construído pelo engenheiro alemão Riedlinger, foi o único a ficar pronto para a data oficial e hospedou chefes de Estado e celebridades.

Há 100 anos mais de 200 eventos marcaram a Exposição do Centenário, que terminou somente em julho de 1923 e recebeu 12 mil visitantes por dia e 14 delegações internacionais.

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