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Para Levy, economia precisa de vacinas e previsibilidade

Diretor de Estratégia Econômica do Safra defende reforma tributária, mas destaca que o importante no momento é a vacinação

Joaquim Levy, do Safra, foi entrevistado ao vivo pela jornalista Sonia Favaretto, do Valor Econômico | Foto: Reprodução

O economista Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica e Relações com o Mercado do Banco Safra, defendeu o ajuste gradual da taxa básica de juros, a Selic, diante do cenário de alta da inflação. Mas, no momento, segundo ele, o mais importante para a economia é acelerar a vacinação. Ele compara a situação atual a uma guerra e não vê risco fiscal na extensão do apoio emergencial.

Levy foi entrevistado ao vivo pela jornalista Sonia Favaretto, colunista do Valor Investe, na série “Encontro Safra”, do jornal Valor Econômico. A entrevista está disponível no Youtube.

Elevar juros e alinhar expectativas

“Hoje a taxa real de juros é negativa. Não é o que a gente encontra em outas economia emergentes. Com uma inflação que está em 3,5%, 4%, se a Selic subir gradualmente, de onde a gente está, de 2%, até 4%, na verdade, estaremos alinhados aos outros países emergentes, e isso pode ter um efeito positivo no câmbio, que afeta também a inflação”, afirma Levy. “O importante é o Banco Central dar essa sinalização, de tal maneira que ele alinhe as expectativas dos agentes econômicos”.

Ex-diretor financeiro do Banco Mundial e ex-presidente do BNDES, o executivo defende que o país esteja atento não somente às questões fiscais, que envolvem o funcionalismo e o tamanho do Estado, mas também às decisões de todos os dias.

A importância da trajetória

“São essas decisões, em vários aspectos da economia, que têm que estar sendo tomadas o tempo todo e que formam na verdade essa trajetória fiscal. Não é apenas uma coisa, mas uma tensão permanente e certa imaginação para permitir que a economia volte crescer. Porque parte da trajetória fiscal tem a ver com mais receitas, uma economia mais ativa, um PIB que dê lastro a um governo que tenha os recursos para cumprir com sua sobrigações”.

Levy diz que a confiança do investidor está ligada ao impulso que o Brasil ganhou na economia no ano passado, quando o governo injetou dinheiro na economia por meio de iniciativas como o auxílio emergencial.

Auxílio emergencial animou a economia

“Isso ajudou a gente a voltar a crescer muito rápido. Esse impulso, quanto tempo vai se manter? Isso depende de a gente diminuir fricções da economia, dar confiança para as empresas que se viram agora em melhor condição quererem usar o dinheiro para investir e o próprio consumidor começar a fazer planos e a pensar a vida para frente. Então, sinalizar com as reformas, particularmente com a reforma tributária, ajuda o empresário a ter mais fôlego. E tambémn vai ajudar o governo a arrecadar sem ter que aumentar a alíquota e sem ter que aumentar a carga tributária”.

Previsibilidade e transparência

“Qualquer coisa que envolva previsibilidade, transparência e concorrência ajuda nas expectativas dos agentes econômicos”, afirma Joaquim Levy.

O economista também comentou a prorrogação do auxílio emergencial: “A pandemia mudou muitas coisas e ainda não está vencida, por isso o auxílio emergencial é importante e necessário. E é bom que venha acompanhado por medidas fiscais compensatórias, embora o valor menor do auxílio, ao nosso ver, não representa risco dentro da nossa perspectiva fiscal. Temos tranquilidade em relação à extensão do auxílio, desde que o país avance em outras pautas importantes, não apenas fiscais, mas de melhora da economia, com reformas econômicas que tragam de volta a confiança e o apetite do investidores”.

Segundo ele, a dívida pública é uma preocupação global atualmente, e o importante é a trajetória dos administradores em relação à situação fiscal. Ele cita o exemplo da dívida de Itaipu, que termina em um ano e meio. “Quando a dívida acabar, temos decisões sobre como ficam as tarifas, por exemplo. São decisões que precisam ser tomadas todo o tempo e que mostram a trajetória fiscal”.

O importante agora é a vacinação

Ele defende a necessidade de uma reforma tributária que simplifique a vida das empresas, mas destaca que o mais importante no momento é a vacinação.

“Vacinas são fundamentais para destravar a economia brasileira”, afoirma, comparando a situação atual a uma guerra. Caso a vacinação não avance, o país vai ficar para trás, e até o câmbio poderá ser afetado.

“É necessário que haja planejamento. Não se pode mandar a tropa sair da trincheira para ser metralhada. É lógico que a gente quer a economia funcionando, mas, para isso, é preciso proteger as pessoas para elas poderem ir para a linha de frente. Hoje a maneira de alcançar isso é com a vacinação. O Brasil já vacinou praticamente todo mundo do setor de saúde, começou a avançar rapidamente os idosos, mas acabou a munição. Agora a gente tem que ter uma segunda leva, nas próximas cinco ou seis semanas”.

Vacina evitará contração da economia

O diretor do Safra acredita que, com a vacinação dos idosos com mais de 70 anos, haverá uma retomada da economia que vai permitir que este ano não seja um ano de contração econômica como foi 2020.

“Com a vacinação dessa faixa etária, em poucas semanas o número de hospitalizações e óbitos começará a cair, e aí você consegue dar muito mais flexibilidade para as essoas mais jovens poderem sair e voltar a normalizar o setor de serviços. Mas você só pode fazer isso se tiver essa estatégia bem implementada”.

Segundo ele, enquanto a vacinação não puder dar mais liberdade para as pessoas trabalharesm, o auxílio emergencial ainda vai ser necessário:

“É bom que seja acompanhado de medidas de compensação fiscal, mas, dentro da ordem geral das coisas, um valor limitado de auxílio não põe em risco a nossa perspectiva fiscal. Nós temos tranquilidade de que se pode avançar nisso, desde que se avancem em outras pautas, não apenas fiscais, mas também de melhora da economia e reformas microeconômicas que tragam de volta a confiança e o apetite do investidor”.

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