Preço de banana despenca no Equador com bloqueio à Rússia

Um produtor de bananas do Equador despejou sua colheita de 45.000 quilos em uma rodovia para doar, por falta de mercado. Assim como dezenas de milhares de produtores do país, ele ficou sem ter para onde exportar as frutas após a invasão da Ucrânia pela Rússia. A Rússia é a terceira maior compradora de bananas do Equador, que faturou US$ 3,5 bilhões no ano passado com a produção do produto. Com a guerra, o preço da banana despencou.

As sanções contra Moscou, além de engarrafamentos nos portos europeus, levaram as companhias marítimas a interromper as entregas para a Rússia, deixando muitas bananas equatorianas sem destino. Os preços despencaram e muitos agricultores estão deixando bananas apodrecer nos campos, já que os preços baixos não cobrem o custo de produção.

O Brasil exporta flores frescas e camarão para a Rússia, o quarto maior mercado para as exportações não petrolíferas do Equador.

Em todo o mundo, países e empresas que dependiam da Rússia para comprar suas exportações estão sentindo o impacto, desde o Canadá, onde a fabricante de aeronaves Bombardier Inc. recentemente parou de vender jatos comerciais para a Rússia, para a África do Sul, com seus exportadores de vinho e cítricos.

Mas são países menores, como o Equador — que dedicou uma grande porcentagem de suas exportações para a Rússia — que são os mais afetados. Com 17 milhões de habitantes, o Equador designa mais de 20% de suas exportações de banana para a Rússia.

Um dos produtores do Equador bloqueou uma rodovia perto da cidade de El Guabo com bananas, e distribuiu sua colheira para as pessoas que vivem nas proximidades. Antes da Rússia invadir a Ucrânia há um mês, ele vendia uma caixa de bananas de 40 quilos por 6,25 dólares. No mercado interno o preço da caixa está US$ 1,25, por isso muitos produtores estão preferindo doar ou perder a produção.

Preço da banana despenca com guerra na Ucrânia

“Os preços caíram cerca de 15%, então com isso haverá empresas que deixarão o negócio”, disse o floriculista Guillermo Guzmán ao Wall Street Journal. “Imagine, um problema que está tão longe causando estragos em empresas familiares como as de nossos países.”

Julio Prado, ministro do comércio internacional do Equador, diz que os exportadores não podem redirecionar facilmente contêineres de transporte com bananas e flores destinadas ao mercado russo para a Europa e os EUA. O Paraguai está tendo o mesmo problema com sua carne bovina.

“Essa crise nos afeta muito porque a Rússia é nosso segundo maior comprador, e o mercado interno não pode absorver o excesso de carne”, disse Pedro Galli, presidente de uma associação que representa os produtores de gado paraguaios.

“Tudo está parado, e a logística e os pagamentos foram interrompidos”, disse ao WSJ o gerente geral da Câmara Nacional de Carne do Paraguai, Daniel Burt. “As empresas privadas são as que negociam, e agora buscam alternativas em seus países. É uma situação totalmente desesperadora.”

A produção de bananas é importante para o Equador e emprega 300.000 trabalhadores diretos, disse Franklin Torres, um produtor que é presidente da Federação Nacional dos Produtores de Banana.

Ele disse que a indústria estava apenas se recuperando da pandemia, que atingiu duramente a economia equatoriana, quando os problemas começaram a se mover do outro lado do mundo. Os produtores pediram ao governo para comprar bananas a preços de mercado, sugerindo que o Estado o faça com o dinheiro extra que está ganhando com preços mais altos nas exportações de petróleo.

Se o governo do presidente Guillermo Lasso não concordar com o pedido, os produtores dizem que haverá fechamento de fazendas com graves consequências sociais.O governo refuta a proposta e promete oferecer uma linha de crédito aos agricultores e estudar uma medida na qual as empresas locais de alimentos comprariam bananas a preços especiais para uso na fabricação de farinha, pão e biscoitos.