Por que os bancos americanos faliram e o que fazer com os seus investimentos
Entenda a falência dos bancos dos EUA e os efeitos da crise; especialista recomenda cautela com investimentos em empresas de tecnologia
13/03/2023O fechamento dos bancos Silicon Valley e Signature Bank repercutiu no mercado internacional e afeta empresas brasileiras. A crise financeira mais grave desde 2008 já leva o mercado a acreditar em queda dos juros nos EUA a partir de julho.
Entre investidores, o clima é de cautela e incertezas. Confira os motivos da crise e as recomendações dos especialistas do Banco Safra.
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Como começou a crise?
Quando os juros estavam baixos, durante a pandemia de covid-19 iniciada em 2020, muitas empresas de tecnologia captaram dinheiro no mercado. Desde fins de 2022, com o refluxo da onda tech e aumento dos juros, empresas passaram a sacar o dinheiro ou a exigir rendimento maior para seus depósitos.
O que aconteceu com o banco Silicon Valley?
O Silicon Valley Bank (SVB) financiava empresas do setor tecnológico. Ele foi criado em 1983 e fornecia crédito a várias startups, tendo sua base de clientes muito concentrada no setor. O banco mantinha mais de metade de seus ativos investidos em títulos do governo ou em títulos que rendem pagamentos de financiamento imobiliário, hipotecas, garantidas pelo governo. Boa parte dos ativos era prefixada nos tempos dos juros baixos. Esses ativos caíram com o atual ciclo de alta dos juros para conter a inflação. Com isso, o banco teve uma perda no valor dos ativos.
Como a crise teve início?
Se não precisasse vender os títulos do governo, não haveria prejuízo na prática, mas o Silicon Valley precisou vender parte dos ativos para cobrir os saques. A notícia de que o banco venderia ações para levantar capital desencadeou um afeito manada e os depositantes fizeram filas para sacar o dinheiro no fim de semana.
Qual era o tamanho do Silicon Valley?
O Silicon Valley Bank tinha cerca de US$ 209 bilhões em ativos até o fim de 2022, o que o tornava o 16º maior banco dos EUA, segundo o Federal Reserve. O valor dos ativos equivale a mais de R$ 1 trilhão, o que significa que o Silicon Valley tinha o tamanho do Santander no Brasil.
Qual a gravidade da crise?
O caso do Silicon Valley desencadeou uma crise de repercussão internacional. Trata-se da segunda maior falência da história dos Estados Unidos e a maior desde o colapso no sistema financeiro americano em 2008. Após a crise iniciada na quinta-feira, o Federal Reserve e o governo americano fecharam mais um banco: Signature Bank, um dos principais bancos do setor de criptomoedas, foi fechado no domingo, dia 12.
Que providências o governo dos EUA tomou?
O Federal Reserve agiu rápido e fechou o Silicon Valley e o Signature Bank no fim de semana. O próprio presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que todos os correntistas teriam seus depósitos garantidos. Ele acrescentou que os contribuintes não arcarão com os prejuízos. As perdas com as duas falências serão cobertas por um fundo criado com taxas pagas pelos bancos para o fundo de seguro de depósitos.
Quais os riscos para o mercado financeiro?
A desconfiança no mercado abala outros bancos pequenos e médios, que podem enfrentar situação semelhante. Uma corrida por saques pode forçar os bancos a vender ativos, como títulos, com perdas, depois que os valores de face se deterioraram com o aumento das taxas de juros – efeito que levou à deterioração do Silicon Valley.
Quais os riscos no Brasil?
Apesar da rápida ação do governo dos EUA, a falência deve deixar um rastro de perdas a empresas startups, principais clientes do Silicon Valley, grupo que inclui algumas novatas brasileiras. Startups brasileiras que tinham reservas no Silicon Valley Bank começaram a se movimentar ainda na quinta-feira, 9, para tentar retirar o dinheiro do banco norte-americano. A orientação para os saques partiu de empreendedores e de gestoras de investimento – quem optou por esvaziar as contas ainda na quinta-feira conseguiu completar a transação sem maiores problemas.
Qual a recomendação para investidores neste cenário?
O estrategista de investimentos do Banco Safra, Cauê Pinheiro, sugere cautela na exposição ao setor de tecnologia, pois os bancos podem seguir sofrendo com o funding, uma vez que os juros devem se manter em patamares elevados. Funding é a captação de dinheiro pelos bancos. Em caso de dificuldade de captação, por causa do aumento dos juros, eles terão custos maiores para captar dinheiro. Em caso de custo muito alto, pode haver dificuldade em honrar seus compromissos com investidores, ou seja, pode faltar dinheiro.
“No momento, o Banco Safra não tem o setor de tecnologia na carteira BDRs, preferimos uma exposição ao setor financeiro através de adquirentes e de empresas de investimento”, comenta.
Para o especialista, a dificuldade dos bancos americanos poderia levar a uma pausa no ciclo de aumento de juros pelo Federal Reserve, por causa do estresse no sistema bancário, algo que passou a ser considerado recentemente por algumas casas. E, dependendo da reação do mercado, poderia voltar ao ritmo de alta na taxa básica de juros.
“A dificuldade do momento é equilibrar o cenário inflacionário e conter um potencial colapso do setor bancário”, comenta Pinheiro. Ele destaca que o Fed deve socorrer os investidores e clientes, garantindo que os bancos tenham capacidade para atender às necessidades de todos os seus depositantes.