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Ações da 3R e PetroReconcavo disparam com proposta de unir ativos

Os papéis da PetroReconcavo avançaram 11,7%, e os da 3R 7,6%, após notícia da possível troca de ativos das duas petrolíferas

Petróleo

A Maha Energy, controlada pela Starboard, anunciou ontem a aquisição de 5% do capital social da 3R e propôs a troca de ativos da petroleira com a PetroReconcavo | Foto: Getty Images

A possível fusão dos campos terrestres da 3R Petroleum e da PetroReconcavo foi bem avaliada pelo mercado, apesar de algumas ressalvas sobre o valor do negócio, e teve um impacto positivo nas ações de ambas as companhias, que encerram o dia liderando os ganhos do Ibovespa.

Os papéis da PetroReconcavo avançaram 11,7%, a R$ 23, nesta quinta-feira (18), movimentando R$ 272 milhões ao longo do dia, um valor bem acima dos R$ 34,5 milhões negociados ontem (17).

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Já as ações da 3R subiram 7,6%, a R$ 29,38, com um volume financeiro de R$ 848,8 milhões, ante os R$ 115,5 milhões movimentado na quarta-feira.

A Maha Energy, controlada pela Starboard, anunciou ontem a aquisição de 5% do capital social da 3R e propôs a troca de ativos da petroleira com a PetroReconcavo. O plano, segundo a Maha, é agrupar todos os campos terrestres (onshore) debaixo de uma segunda empresa, gerando ganhos de até US$ 1 bilhão em sinergias.

De uma maneira geral, o mercado entendeu que essa possível fusão de ativos pode ser positiva para as duas companhias, funcionando tanto como um catalizador para os preços dos papéis quanto para ajudar na consolidação do mercado.

O Banco Safra avalia que o negócio proposto é positivo para os acionistas da 3R, já que o valor patrimonial considerado dos ativos onshore seria quase equivalente ao valor de mercado total atual da empresa e eles acabariam com uma participação de 50% em uma operação onshore maior e menos endividada (a empresa combinada), mantendo a participação na 3R offshore sem dívidas e a um custo virtualmente baixo.

Para analistas da XP, neste momento, não há um valor claro para sinergias que podem ser realmente geradas por essa operação, mas o banco acredita que as ações da 3R poderiam subir 29,2% com a operação, enquanto as de PetroReconcavo aumentariam 17,9%.

Já para o Citi, a união dos ativos melhora a estratégia de comercialização das duas companhias e pode reduzir custos de extração, além de reduzir as chances da Petrobras instalar uma usina de refino de gás natural na Bacia Potiguar.

A fusão de ativos também iniciaria um processo natural de consolidação no setor de petróleo e gás, ajudando as empresas a ganhar escala operacional e eficiências de custo, diz o BTG Pactual. O banco também acredita que os acionistas da 3R aceitaram a proposta de forma mais aberta, uma vez que ela reduz significativamente as necessidades de capital de curto prazo. Porém, os investidores da PetroReconcavo devem se preocupar com um possível aumento de alavancagem, considera o BTG.

O Bradesco BBI também alerta que o valor presente líquido projetado pela Maha, de US$ 48 por barril, parece exagerado, muito mais alto do que transações recentes, como a da Exxon e da Pioneer, em US$ 10 por barril. “O principal obstáculo aos termos propostos deve ser a avaliação”, afirma o banco.

Isso porque, aos olhos do Bradesco BBI, os múltiplos implícitos parecem favorecer acionistas da 3R e as discussões de ambos os lados devem ser intensas. Essa visão é compartilhada pelo UBS BB, que também considera as condições atuais ligeiramente distorcidas a favor da 3R.

Ainda assim, o UBS BB consegue ver ganhos para ambas as petroleiras. “A 3R se beneficiaria da experiência da PetroReconcavo na operação de ativos em terra há mais de 20 anos e do seu balanço robusto. Por outro lado, a PetroReconcavo depende da infraestrutura da 3R, incluída na proposta”, afirmou o UBS BB.

Entrada da Starboard no capital da 3R Petroleum pode abrir consolidação no setor

A entrada da Maha Energy, empresa sueca controlada pela Starboard, no capital da 3R Petroleum pode iniciar de vez um esperado processo de consolidação do mercado de “junior oils”, formado a partir da execução do plano de desinvestimentos da Petrobras. O movimento também é reforçado pela proposta da Maha para que a 3R busque também uma combinação de ativos com a Petroreconcavo, outra petroleira independente.

Com a suspensão da venda de ativos pela Petrobras, no governo Lula, empresas do setor passaram a considerar o crescimento por meio de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês).

Na noite da quarta-feira (17), a Maha Energy anunciou que se tornou acionista da 3R Petroleum, com a compra em bolsa de 11.999.248 ações da companhia, correspondendo a 5% de participação da companhia. Considerando o valor das ações da 3R no dia do anúncio, a fatia de 5% seria equivalente a cerca de R$ 327,6 milhões.

Maha Energy propôs à 3R troca de ativos com a Petroreconcavo

Assim que se tornou acionista, a Maha Energy propôs à 3R uma troca de ativos com a Petroreconcavo, que opera ativos em terra (onshore) e no mar (offshore), localizados na Bahia e no Rio Grande do Norte. A Maha tem como objetivo buscar sinergias operacionais e economia de custos. Estima-se um ganho com sinergias da ordem de US$ 1 bilhão.

O plano da Maha é agrupar todos os campos onshore debaixo da Petroreconcavo. Já os ativos offshore, terminais e infraestrutura associada, inclusive uma refinaria, permaneceriam com a 3R Petroleum.

Em uma eventual troca de ativos, a Petroreconcavo emitiria novas ações, que seriam repassadas aos acionistas da 3R Petroleum como pagamento.

A troca de ativos sugerida pela Maha Energy ainda depende de dois pontos para que seja concretizada: a análise e aprovação pelo conselho de administração da 3R Petroleum, e a formalização da proposta para a Petroreconcavo.

Na manhã da quinta-feira (18), a 3R informou em comunicado sobre a sugestão da Maha Energy: “A companhia analisará o conteúdo da carta e adianta que manterá sua atual estratégia de negócios, bem como manterá seus investidores e o mercado em geral devidamente informados, em linha com as melhores práticas de governança corporativa e em estrita conformidade com a legislação em vigor”.

A Petroreconcavo, por sua vez, afirmou, também pela manhã desta quinta-feira (18), que não recebeu “até o presente momento” qualquer proposta de combinação dos negócios da 3R. “(…) portanto, não há qualquer negociação em andamento neste sentido”, disse. A companhia não comenta o tema. Fontes a par do tema afirmam que a operação já está “alinhada com todos os acionistas” da 3R e da Petroreconcavo.

Na carta enviada aos conselheiros da 3R, a Maha Energy ressaltou que o mercado de ações “não aprecia adequadamente o valor intrínseco” da 3R nem da Petroreconcavo e há “enormes oportunidades” a serem capturadas em conjunto por ambas as empresas. Um dos entendimentos internos é de que as ações das duas empresas têm sido negociadas com múltiplos inferiores aos da Prio, por exemplo.

“Por esta razão, acreditamos que o mercado brasileiro está maduro para uma segunda onda de M&As, impulsionada pela otimização de carteiras de ativos, captura de sinergias e formação de players que vão liderar a indústria nos próximos anos”, disse a Maha Energy em comunicado. Segundo as fontes, uma eventual fusão futura entre 3R e Petroreconcavo resultaria também numa empresa menos alavancada e com maior geração de caixa.

Hoje, a 3R Petroleum possui nível de alavancagem, indicador que corresponde à relação entre a dívida líquida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) de 2,6 vezes no terceiro trimestre de 2023. A alavancagem da Petroreconcavo é de 0,56 vezes no terceiro trimestre de 2023.

Negócio favorece sinergias

Além disso, como a Petroreconcavo não tem infraestrutura para escoar a produção, a empresa vende a produção para a refinaria da 3R Petroleum. Logo, uma eventual fusão traria ganhos porque a nova empresa teria uma capacidade maior de produção, infraestrutura de escoamento e poder de refino, sem depender de terceiros. A Petroreconcavo está construindo uma unidade de processamento e tratamento de gás natural na Bahia, em fase final de implantação.

A própria Maha Energy deu um passo na consolidação do mercado de juniores em fevereiro do ano passado, quando concluiu a venda de 100% de participação em campos de petróleo onshore na Bahia e no Sergipe para a Petroreconcavo, por US$ 138 milhões. Ao mesmo tempo, comprou a DBO por US$ 33,1 milhões, incorporando uma participação de 15% na 3R Offshore, subsidiária da 3R Petroleum operadora dos campos offshore de Peroá, na Bacia do Espírito Santo, e Papa-Terra, na Bacia de Campos.

Para o BTG Pactual, uma fusão de ativos entre 3R e Petroreconcavo iniciaria um processo natural de consolidação. Os analistas Thiago Duarte e Henrique Pérez disseram em relatório que em um cenário de sinergias da ordem de US$ 400 milhões (mais conservador do que o projetado pela Maha Energy), as ações da 3R poderiam ter valorização de 22% e as da Petroreconcavo, de 9%.

Na visão do Bradesco BBI, a tese de fusão dos ativos entre as petroleiras faz sentido, com muitas sinergias em potencial e a criação de uma operação muito mais rigorosa e eficiente, mas os termos de um eventual acordo precisam ser refinados.

“O principal obstáculo aos termos propostos deveria ser a avaliação”, disse o analista Vicente Falanga. Para ele, o valor presente líquido projetado pela Maha Energy na proposta feita à 3R Petroleum, de US$ 48 por barril, parece “exagerado”, muito mais alto do que a de transações recentes, como a que envolveu Exxon e Pioneer, nos Estados Unidos, em US$ 10 por barril.

Do lado da XP, a visão é de que uma fusão entre as petroleiras destravaria valor aos acionistas e mostra o potencial de consolidação do setor. “Em um momento em que as ações estão subvalorizadas, acreditamos que mesmo que não vá adiante, lança luz sobre o grande potencial e as oportunidades do ativo”, disseram em relatório os analistas André Vidal e Helena Kelm. Eles crêem em uma valorização de 29,2% para as ações da 3R e de 17,9% para a Petroreconcavo. (Com Valor Econômico)

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