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“Mercado nunca voltará ao que era”, diz CEO da Latam

Em entrevista da série Cenários, Jerome Cadier diz que companhias aéreas estão se reinventando e defende o apoio governamental

Para Cadier, os passageiros corporativos, responsáveis por até 70% das receitas, vão retornar em menor volume após a pandemia

A série de entrevistas Cenários, promovida pelo Banco Safra e pelo Estadão, recebeu nesta terça-feira, 4, o CEO da Latam Brasil, Jerome Cadier.

A conversa foi conduzida pela jornalista Sonia Racy e teve transmissão ao vivo pelo YouTube (vídeo no canto superior à direita).

Na entrevista, Cadier falou sobre o período desafiador para o setor, que foi duramente impactado pelas restrições de mobilidade impostas por governos em todo o mundo para conter o avanço da pandemia de covid-19.

Ele prevê que a crise financeira – com duas frentes, ao seu ver – para as companhias aéreas será muito mais longa do que se imagina e transformará completamente o mercado.

“A gente enfrenta duas crises ao mesmo tempo. Quando o passageiro desparece, obviamente a pressão no caixa das companhias é gigante. Então, tivemos que tomar todas as medidas para que companhia possa enfrentar essa situação de menor liquidez”, disse.

“A outra crise é de longa prazo. Mesmo com o mercado retomando, ele vai ser diferente. Esse mercado nunca vai voltar ao que era antes”.

União para enfrentar o momento

O CEO da Latam relatou a união das empresas que atuam no setor para que nenhuma sucumbisse à crise causada pela pandemia.

O processo envolveu desde as companhias donas das aeronaves até os fabricantes, as quais aceitaram negociar prazos de pagamento para que houvesse condições de operação por parte das aéreas.

“O aluguel dos aviões antes da pandemia era fixo. Uma das grandes mudanças que se implementou nos últimos meses foi pagar por horas de voo. Conseguimos crescer e ajustar o tamanho da frota ao que se necessita naquele momento”, disse Cadier.

Os papel dos governos estaduais, com alguns reduzindo substancialmente o o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) dos combustíveis de aviação também foi destacado.

Mudança do mercado

Para Jerome Cadier, o mercado aéreo está sendo reinventado, com menos movimentação de passageiros corporativos, na esteira da consolidação do trabalho remoto.

“O primeiro ponto é que a gente vê desparecer o passageiro corporativo, que era responsável por 60% a 70% dos resultados das companhias em todo o mundo. O segundo é o excesso de capacidade, fazendo que a pressão por preços seja violentíssima nos próximos anos”, afirmou.

Pode ser uma imagem de ao ar livre
Post da Latam sobre o transporte de insumos para a produção de vacinas contra a covid-19 | Foto: Reprodução/Facebook

Nesse sentido, o executivo disse que o combustível brasileiro continua sendo um dos mais caros do mundo para as companhias aéreas.

Por isso, ele defende que a redução do ICMS adotada por alguns Estados seja ampliada a todas as unidades da federação, uma vez que isso será essencial para viabilizar a operação aérea de custos mais baixos.

“Mundialmente, temos que passageiros corporativos voltando em menor grau e o excesso de capacidade vão exigir custo de operação menor. Os governos podem tornar mais eficiente a operação”.

Se a retomada da economia seguir a passos firmes após o fim da pandemia, a Latam Brasil prevê que o volume de passageiros deve se normalizar entre 2022 e 2023.

Enquanto isso, as empresas buscam apoiar como podem na missão de guerra à covid-19. Até o momento, a Latam transportou mais de 25 milhões de doses de vacina pra todas as capitais brasileiras, 1.300 trabalhadores do setor de saúde e mil cilindros de oxigênio a Manaus, quando a crise pelo produto assolou a cidade.

Para Cadier, esses são exemplos de como as companhias aéreas podem ser protagonistas no desenvolvimento da sociedade, com ações sobre o meio ambiente e a inclusão social.

Outras entrevistas da série Cenários podem ser assistidas por este link, no canal do Safra.

Sobre Jerome Cadier

Está na Latam Brasil desde 2013, iniciando como CMO (chief marketing officer).

Cadier tem passagens pela consultoria McKinsey & Company e pela companhia Whirlpool. Ele também foi tenente do exército brasileiro.

Tem MBA pela Kellog School of Management da Northwestern University, dos Estados Unidos.

É formado em engenharia industrial pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).

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